terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Seja bem-vindo, 2021!

 

Nossa! Parece que foi ontem:

Saudávamos o ano que terminava.

Glorificávamos o novo que começava.

É! Parece que foi ontem:

Esperançávamos por um ano próspero.

Torcíamos para que ele fosse súpero.

Verdade! Parece que foi ontem:

Cantávamos felizes o ano que ia nascer.

Pedíamos muito dinheiro no bolso, saúde para dar e vender.

 

Mas, um pouquinho depois de ontem:

Deparávamos com o inacreditável.

Achávamos que o desenlace era expectável.

Nem todo mundo temia.

Lutávamos contra a pandemia.

 

Dois mil e vinte:

Talvez seja um ano para ser esquecido.

Pelo sonho do dinheiro desvanecido.

Pela saúde não sobrada, pelo sofrimento fornecido.

Talvez seja um ano a ser lembrado.

Pelo aprendizado consubstanciado.

Pelo movimento solidário tonificado.

Pelo sentimento família valorizado.

 

Seja bem-vindo, ano novo tão aguardado.

Mais feliz, bendito e normalizado.

Para que se realize o que não foi finalizado.

Que tenhamos, enfim, captado:

No bolso, muito dinheiro não é preciso.

Viver é preciso.

Depois, navegar suado.


Que tenhamos um ano bom.

Nem precisa ser especial.

Basta ser normal.

 

Nino & Família


quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Será que eu sou racista?

 


Lendo ou ouvindo uns e outros, percebo que o racismo não é tão fácil de ser entendido ou assumido. Afinal, somos arraigados a uma cultura escravagista que dominou o país por trezentos e cinquenta anos. Tempo em que o negro não era visto nem como um animal irracional, mas como “uma coisa”. Uma coisa sem alma.

Passamos a ser o país do futebol e do carnaval, eventos onde os negros se destacam. Convivendo com a raça negra, nós, os brancos, raramente vemos, sentimos ou prestamos atenção às ações segregacionistas. Os negros veem, sentem e percebem. Quase sempre, engolem em seco!

A nossa história talvez não nos faça sentir racistas como deveria. A ideia de que racismo é quando queremos afastar todos os indivíduos de pele escura do nosso entorno, com olhares ou à força, é alimentada pelas narrativas vindas de países como os EUA e África do Sul quando a segregação racial não era ilegal. Perto do que acontecia lá, aqui, nos últimos tempos, sempre foi tudo maravilhoso para os negros. Pensamos!

Segundo o informativo "Desigualdades Sociais por Cor ou Raça no Brasil", divulgado no final do ano passado pelo IBGE, 55,8% da população em 2018 era negra (pretos e pardos). Entre os 10% dos brasileiros mais ricos, os brancos eram 70,6%, os negros, 27,7%. Na outra ponta, entre os 10% mais pobres, os negros eram 75,2% e os brancos, 23,7%. A grande distância entre esses números desmente qualquer discurso de que neste país as oportunidades são as mesmas para brancos e negros. O Atlas da Violência, recentemente divulgado, informa que em 2018, os negros representaram 75,7% das vítimas de homicídios. Ou seja, quase o triplo em relação aos brancos. Considerando a equivalência entre a população branca e a negra, a disparidade demostra que para matar um negro não se pensa duas vezes. É nas pesquisas sobre trabalho e renda, crime, educação e participação política que os grandes desvios são escancarados em relação ao conjunto da população. Nos demais itens, distribuição normal.

Construímos a convicção de que o problema dos negros brasileiros está na condição social, não na cor da pele, e que eles são tão vítimas quanto os brancos pobres. Negro rico é outro papo. Será?  Não faz muito tempo, um alto executivo do Bradesco passeava pela Rua Oscar Freire em São Paulo quando uma funcionária de uma loja de grife se aproximou do filho dele de oito anos, negro, distante poucos metros do pai, achando que o menino vendia coisas em frente à loja. Sem fazer perguntas, expulsou o garoto da calçada. O menino não estava sujo e muito menos usava roupas surradas. No Rio de Janeiro, um casal foi a uma concessionária BMW. O filho negro que eles adotaram se distraia num espaço apropriado para crianças, enquanto os pais avaliavam o veículo que pensavam adquirir e que não era barato. Passou um tempo, o menino se levantou, indo ao encontro dos pais foi barrado pelo gerente no meio do caminho. Sem perguntar nada, disse-lhe que ali não era lugar para ele e mandou-o que saísse da loja imediatamente. Esse menino estava limpo, cheiroso e bem vestido. Quem não se lembra dos ataques racistas sofridos por jogadores consagrados do futebol ou do caso em que um Policial Militar negro foi obrigado a tirar a roupa toda para provar que não estava roubando as duas garrafas de vinho compradas minutos antes num supermercado? E os ataques racistas sofridos por negros ricos e famosos nas redes sociais? Em todos os casos, a cor da pele despertou o processo.

