Fazia tempo que Itapira não experimentava uma trovoada tão impressionante. Não consigo lembrar de um temporal com tantos trovões quanto o desta semana. Diante de tamanho espetáculo, sentei-me em um banquinho, na área coberta do meu quintal, apenas para contemplar a chuva, os relâmpagos e, sobretudo, para ouvir a sinfonia dos trovões.
Para muitos, pode parecer estranho, mas eu sempre apreciei as chuvas ruidosas. Entre todos os eventos que pontuaram minha vida, o trovão permanece exatamente como em minha infância, um velho conhecido que não muda.
Nasci e cresci na Rua do Pescador, onde, todas as tardes, após meu pai retornar do trabalho por volta das cinco horas, nós nos sentávamos na soleira do terraço de nossa casa para observar o vaivém de pessoas e veículos enquanto minha mãe preparava o jantar. Era um horário de intensa atividade. Nos dias chuvosos, aguardávamos a tempestade com expectativa, assistindo aos relâmpagos que rasgavam o céu e ouvindo os trovões. Quando estes eram prolongados e seu estrondo ia diminuindo, eu os imaginava como um enorme carroção atravessando o firmamento.
Recordo-me de um dia em que perguntei ao meu pai o que causava o trovão. Com seu talento natural de contador de histórias, ele explicou: "As nuvens ficam tão carregadas de água que, quando se chocam no céu, fazem um barulhão e, então, despejam a chuva". Curioso, questionei sobre os relâmpagos: "São os sinais de que as nuvens vão se chocar, para que a gente não leve um susto", respondeu ele.
Creio que esses momentos compartilhados com meu pai, desfrutando das chuvas de verão ao final de cada dia, moldaram minha relação de afeto com as tempestades, que perdura até os dias atuais. Eu me deleito em apreciá-las. Abandonei o uso do guarda-chuva aos meus quinze anos e, até hoje, sempre que possível, adoro caminhar sob a chuva. Talvez seja uma "esquisitice", mas para mim, é uma forma de manter viva a conexão com o passado e com as simples alegrias que ele oferecia.
Eu diria que os trovões são como
vozes do céu, sussurrando lembranças antigas e ressoando melodias nostálgicas
de memórias passadas, revelando uma beleza oculta naquilo que, à primeira
vista, parece feio.