segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

2025: um ano de paz para toda semente








Em raios de esperança, o ano desperta,

O calendário vira, uma nova era se abre.

Das cinzas do tempo, sonhos renascem,

Promessas sussurram, desejos fervem.

 

Promessas de mudanças, de hábitos melhores,

Na virada da noite, sob os fogos, entre os beijos.

Mas o tempo revela, na sua marcha serena,

Que a mudança verdadeira, começa na pequena.

 

Na fibra do dia a dia, no gesto que se contém,

Na paciência que se aprende, quando a ira vem.

Respeito a cada passo, ouvindo mais que falando,

E no amor ao próximo, o ser melhor, encontrando.

 

Não mais promessas, mas atos concretos,

Sementes de verdades, em solos férteis plantadas,

Respeito é a métrica dos nossos versos,

Em cada rosto, histórias diversas, enfeitadas.

 

A natureza, com seus rios e florestas,

É cuidada como mãe que nos sustenta,

Suas vozes, em nosso peito, como festas,

Reverenciamos, a ela, nossa crença.

 

Homens e mulheres, mãos dadas, entendem,

Que o direito de ser é inalienável,

E em cada coração, diferentes, acendem,

A chama do amor, o elo indissolúvel.

 

Não moldamos o outro à nossa imagem,

Mas celebramos cada ser em sua essência,

O futuro desabrocha em cada imagem,

De uma sociedade que floresce na diferença.

 

E assim, caminhamos com passos firmes,

O amanhã escrevemos com tinta verde,

Na tela do mundo, versos que afirmam,

Um futuro de paz, para toda semente.

 

Que este ano que se inicia, com sua folha em branco,

Seja um livro de virtudes, um legado franco.

Que a cada página virada, a cada dia vivido,

Haja mais compreensão, menos julgamento atrevido.

 

Para o ano ser melhor, não basta o desejar,

É nas ações que plantamos, o futuro a colher.

Sejamos sementes boas, em solo fértil de paz,

E que a luz do novo ano, em nossas almas, se faça mais.

 

Seriedade no olhar, esperança no gesto,

A união faz o tecido social florescer,

Cumprimos o dever, sem estar preso,

Ao egoísmo que faz a alma encolher.

 

Neste amanhã, onde o respeito impera,

E a empatia é a língua universal,

A humanidade, enfim, se expande e espera,

Um mundo melhor, fruto do trabalho real.

 

Feliz Ano Novo! Que seja luminoso,

Cheio de encontros, de paz e odoroso.

Que as resoluções não se percam no vento,

Mas sejam o Norte, do nosso contento.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2024

O Natal de Hitler e a música “Noite Feliz”

Historicamente, regimes totalitários têm se utilizado de símbolos nacionais, cooptado líderes e fiéis religiosos, e incorporado elementos culturais, seja de maneira isolada ou conjunta, para consolidar e garantir seus interesses supremos.

Em tempos de celebração natalina, é particularmente relevante recordar a apropriação cultural que o regime de Adolf Hitler fez de canções icônicas, como "Noite Feliz", um clássico do século XIX. Transformada em ferramenta de propaganda, essa melodia foi recontextualizada para servir à ideologia nazista, facilitando assim o controle social e a manipulação emocional das massas.

Essa prática de apropriação não se limita à música. Literatura, arte e tradições são frequentemente distorcidas por governos autoritários para criar uma conexão afetiva e ideológica com a população. "Noite Feliz", com sua emotividade e alcance universal, se prestou a ser um veículo poderoso de propaganda, ao ser associada a uma narrativa que reforçava os valores e a visão de mundo promovidos pelo Terceiro Reich.

A capacidade de um regime de deturpar elementos culturais de amplo apelo demonstra tanto a astúcia quanto a perfídia de sua estratégia de comunicação. Ao fazê-lo, esses regimes não apenas corrompem o significado original das obras, mas também buscam criar um senso de unidade e identidade nacional distorcido, que se alinha com seus próprios objetivos políticos.