Desde 1969, o Brasil é signatário da Convenção Internacional aprovada pela ONU, um ano antes, que diz que discriminação racial é “toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tenha por objeto ou resultado anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da vida pública”. Foi um avanço, mas nada foi feito para punir quem descriminava.

Na África os negros eram livres e felizes. Foram capturados, retirados das suas terras e das suas famílias, colocados em navios que ofereciam as piores condições sanitárias e de alimentação. Milhões morreram durante a viagem. Os que sobreviviam eram considerados os mais fortes e, por isso, seus valores compensavam os negros mortos jogados ao mar. No Brasil, viraram escravos. Só ganharam a liberdade por pressão internacional, mas continuaram sendo “um coiso” sem condições estruturais para viverem longe das fazendas e das casas que os escravizavam. Apenas alguns negros “de alma branca” permaneceram no mesmo trabalho. A maioria foi obrigada a buscar os cantões das cidades, dando origem às favelas, ou um abrigo nos quilombos, muitos dos quais existentes até hoje. A raça branca era considerada superior, intelectual, física e moralmente. Cresceu no seio brasileiro o preconceito e a discriminação por causa da cor da pele, sem o respaldo de medidas legais que configurassem, tais práticas, como crime racial. Só na metade do século passado é que passaram a ser consideradas como contravenção penal. Quase ninguém era punido.

Entre a abolição da escravatura e a criação de uma lei que regulasse os respingos da relação com os negros se passaram um século. Em 1989, o racismo passou a ser crime inafiançável e imprescritível, que em caso de condenação, anos de cadeia ou multa, dependendo do feito. Fazendo as contas, temos quatrocentos e cinquenta anos de discriminação racial como ação cidadã normal alimentando a cultura do racismo estrutural contra trinta anos vendo o racismo ser considerado crime. Uma diferença de 420 anos.     

Conclusão: Pelo que vi e ouvi nesses tempos sombrios, poucas são as pessoas que assumem o racismo. A maioria se coloca como não racista ou diz que não existe racismo no Brasil. Oras onde não existe racismo, não existem racistas e muitos menos desigualdade e abusos por conta da cor da pele. Essa maioria, então, bem que poderia se tornar antirracista para anular as ações dos “raros” racistas empedernidos.

Lutar contra o racismo é tarefa de uma sociedade que sonha viver em um país justo, igualitário, unido e com paz social. O racismo só deixará de existir quando os negros, em sua totalidade, sentirem que ele não mais existe. Não cabe a um branco dizer que não existe racismo no Brasil, um branco nunca sentiu o mal que ele provoca. O resto é discurso ignorante e de mau gosto.

quinta-feira, 19 de novembro de 2020

PSOL, uma novidade solitária na Câmara?

 


As eleições 2020 ofereceram uma novidade à Câmara Municipal de Itapira. A partir de janeiro de 2021 teremos um representante do PSOL para colocar a voz da esquerda no nosso parlamento. Ainda é muito cedo para cravar se essa presença será bem ou mal avaliada em outubro de 2024. Mas é possível dizer que Itapira deu mais um passo para o aperfeiçoamento democrático, retomou a representação de um dos segmentos faltantes da nossa população. A democracia só é plena quando todos os setores organizados da sociedade se fazem presentes no campo legislativo. 

A construção do Partido Socialismo e Liberdade deu-se a partir da expulsão de quatro parlamentares petistas que votaram contra a reforma da previdência em 2003, quando o Brasil tinha como presidente o fundador do PT. O PSOL foi oficializado em 2004 e desde então, um tormento para os partidos distantes dos ideais de esquerda e um incomodo para o petismo. O PSOL buscou destaque nacional lançando candidatos à presidência e governadores de alguns estados. Nas eleições municipais, priorizou as grandes cidades.

Em Itapira, o PSOL existe desde 2007. Em 2011 se fortaleceu com novas adesões. Revigorado, passou a participar mais ativamente da vida política da cidade, através dos movimentos sociais, nem sempre prestigiados pelos itapirenses. Em 2012, sentindo-se desestruturado para disputar uma eleição, com o argumento de que a ação política não se encerra no processo eleitoral, deixou de apresentar candidatos. Em 2016, veio com chapa pura: prefeito, vice e vereadores. Não fez feio, conquistou 11,48% dos votos válidos. Em 2018 arriscou uma candidatura a deputado federal, mas também foi vítima da onda anti-esquerdista.

