Bom seria se a rotina cedesse lugar,
e cada coração, em liberdade,
pudesse vibrar.
Assim, a vida, em seu eterno
dançar,
com novos tons, em consonância, se
coloriria.
Ah, quão sublime se a festa se despedisse,
com almas a entoar seus hinos
genuínos, sem temor.
O dia que nasceria, repleto de
promessa,
na pluralidade de gestos, a paz
encontraria o amor.
Contudo, no silêncio da noite, a
ironia flutua,
entre luzes cintilantes, a
hipocrisia se entrelaça.
Famílias unidas, tantas vezes, em
laços de mentira,
sorrindo para câmeras, enquanto
almas se desunem.
Papai Noel, símbolo de alegria
encenada,
em embalagens vistosas, a verdade
se oculta.
Consumo desenfreado, a paz é
apenas bordada,
na tapeçaria de um Natal onde
sinceridade se perde.
Coros cantam sobre amor e união,
mas olhares se desviam, evitando a
conversa franca.
Presentes trocados com um sorriso
de fachada,
escondem o vazio de laços quase
desfeitos.
Árvores carregadas de enfeites e
esperanças falaciosas,
decorações que ofuscam os corações
desprovidos.
O espírito natalino, uma cortina
de farsas,
esconde a indiferença sob mantos
de luzes coloridas.
Votos de felicidade sem fim,
mas as palavras, despidas de
convicção,
a cada "Feliz Natal", um
desejo contido,
quando a verdade é um grito
silenciado.
A comida transborda, farta na
mesa,
mas a bondade que deveria
alimentar, onde se esconde?
Na noite que celebra o nascimento
da singeleza,
a ostentação reina, e o simples se
perde, não se vê.
E o Menino Jesus, no seu humilde
presépio,
observa a encenação com um olhar
que tudo alcança.
O Natal verdadeiro é um clamor no
silêncio,
sufocado pelo tilintar do material
que avança.
Então, que o sino da meia-noite
ressoe,
e com sua harmonia, traga a
verdade, crua e nua.
Que a poesia do Natal não se
perca,
e a sinceridade floresça, mesmo
após a lua.
Lembremos, entre versos e
reflexões,
que a mudança brota de gestos, não
de ditas frases.
A verdadeira magia das festas
natalinas,
está em sermos melhores, não só na
noite, mas na vida.