Esse tipo de ação serve como um lembrete sombrio da importância de protegermos e preservarmos o verdadeiro significado dos símbolos e expressões culturais, especialmente durante épocas festivas que carregam valores de paz, amor e liberdade. É essencial que a sociedade esteja ciente e vigilante para evitar que tais elementos sejam instrumentalizados em detrimento da democracia e dos direitos humanos.

Versão nazista da música natalina:

Noite feliz, noite feliz
Todos dormem
Entre as estrelas que espalham sua luz
Apenas o Chanceler permanece em guarda
Vigiando e protegendo o futuro da Alemanha

Noite feliz, noite feliz

Adolf Hitler é a estrela da Alemanha
E nos mostra grandeza
E nos dá luz
E nos dá luz.

segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Quando um dia é muito pouco para o Natal



Bom seria se a rotina cedesse lugar,

e cada coração, em liberdade, pudesse vibrar.

Assim, a vida, em seu eterno dançar,

com novos tons, em consonância, se coloriria.

 

Ah, quão sublime se a festa se despedisse,

com almas a entoar seus hinos genuínos, sem temor.

O dia que nasceria, repleto de promessa,

na pluralidade de gestos, a paz encontraria o amor.

 

Contudo, no silêncio da noite, a ironia flutua,

entre luzes cintilantes, a hipocrisia se entrelaça.

Famílias unidas, tantas vezes, em laços de mentira,

sorrindo para câmeras, enquanto almas se desunem.

 

Papai Noel, símbolo de alegria encenada,

em embalagens vistosas, a verdade se oculta.

Consumo desenfreado, a paz é apenas bordada,

na tapeçaria de um Natal onde sinceridade se perde.

 

Coros cantam sobre amor e união,

mas olhares se desviam, evitando a conversa franca.

Presentes trocados com um sorriso de fachada,

escondem o vazio de laços quase desfeitos.

 

Árvores carregadas de enfeites e esperanças falaciosas,

decorações que ofuscam os corações desprovidos.

O espírito natalino, uma cortina de farsas,

esconde a indiferença sob mantos de luzes coloridas.

 

Votos de felicidade sem fim,

mas as palavras, despidas de convicção,

a cada "Feliz Natal", um desejo contido,

quando a verdade é um grito silenciado.

 

A comida transborda, farta na mesa,

mas a bondade que deveria alimentar, onde se esconde?

Na noite que celebra o nascimento da singeleza,

a ostentação reina, e o simples se perde, não se vê.

 

E o Menino Jesus, no seu humilde presépio,

observa a encenação com um olhar que tudo alcança.

O Natal verdadeiro é um clamor no silêncio,

sufocado pelo tilintar do material que avança.

 

Então, que o sino da meia-noite ressoe,

e com sua harmonia, traga a verdade, crua e nua.

Que a poesia do Natal não se perca,

e a sinceridade floresça, mesmo após a lua.

 

Lembremos, entre versos e reflexões,

que a mudança brota de gestos, não de ditas frases.

A verdadeira magia das festas natalinas,

está em sermos melhores, não só na noite, mas na vida.

sábado, 21 de dezembro de 2024

É gata! Sem banho.

Ao longo da minha vida, desde a infância, tive a companhia de muitos gatos, todos eles desfrutando de liberdade para explorar os arredores. Eram aventureiros por natureza e frequentemente desapareciam por até uma semana. Infelizmente, nem todos voltavam. A rotina exigia que cada um deles recebesse um banho de vez em quando, algo que eles odiavam.

Ollie, nossa gata mestiça de siamesa, foi adotada de uma ONG local aos seis meses de idade, trazendo consigo as marcas de maus-tratos sofridos. Até os dias de hoje, ela demonstra insegurança na presença de estranhos, retirando-se rapidamente. Apenas quando reconhece um rosto amigo é que ela se permite reaparecer.