Nesta eleição, espertamente pulou fora da polarização política local e centrou todas as forças na chapa de vereadores. Onze nomes disputaram isoladamente, usando, aparentemente, os princípios básicos do mandato coletivo, que está rivalizando no Brasil: uma campanha unificada, com emprego igualitário dos recursos disponíveis, com a mesma linguagem e cada um buscando voto na sua área de ação.  Ao que tudo indica, estratégia que deverá prevalecer na atuação do vereador pessolista eleito.

O PSOL conseguiu ocupar, nas eleições deste ano, boa parte dos espaços petistas perdidos. Cresceu nacionalmente. Na cidade de São Paulo - a cereja do bolo - foi de dois para seis vereadores e levou seu candidato a prefeito para o segundo turno. Posto que era ocupado pelo PT desde 1985, ininterruptamente. A direita brasileira que desabrochou nesta década e se fortaleceu com a vitória do atual presidente, acreditava que a esquerda era “sepulta eterna”. As eleições de 2020 mostraram que apesar de moribunda, desanimada, desencantada e desesperançada a esquerda não virou direita, buscou alternativas e parte, talvez, tenha caminhado para mais perto do centro.

A vereança conquistada pelo PSOL colocará um ingrediente novo em um plenário acostumado com dois blocos, um situacionista, outro oposicionista, e, de vez em quando, independentes claudicantes. Uma tradição que deverá ser quebrada com a inclusão de uma cadeira com forte vínculo ideológico – coisa que nem todos os vereadores compreendem muito bem o que é isso - e participação ativa do partido que garantiu o coeficiente eleitoral. Seguramente, não se alinhará incondicionalmente com o poder executivo, nem namorará firme com a base oposicionista. Será uma experiência interessante para Itapira.

Não dá para dizer que todas as bandeiras a serem levantadas pelo PSOL serão sempre os melhores caminhos para o município, mas certamente enriquecerão as discussões políticas daquela casa. Quiçá tenhamos outras novidades. Itapira merece ser muito bem representada.

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Na festa da democracia, todos devem comemorar!


Gosto de política. Quem me conhece sabe que não é de hoje. Mas tem uma parte dela que nunca me apeteceu, aquela que se vale das estratégias desqualificantes dos concorrentes. Mecanismos onde quase todos os lados fazem uso para atacar ou contra-atacar, um processo que cresce às vias das barbaridades, principalmente, durante a campanha eleitoral. Sem essa mancha, o processo eleitoral é um momento raro na vida cidadã, principalmente, o dia da eleição e da apuração dos votos.

Neste domingo, dia da votação, eu estava a caminho dela quando percebi uma Itapira diferente. Uma cidade menos movimentada para um domingo normal naquele percurso e horário costumeiro. Pensei: “Itapira deve estar refletindo sobre o quanto esse dia é importante”. No Antonio Caio, as ruas estavam menos emporcalhadas em contraste com os anos anteriores. Dentro da escola, havia organização, seriedade e obediência às orientações sanitárias.

Terminada a apuração, ao contrário das projeções oficiais e das campanhas nas redes sociais que incentivavam o não comparecimento por conta da Covid19, a taxa de abstenção subiu, mas nada muito além da tendência dos últimos anos. Os votos brancos e nulos, aqueles que rejeitam todos os candidatos, mantiveram-se nos mesmos patamares. Os eleitores deram um show: compareceram, se protegeram e cravaram as suas escolhas.

O candidato Toninho Bellini foi eleito e faz história, se torna o segundo itapirense a ocupar a cadeira de prefeito pela terceira vez. Foi uma vitória incontestável, com 54,34% dos votos válidos e conseguiu formar maioria na Câmara Municipal com 6 vereadores da base partidária, o que lhe garantirá tramitação tranquila dos projetos de sua autoria. O Dr. Newton ficou com 40,23% dos votos. Coronel Marques, 4,43% e Ferrarini, 1%.

Eleição e morte parecem se comportar da mesma maneira diante da hora fatídica. Busca-se respostas como se elas pudessem reverter o trágico acontecimento. Na eleição, os derrotados e, principalmente, os vencedores buscam eleger os culpados, os responsáveis para o tal fracasso. Confesso que acho muito esquisita a tentativa de apresentar pessoas ou fatores específicos que influenciaram os eleitores a derrotarem um concorrente com potencial de disputa. Esse não é e nunca será o melhor caminho. Trata-se de uma tentativa equivocada de desqualificar a escolha do eleitor. Por que duvidar que o eleitor deixou de escolher um, por causa de alguém ou de algum fato, quando ele pode ter feito sua escolha, simplesmente, por considerá-la como a melhor opção? Será que o eleitor brasileiro, em sua maioria, é do tipo “Maria vai com as outras”? Acho que está na hora de reconhecer que estamos evoluindo eleitoralmente. A maioria erra? Claro que erra, aqui como em qualquer parte do mundo. Na democracia o voto da maioria é sempre um acerto no dia da eleição, o concerto, quando é preciso, acontece na eleição seguinte.

Se Toninho Bellini foi o agraciado com a vontade popular, é porque a maioria acredita que ele fará um governo melhor do que os candidatos que se apresentaram. É um olhar do futuro, não do passado. Essa é a lógica do voto. Oras, à medida que a maioria tenha acertado na escolha, quem serão os beneficiados? Estamos todos no mesmo barco!

Quem nasce ou adota e finca raízes numa cidade se compromete a amá-la e a respeitá-la na alegria e na tristeza enquanto o amor por ela perdurar.  É natural que o resultado de uma eleição pode alegrar ou entristecer, momentaneamente, as torcidas.  É normal a comemoração assim como o choro, mas são comportamentos com prazo de validade. A derrota não abala as esperanças daqueles que acreditam no poder de decisão da maioria.

A torcida do grupo liderado por Totonho Munhoz, de 1976 a 2020 nas onze eleições municipais, festejou oito vezes. A torcida do grupo Toninho Bellini, três. E é muito bom comemorar uma vitória.

Nas eleições deste ano, Lula, que ainda é considerado por muitos um grande líder, não conseguiu levar o seu PT ao segundo turno na cidade de São Paulo pela primeira vez desde 1988 e nem ajudou a fazer o prefeito da cidade em que mora e é berço do PT. Em Minas Gerais, o governador Zema não conseguiu eleger um único prefeito no estado inteiro e seu partido só elegeu quatro vereadores. Bolsonaro, como Presidente do Brasil, apoiou explicitamente 59 candidatos em todo o país, 45 não foram eleitos, dois ainda dependem do segundo turno. O que essa constatação pode significar?

A força da transferência de votos das lideranças patrocinadoras pode estar enfraquecendo. Tudo leva a crer que esse processo não tem mais o mesmo impacto de tempos atrás. Com essa tendência confirmada, estaremos diante da formação de uma nova geração de eleitores e de políticos que, independentemente do vínculo com seus líderes, saberão direcionar as suas decisões e as suas escolhas. Podemos estar às portas de uma nova era. A sociedade evolui em passos lentos, com sempre foi, desde que a humanidade começou a ser organizar politicamente.

O meu gosto pela política gostaria de ver, um dia, o fim da polarização que tanto mal faz à nação como para Itapira. Ficarei feliz quando as disputas eleitorais não saírem das discussões de ideias e de projetos, onde caberá ao eleitor não só a tarefa de analisar as propostas, mas de avaliar por sua conta e risco a idoneidade dos candidatos. E que os políticos, cada qual na sua área de ação, possam trabalhar para o bem de todos os itapirenses.

Na democracia, todos devem se sentir vitoriosos. Quando o povo não ganha, não existe vencedor. Todos perdem!


Declaração de Voto

 


Não sem razão, é mania nacional crucificar os políticos brasileiros. Tudo bem, temos esse direito. Mas será que não estamos deixando de lado um fato inquestionável. O de que não existe um único político, de vereador a presidente da república, que tenha conquistado sua posição, sem o beneplácito dos eleitores? Seríamos, então, inocentes, coniventes, ignorantes, medíocres, hipócritas ou, simplesmente, sem noção da importância e responsabilidade do voto dado? Lamentavelmente, admitindo que estamos certos quanto à crucificação generalizada dos políticos, certamente nos enquadramos em pelo menos uma dessas categorias. E podemos nos considerar justos quando as críticas abarcam todos os políticos e nos colocando 100% inocentes, coniventes, ignorantes, medíocres, hipócritas e sem noção? Há exceções, não na quantidade que desejamos.  

Democracia e depuração do voto depende de nós, depende da prática, depende da continuidade, depende do tempo e da tradição. 

O voto no Brasil começou cedo, trinta e dois anos depois do Descobrimento, aqui no Estado de São Paulo, mais precisamente, a cidade de São Vicente quando ela ainda era uma capitania. O voto, naquela época, era para poucos e o que definia a condição de poder votar era a renda que o indivíduo apresentava, fato que não impedia que as falcatruas eleitorais corressem soltas. Como República, o voto deixou de ser vinculado à renda mínima, mas excluía os menores de 21 anos, as mulheres, os analfabetos, os soldados rasos, os indígenas e os integrantes do clero. Cerca de 10% da população decidia os destinos do Brasil, mas o voto continuava não sendo levado tão a sério para muita gente. As mulheres conquistaram o direito ao voto só em 1932, ano em que foi instituído, também, o voto secreto. Só em 1955 o título eleitoral ganhou foto para identificar o eleitor, fato que melhorou a qualidade das votações, mas não inibiu a ocorrência de fraudes.