Diferentemente de seus predecessores, Ollie, que está prestes a completar sete anos, não tem acesso à rua nem perambula pelos telhados. A castração foi realizada no momento adequado, assegurando-lhe uma vida mais tranquila e segura dentro de casa. Banhos com água não fazem parte de sua rotina, já que ela se mantém impecavelmente limpa e sem odores. A única manutenção necessária é a escovação diária, um compromisso do qual ela mesma nos faz lembrar, como se possuísse um relógio interno.

Aprendi que gatos saudáveis, de pelo curto e que vivem exclusivamente em ambiente doméstico, como Ollie, não necessitam de banhos, pois utilizam a textura áspera da língua para remover impurezas dos pelos e da pele. Esta higiene, que ocupa de 10 a 12 horas por dia, também proporciona uma massagem, melhora a circulação sanguínea e distribui uniformemente os óleos naturais produzidos pelas glândulas sebáceas, resultando em uma pelagem brilhante e saudável. Como se sabe, esse ritual de lambedura oferece momentos de relaxamento e alongamento. Por outro lado, gatos de pelo longo ou com condições de saúde específicas, ou que possuem liberdade para suas 'expedições' noturnas, podem precisar de banhos, de acordo com as diretrizes do veterinário.

Há pessoas que não apreciam gatos. Natural! Afinal, cada um escolhe suas preferências. Contudo, observo que muitos baseiam-se em crenças ultrapassadas e falta de informação. Para os ailurófilos, os gatos são a personificação de elegância, mistério e independência. Podem parecer interesseiros e ariscos, mas revelam-se adoráveis e simpáticos. Ágeis por natureza, demonstram uma inteligência perspicaz e uma teimosia encantadora. A principal característica é o desejo de estar no centro das atenções, sempre.


segunda-feira, 16 de dezembro de 2024

De golpe em golpe, quem enche o papo?

No mundo contemporâneo, milhões enfrentam a amarga realidade dos golpes, perpetrados por indivíduos tecnicamente astutos que exploram vulnerabilidades em tecnologia e redes sociais. Desde os menos experientes até os mais cautelosos, ninguém está imune. Fraudes via WhatsApp, telefone, SMS, e falsas ofertas de presentes, cartões de crédito, empregos e cursos são alarmantemente comuns.

No Brasil, o quadro é grave: estima-se que 25% dos cidadãos tenham sofrido perdas financeiras nos últimos doze meses, um número que não inclui os casos subnotificados. Diante dessa escalada de engodos digitais, torna-se imperiosa a adoção de uma postura vigilante, a promoção de uma educação financeira e digital e a prática de sempre verificar informações por fontes confiáveis.

Contudo, nenhum golpe iguala-se em gravidade ao golpe de estado, que atinge as entranhas da democracia nacional. Episódios como a "Noite da Agonia" no período imperial, a antecipação da "Declaração da Maioridade" para evitar a autonomia política, e a Proclamação da República, que encerrou a monarquia, são marcos sombrios.

A Revolução de 1930, bloqueando a posse de Júlio Prestes, pavimentou o caminho para Getúlio Vargas. O "Estado Novo" em 1937, sob o falso pretexto de combater o comunismo, instaurou uma ditadura. O golpe de 1964, que depôs João Goulart, iniciou uma ditadura militar que durou até 1985.

Recentemente, após as eleições de 2022, protestos com tons golpistas, apoiados por militares da reserva e grupos civis, culminaram nos lamentáveis eventos de 8 de janeiro de 2023. Essa análise histórica evidencia a intervenção recorrente das Forças Armadas na política brasileira.

É complexo conjecturar como seria o Brasil sem essas intervenções, mas observa-se que nações onde a soberania civil predominou tendem a ter desenvolvimento social e econômico mais robusto e estável. A história ensina que a verdadeira prosperidade não se sustenta na imposição de uma minoria, mas sim no respeito ao processo democrático e à vontade popular.

O Brasil ocupa a posição de décima maior economia mundial, o que sugere que a qualidade de vida da maioria de seus cidadãos poderia ser superior. Contudo, a disparidade econômica é evidente: apenas 1% dos mais abastados controla cerca de metade da riqueza do país, ao passo que 70% da população subsiste com rendimentos inferiores a dois salários-mínimos, sendo que, desse grupo, 28% se encontram abaixo do limiar da pobreza.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Entre relâmpagos e trovões, a imaginação fervilha.