Depois de várias restrições ao voto impostas pela ditadura militar, quebrando a evolução da prática eleitoral, em 1982 voltamos a eleger o governador do estado e os prefeitos dos municípios até então considerados como área de segurança nacional, entre estes, os nossos vizinhos do circuito das águas. Em 1989, reconquistamos o direito de eleger o presidente da república e abrimos espaço para os maiores de 16 anos e analfabetos. Só depois de 457 anos depois da nossa primeira experiência eleitoral alcançaríamos o status de voto universal puro. Fazendo as contas, galgamos esta posição há menos de trinta anos.

Fiz esse rápido resumo para mostrar que a nossa relação com o voto e com a escolha dos nossos dirigentes é extremamente verde quando comparada com as grandes democracias mundiais, que coincidentemente reúnem os países mais desenvolvidos. No entanto, se passamos a maior parte da nossa história convivendo com eleições fraudadas, nos últimos vinte e quatro anos, depois das urnas eletrônicas, nem uma única prova foi apresentada que pudesse macular os resultados apurados e a proclamação dos eleitos.

Por tudo isso e muito mais é que resolvi chamar a atenção daqueles que me honram com a leitura deste texto para a importância deste domingo, 15 de novembro de 2020, ao escolhermos o prefeito e os vereadores que conduzirão os destinos de Itapira no quadriênio 2021/2024. O futuro do nosso município depende dessa escolha, uma responsabilidade que é nossa, acertando ou errando.

O voto é livre e um direito. A minha escolha, por exemplo, priorizará critérios importantes para a vida da comunidade, associados à vocação política, à qualificação para o cargo, à vontade competente para dar conta do recado e entrega, daqui há quatro anos, de uma Itapira melhor para todos.   Por isso, votarei no candidato a prefeito que me parece ser o mais honesto, que tem seu histórico de vida imaculado, estrutura para bem administrar e olhos voltados para o futuro. Quem se preocupa com o futuro, cuida bem do presente. Para vereador, dentre tantas boas opções segundo as minhas avaliações, votarei em um candidato que nunca recebeu meu voto. Um cidadão que surpreendeu minhas expectativas tanto profissionais como políticas e, por acreditar, que ele estará entre os futuros líderes desta cidade, independente do seu sucesso nas urnas, este ano.

Eu nunca disse e nunca direi que o povo não sabe votar ou que o voto é sempre um ato inconsciente. Cada um vota de acordo com a sua visão de mundo e com ela a identificação com os candidatos escolhidos. É verdade que os discursos, nem sempre convergentes, muitas vezes desconexos, influenciam as nossas escolhas não tão bem pensadas. Por isso a importância da prática do voto, da incorporação histórica dos candidatos, das pessoas que os cercam em associação à nossa capacidade de pensar no sentido coletivo e a longo prazo.

Que todos tenham um bom voto neste domingo.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Totonho, ser ou não ser. Eis a questão!


Totonho Munhoz nasceu político para Itapira em 1976. Governou a cidade de 1977 a 1982. Não demorou para que a sua administração, inovadora e corajosa, se espalhasse além-fronteiras. Foi uma grande revolução. Nem o mais ferrenho opositor, de ontem ou de hoje, ousa negar-lhe os feitos. Os olhos das administrações anteriores eram voltados para os setores mais aquinhoados da cidade, como o centro e a Nova Itapira. Os bairros periféricos ficavam ao Deus dará: não tinha água tratada, esgoto coletado, ruas pavimentadas e nem energia elétrica. O déficit habitacional era estratosférico, estávamos fadados, como em outras cidades, ao surgimento de favelas se nada fosse feito. Naqueles seis anos, a cidade inteira foi pavimentada, o saneamento básico chegou a todos os cantos, obras importantes foram executadas, além da implantação do serviço municipal de saúde, ativação de projetos culturais e esportivos. Não foi coisa pouca. Era o prenuncio de uma das carreiras política mais promissoras e longevas do Brasil.

 

De Itapira, Totonho foi o único a ser eleito três vezes prefeito. Da região, foi o único a conquistar seis vezes uma cadeira como deputado Estadual; a exercer cargos como: chefe do escritório paulista da Petrobrás, subprefeito de Santo Amaro, Secretário Estadual e Ministro da Agricultura. Do Estado foi o único a ser indicado três vezes para o cargo de líder do governo, além de presidir a Assembleia Legislativa Estadual duas vezes, sacramentado por 92 dos 94 votos possíveis.

  

Nem tudo na carreira dele é ou foi um mar de rosas. À medida que esse político vindo do interior ganhava projeção e era cada vez mais requisitado por prefeitos e políticos, por aqui, em Itapira, cresciam inimigos dispostos a freá-lo a qualquer custo. Objetivo? Deixar Itapira sem o prestígio e a força política que ele conquistava a passos largos.

 

Das últimas 20 eleições no município, Totonho como candidato foi sempre o mais votado ou, quando não disputava, transferia larga margem de votos aos candidatos a prefeito e deputados apoiados por ele. Como deputado estadual sempre figurou na lista dos mais votados do Estado. Apenas nas duas eleições municipais de 2004 e 2008 os candidatos apoiados por ele foram derrotados. Um índice de aproveitamento, diriam os especialistas, de 90%.

 

É perfeitamente observável em todas eleições que ocorrem no município, que Totonho é eleito por antecipação como uma presa a ser abatida. Recebe oposição sistemática diuturnamente. A fixação dos seus opositores é tão grande que a primeira impressão é de que o troféu a ser conquistado é a derrubada da liderança política dele. Nisso, acabam perdendo o foco. Aparentam, por consequência, despreparo para assumir os postos disputados e se mostram desprovidos de projeto político consistente para o município. Talvez resida nesse ponto o baixo índice de aproveitamento deles nas disputas locais e deputados que eles tentaram apoiar.  

 

É verdade que Totonho tem sua parcela de responsabilidade ao angariar tais inimigos. À medida que galgava os degraus do sucesso, na ânsia de defender seu projeto político e defender os interesses do município, atropelava nos exageros com ações intempestivas e carregava na verborragia que lhe é peculiar. Defeitos que ele sempre reconheceu publicamente, diga se de passagem. O interessante nesse ponto é que nos últimos anos, personalidades como Trump, nos EUA, e Bolsonaro, no Brasil, valem-se exatamente dos mesmos expedientes - intempestividade e verborragia - e são considerados, entretanto, por seus apoiadores, como homens autênticos e políticos da nova cepa. E durma-se com um barulho desses!

 

Apesar das desavenças locais, há se ressaltar que esse mesmo Totonho granjeou amigos de todos os matizes, da direita à esquerda, e hoje está colocado entre os políticos brasileiros mais influentes da sua geração. É consultado todos os dias por colegas, prefeitos, governadores e pela classe política em geral. Esse atributo, que não é de hoje, vem do começo da sua carreira. Para quem não sabe, Totonho não apoiou a eleição da maioria dos governadores paulistas, mas conseguiu se sobressair e conquistar recursos graças à força política reconhecida e do seu alto poder de articulação. Talvez seja a hora de perguntar: como sustentar a demonização dele tanto pretendida pela oposição?

 

A história não admite a condicional “se”, mas considerando o histórico de 1820 a 1976 é possível imaginar o que seria de Itapira, por exemplo, sem o Hospital Municipal, sem a Avenida dos Italianos, sem os conjuntos habitacionais, sem a industrialização agressiva no terceiro mandato, sem o saneamento básico chegando em todas as casas e esgoto 100% tratado, sem as faculdades, sem a ETEC... Seguramente, não seriamos a mesma cidade. Há de se reconhecer e a história registrará, que tantas conquistas são incomuns para a maioria dos municípios.

 

A ação política de Totonho Munhoz transcende as ações dos políticos melhores aprovados do país. Um sucesso que não é por acaso, colocou a coragem à frente da covardia, não se apaixonou apenas pelas iniciativas de agrado popular, nunca desistiu de uma luta justa e necessária. Por isso, alguns querem tirá-lo de cena, querem tirá-lo de Itapira. Uma tarefa inglória!

 

O título deste texto foi inspirado na frase hamletiana “To be, or not to be, that is the question” de Shakespeare, que tudo tem a ver com a personalidade política de Totonho Munhoz. Nessa obra, Hamlet nos leva à natureza do pensar na questão da covardia e da grandeza, quando diz que ser grande não é permanecer imóvel esperando por uma grande causa, mas entrar em briga grande mesmo por uma palha. Totonho nunca escondeu sua condição humana, sempre expos suas qualidades e seus defeitos, assumiu o seu amor imensurável por Itapira e por ela move céus e terras para melhorar a vida dos itapirenses.

 

Encerro este artigo citando, em tradução livre, as primeiras linhas da cena de Hamlet onde a frase mais famosa aparece:

“Ser ou não ser, eis a questão: será mais nobre

Em nosso espírito sofrer pedras e flechas

Com que a Fortuna, enfurecida, nos alveja,

Ou insurgir-nos contra um mar de provocações

E em luta pôr-lhes fim? Morrer.. dormir: não mais.”