Fazia tempo que Itapira não experimentava uma trovoada tão impressionante. Não consigo lembrar de um temporal com tantos trovões quanto o desta semana. Diante de tamanho espetáculo, sentei-me em um banquinho, na área coberta do meu quintal, apenas para contemplar a chuva, os relâmpagos e, sobretudo, para ouvir a sinfonia dos trovões.

Para muitos, pode parecer estranho, mas eu sempre apreciei as chuvas ruidosas. Entre todos os eventos que pontuaram minha vida, o trovão permanece exatamente como em minha infância, um velho conhecido que não muda.

Nasci e cresci na Rua do Pescador, onde, todas as tardes, após meu pai retornar do trabalho por volta das cinco horas, nós nos sentávamos na soleira do terraço de nossa casa para observar o vaivém de pessoas e veículos enquanto minha mãe preparava o jantar. Era um horário de intensa atividade. Nos dias chuvosos, aguardávamos a tempestade com expectativa, assistindo aos relâmpagos que rasgavam o céu e ouvindo os trovões. Quando estes eram prolongados e seu estrondo ia diminuindo, eu os imaginava como um enorme carroção atravessando o firmamento.

Recordo-me de um dia em que perguntei ao meu pai o que causava o trovão. Com seu talento natural de contador de histórias, ele explicou: "As nuvens ficam tão carregadas de água que, quando se chocam no céu, fazem um barulhão e, então, despejam a chuva". Curioso, questionei sobre os relâmpagos: "São os sinais de que as nuvens vão se chocar, para que a gente não leve um susto", respondeu ele.

Creio que esses momentos compartilhados com meu pai, desfrutando das chuvas de verão ao final de cada dia, moldaram minha relação de afeto com as tempestades, que perdura até os dias atuais. Eu me deleito em apreciá-las. Abandonei o uso do guarda-chuva aos meus quinze anos e, até hoje, sempre que possível, adoro caminhar sob a chuva. Talvez seja uma "esquisitice", mas para mim, é uma forma de manter viva a conexão com o passado e com as simples alegrias que ele oferecia.

Eu diria que os trovões são como vozes do céu, sussurrando lembranças antigas e ressoando melodias nostálgicas de memórias passadas, revelando uma beleza oculta naquilo que, à primeira vista, parece feio.

segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

A criança na janelinha e a justiça popular

Um incidente envolvendo um menino de quatro anos que desejava sentar-se em um assento não designado a ele gerou grande controvérsia nas redes sociais. A situação foi rejeitada pela ocupante legítima do assento, e a cena, marcada pelo choro da criança, foi registrada em vídeo e rapidamente viralizou. A criança foi rotulada de forma pejorativa, e sua mãe foi acusada de negligência. Em contrapartida, a mulher que reivindicou seu assento ganhou mais de dois milhões de seguidores, apoiando-a por defender seus direitos e destacar a necessidade de impor limites à criança.

Contudo, a questão que se coloca é se houve justiça. A história contada pelo vídeo foi fruto de uma interpretação apressada, típica das redes sociais, onde as pessoas julgam com base em informações parciais e sem um entendimento completo dos fatos.

Na verdade, a mãe, acompanhada de três filhos, um dos quais cadeirante, o filho mais novo sentou-se ao lado da avó, na janela, em um assento que não era dele. Quando a dona do assento solicitou seu lugar de volta, o menino concordou sem resistência e sentou-se ao lado da mãe, ainda na janela, manifestando seu desejo de permanecer perto da avó. No entanto, quando a aeromoça passou para checar os cintos de segurança, o garoto começou a chorar. Uma pessoa que não estava envolvida no episódio interveio, pedindo que a mulher cedesse o assento à criança. Diante da negativa, essa pessoa filmou a situação, fez comentários e pediu à filha que divulgasse o conteúdo, expondo a "insensível criatura" ao escrutínio público. O vídeo teve enorme repercussão, e os internautas, acreditando erroneamente que a mãe era a autora da filmagem e dos comentários, julgaram e condenaram. A mãe e a criança foram alvo de uma enxurrada de insultos.