Ó fonte luminosa, iluminai-nos!

 

Tenho acompanhado pessoas, entre elas amigos meus, opinando sobre a supressão da velha fonte luminosa e a instalação de uma nova, no mesmo lugar.  Enquanto uns se manifestam saudosamente, outros aproveitam a oportunidade para politizar o processo. Nada errado com um, nem com o outro. É o sagrado direito à liberdade de expressão. Eis a minha colher na prosa.

Eu era criança do tempo em que a gente ia passear no jardim. Isso mesmo, o lugar onde é a nossa praça era um grande jardim, bonito por natureza. Acolhedor e orgulhado pelos itapirenses. Não existia fonte luminosa. Ainda criança, eu me lembro dos tapumes que esconderam um crime, para mim, de lesa-memória: destruição do jardim dos meus tempos de criança, em plena atividade social, era o centro das atenções e da roda de paquera nos finais de semana, homens de um lado, mulheres do outro em sentido contrário. Era um jardim vivo. Mesmo assim, nunca ouvi relatos de que o povo de Itapira tenha feito algo para evitar extinção do primoroso jardim. Será que se fosse hoje, deixaríamos aquele lindo jardim ser destruído? Eu desconfio que não!

Cresci um pouco mais, minha adolescência e juventude estão fincadas na moderna Praça Bernardino de Campos. Guardo na memória o cenário daqueles bons tempos: a praça, a banda, os bares, os clubes e a fonte luminosa. Quantas e quantas vezes não fiquei frente à frente com a velha fonte luminosa, sozinho ou com amigos ou com alguma namorada.

A graça da praça não eram os clubes, os bares, a banda e a fonte luminosa. A graça da praça isso tudo com aquele monte de gente nos finais de semana e feriados. Mesmo durante o dia, a praça era movimentadíssima. A fonte luminosa foi a última a se despedir: primeiro fomos nós na debandada, depois os cinemas, os clubes, os bares e a banda.

Quando os meus filhos eram pequenos, todos os domingos nós íamos à praça para ouvir a Banda Lira e ver a fonte luminosa funcionando. A cada dia, menos admiradores da praça, da banda e da fonte luminosa. Lembro-me da última apresentação depois de oitenta anos seguidos animando a praça com suas retretas dominicais. Também não me lembro de nenhuma manifestação significativa contra o fim das apresentações da Banda e da desativação da fonte luminosa. A praça dos encontros, finalmente, foi transformada em praça de passagem. 

Haverá quem diga que tudo isso é consequência do progresso e das mudanças na nossa sociedade. Argumentos fortes e convincentes. Infelizmente, nem sempre estamos preparados para aceitar o preço da modernidade. E esse preço é sempre alto. 

Querer trazer a velha fonte de volta, assim como ela era ou esta de nova roupagem, ou nas prosas reais ou virtuais é querer voltar ao tempo em que ter uma fonte luminosa na praça era mais importante do que saúde pública para todos ou saneamento básico ou iluminação na cidade inteira; é querer voltar a uma praça que perdeu há muito tempo o nosso agraço e que certamente continuará às moscas, daqui em diante, como nos últimos trinta e poucos anos; é querer voltar aos bons tempos, aqueles que não voltam mais. Agora é tarde!

Se existe algum legado que a velha fonte possa nos ter deixado é que a responsabilidade preservacionista é daqueles com capacidade para resistir às investidas da modernidade e de organizar os meios de manutenção. Preservar também é arcar com as despesas decorrentes. Talvez tenhamos aprendidos de que não adianta chorar pelo leite derramado e que se algo está para ser desativado e é importante para a nossa história, devemos colocar a boca no trombone antes das vias de fato. O silêncio é um atestado de anuência, de autorização, de consentimento...

Da minha parte, eu preferiria ver uma fonte bonita na nossa praça - não precisa ser uma “Fontana di Trevi” - que atendesse os requisitos básicos artísticos e sensoriais das fontes urbanas do mundo inteiro, aquelas que usam o poder das águas para nos relaxar e despertar sensações de bem-estar e refrescância. Que funcionasse o dia inteiro. Iluminação? Apenas luz branca à noite para iluminar a protagonista: a água em movimento.

A praça só tem graça com gente e com histórias.  


sexta-feira, 6 de novembro de 2020

O paradoxo de Churchill e as eleições americanas

 


 

Sempre que o assunto democracia entra na roda, a definição dada por Winston Churchill é sempre bem-vinda: "Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos." Essa frase foi dita pelo primeiro ministro britânico em 1947. Ela escancara o fato de que nenhuma forma de governar pode receber o certificado da perfeição. Nem poderia, só humanos integram todo e qualquer sistema político. Se não somos perfeitos, nenhum sistema o será.