O caso será levado à justiça em busca de reparação. Dependendo da atuação dos advogados, não apenas quem publicou o vídeo, mas também alguns dos que comentaram, caso sejam identificados, poderão ser responsabilizados e, se condenados, terão de pagar as indenizações correspondentes. Casos como este estão se tornando cada vez mais comuns nos tribunais.

É crucial ressaltar que postagens em redes sociais podem ser usadas como prova em processos judiciais. Comentários, compartilhamentos e até mesmo "curtidas" podem ser levados em consideração, dependendo do grau de constrangimento ou danos causados, mesmo quando o conteúdo é verdadeiro.

Esse caso, iniciado na semana passada, ainda tem um longo caminho pela frente e promete causar muitos transtornos. Ele serve de alerta sobre como a justiça popular pode ser mais arbitrária que o poder judiciário, que, ao menos, garante o direito à defesa, exige provas sólidas e trata as sentenças com mais discrição.

A ausência de um sistema legal e de um poder judiciário seria desastrosa. Os julgamentos das bruxas de Salem, baseados em testemunhos espirituais, resultaram em mortes e prisões injustas. Os linchamentos no Velho Oeste americano, sem julgamento formal, foram motivados por acusações frágeis e preconceitos. E as acusações infundadas contra judeus durante a peste negra na Idade Média levaram à perseguição e à morte, baseadas em preconceito e superstições.

Quando os procedimentos legais são ignorados ou quando as autoridades não agem conforme as normas, qualquer pessoa pode ser injustamente condenada, presa, ferida ou morta. Nem sempre a opinião pública reflete a justiça. Nem sempre a voz do povo é a voz de Deus.

Conclusão: toda e qualquer indignação tem o direito de ser expressa, sem qualquer problema, contanto que não ofenda ninguém, não cause constrangimento, não prejudique terceiros e não utilize palavras inadequadas fora de contexto. Assim, qualquer manifestação deixa de ser considerada uma livre expressão quando viola os direitos de outrem.





sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

Criança, celular e o “tomovinho”

Outro dia, enquanto perambulava por um supermercado da cidade, deparei-me com um casal e uma criança acomodada no "tomovinho" acoplado ao carrinho de compras. Utilizo o termo "tomovinho" para evocar a nostalgia da minha infância, quando a festa de maio se resumia à alegria de brincar nos pequenos carros que giravam em torno de um eixo central, onde a fantasia reinava. "Tomovinho" era como eu chamava carinhosamente o brinquedo mais cobiçado da grande festa popular itapirense.

Contudo, ao avistar a cena no supermercado, as doces recordações de outrora desvaneceram-se rapidamente, dando lugar a reflexões mais profundas. Pensei comigo mesmo: se o "tomovinho" da festa me transportava para mundos imaginários, o que não faria um carrinho tão elegante quanto aquele do supermercado, percorrendo todos os corredores, virando à esquerda e à direita, sem o limite dos escassos minutos oferecidos pelo brinquedo da festa? Que tamanho de aventura seria essa!

No entanto, a criança no carrinho não parecia estar vivendo nenhuma aventura. Estava ali, sentada, quieta, sem dar trabalho algum aos pais, o que talvez fosse a verdadeira função do "tomovinho" do supermercado. O que de fato capturava a atenção dela era um aparelho celular. Provavelmente, ela não se deliciou com a jornada, não fingiu estar ao volante, não observou as pessoas ao redor, não simulou buzinar, não permitiu que sua imaginação a conduzisse. Ao fim das compras, nem deve ter chorado ao ser retirada do carrinho, como eu chorava quando meu tempo no "tomovinho" terminava.

Refletindo sobre isso, se as crianças que são entregues aos celulares para a tranquilidade dos pais deixassem de se divertir com a imaginação ou com brincadeiras reais, talvez não fosse tão ruim, de vez em quando. No entanto, é evidente que a maioria das crianças e adolescentes está cada vez mais enfeitiçada pelas telas dos celulares, tornando-se indiferentes à vida real e expondo-se, sem perceber, a problemas comportamentais, emocionais e físicos. Estudos detalhados realizados por entidades pediátricas concluíram que o excesso de exposição ao mundo virtual pode causar dificuldades no sono, queda no rendimento escolar, problemas oculares, dores de cabeça, ansiedade e depressão, alimentação menos saudável, obesidade, sedentarismo e distúrbios de imagem.

Em novembro, a Austrália aprovou uma lei que proíbe completamente o uso de smartphones por menores de 16 anos, obrigando gigantes da tecnologia, como Meta e TikTok, a impedir o acesso de menores de idade. Um quarto dos países do mundo já possui leis que proíbem o uso de celulares nas escolas, entre eles: França, Espanha, Grécia, Dinamarca, Finlândia, Holanda, Itália, Suíça, México, Estados Unidos, Portugal, Escócia e Canadá.

No Brasil, as restrições começaram em estados como São Paulo, Rio de Janeiro, Roraima, Distrito Federal, Paraná, Rio Grande do Sul, Maranhão e Tocantins. Atualmente, tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei que visa proibir o uso de celulares ou outros dispositivos eletrônicos móveis em escolas em todo o país.

O verdadeiro desafio será limitar o acesso a esses dispositivos para menores de 16 anos fora do ambiente escolar, no cotidiano. A consequência prevista é sombria: o futuro de nossas crianças e adolescentes pode estar em risco.

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Quem merece, fica. Quem não merece, tchau!

 

Na Câmara Municipal de Itapira, está em discussão um projeto de resolução que sugere um aumento salarial de 88% para os vereadores.

É compreensível que a sociedade questione os políticos, especialmente quando eles aprovam medidas que lhes dão vantagens, algo que a maioria dos cidadãos não pode usufruir. É frequente ver políticos buscando cargos e benefícios de forma excessiva e, em alguns casos, aceitando subornos em troca de seus votos ou apoio. Imagem negativa que eles carregam há anos. Mas será que apenas criticar é suficiente, ou estamos mirando nos alvos errados?

É adequado que os vereadores recebam salários? No passado, os vereadores não eram remunerados, o que limitava a representação, pois apenas aqueles com recursos financeiros e tempo disponível podiam se candidatar. Sem remuneração, a maioria da população não tinha voz nem era atendida em suas necessidades. Portanto, a remuneração é essencial para ampliar a representatividade.

O salário dos vereadores é alto? O trabalho de um vereador não se resume às sessões legislativas. Vereadores dedicados se esforçam bastante, estando sempre à disposição da população, que muitas vezes só neles encontra apoio. Além disso, eles se dedicam a estudos legislativos e atividades de fiscalização.

Um aumento de 88% seria exagerado? Levando em consideração que o último reajuste foi em 2014 e analisando os índices de inflação e projeções, um aumento de 88% parece estar dentro de um limite razoável. Democracia tem custo.

O problema não está em questionar, mas em reclamar da maneira errada ou na hora errada. Fazemos isso há anos e nada muda. O que um político teme não é a crítica ou a prisão, mas perder a eleição e o poder. Por isso, não podemos deixar de acompanhar suas ações, principalmente nos assuntos mais importantes, como fazem os países mais desenvolvidos.

Espera-se que um vereador trabalhe em benefício da população, não apenas praticando assistencialismo. Devemos manter um olhar crítico constante.

Na eleição deste ano, Itapira reelegeu 8 dos 10 vereadores, um indicativo de alto índice de aprovação. O vereador tem um patrão: o eleitor. Se o projeto for aprovado, será um sinal de que os reeleitos acreditam ser merecedores. A palavra final é do patrão, em 2028, será o momento certo para a avaliação sobre o merecimento e decidir quem merece ficar e quem deve ser substituído. É assim que deve ser! Ou não?