O paradoxo de Churchill explica, de certa forma, o que vem ocorrendo no mundo nos últimos tempos, mais precisamente no embate atual que ocorre nos EUA, onde o voto é facultativo. Historicamente, o eleitor americano não dá ao ato de votar a importância devida. A maioria - seja pelas responsabilidades do presidente, no dia a dia, serem menores que as dos governadores ou por acreditarem que os votantes saberão escolher o melhor - desdenha a eleição presidencial. Em 2016, Trump foi eleito graças à estratégia adotada por ele nos chamados estados-chaves e pela apatia dos eleitores democratas. Menos da metade dos eleitores aptos decidiram o futuro da nação. A eleição de Trump permitiu que inúmeros grupos conservadores e radicais de direita, que já estavam em crescimento, se organizassem e aparecessem, dando ao presidente americano respaldo para algumas iniciativas que deixaram os democratas apáticos de cabelo em pé. Mas era tarde, o Trumpismo tomou conta dos EUA.

As apurações das eleições deste ano estão em curso. Não se sabe ainda quem será o próximo presidente, mas tudo indica que os americanos acordaram do sono dos inocentes, foram às urnas e mostraram que em democracia é possível cometer erros, mas aprenderam que ela pode consertar os erros cometidos. Se não agora, mais adiante.

Para amenizar esse despertar do povo americano e para inflar seus apoiadores, Trump vem denunciando a existência de fraudes sem ter apresentado nenhum fato concreto. Pode ser um tiro no pé. Não se questiona o valor do voto em nenhuma democracia, muito menos nos EUA onde ela impera incólume a quase 250 anos. Ao questionar fraude em uma eleição democrática não questiona apenas a honestidade dos adversários, mas ofende a história e as leis do país, acusa todos as pessoas envolvidas no processo, da votação às apurações e, sobretudo, renega a verdadeira origem e licitude dos votos dados aos concorrentes. Na prática, atitudes dos maus perdedores e não merecedores das faixas presidenciais que um dia receberão o fardo da história e o desprezo da nação.

Eleições: EUA 2 x 2 Brasil

 


Quem gosta de política, como eu, deve estar acompanhando as apurações dos votos dos EUA. Não resta a menor dúvida, um show de democracia associado a um show de dúvidas e incertezas por conta de um sistema arcaico de votação e apuração.

Melhor seria, imagino, que as apurações dos votos americanos ocorressem como no Brasil, onde há vinte e dois anos nenhuma questiúncula em relação à lisura do processo de contagem da vontade popular é significativa, sem falar na rapidez com que os resultados são apresentados. Ponto para o Brasil.

Nem tudo são flores, se conseguimos implantar um sistema eficiente de apuração dos votos, não podemos dizer o mesmo quanto à apuração dos recursos de campanha, abastecidos pelo famoso caixa dois oriundo de corrupção e de troca de favores lucrativos futuros. Ponto para os EUA.

O sistema americano, ao que parece, mantém-se anacrônico para mexer o mínimo possível com a configuração política. Apesar de eleições mais frequentes que a brasileira para as câmaras legislativas, por exemplo, o índice de renovação é baixíssimo, só aumenta quando os veteranos desistem das disputas por aposentadoria ou por problemas pessoais. No quesito renovação, o Brasil nas eleições de 2018 alcançou quase 50% na Câmara dos Deputados e 85% nas cadeiras do Senado. Ponto para o Brasil.

Nos EUA, o grosso dos gastos públicos fica com os 50 estados, por essa razão, são eles que acumulam denúncias de corrupção, quando elas aparecem. Nos últimos quatro anos, os EUA saíram da lista dos 20 primeiros países com menor percepção de corrupção, segundo o relatório anual da Transparência Internacional com sede em Berlim, mesmo assim, os escolhidos pelos americanos se mostram menos corruptos do que os escolhidos pelos brasileiros. Ponto para os EUA.

Quem sabe, um dia, a gente consegue virar esse jogo.

quinta-feira, 29 de outubro de 2020

Covid19: como é essa tal liberdade?

Tenho observado, vez por outra, pensamentos tão obtusos sobre liberdade que resolvi mergulhar no tema. Liberdade, sempre a entendi, que nada mais é do que a legítima independência de exercer a minha vontade dentro dos limites da lei, sem prejudicar a vida ou interferir na liberdade do outro, seja quem for esse outro. Liberdade é a sensação de ser livre para falar, ver, ouvir, pensar, escrever, opinar, navegar...

A Covid19 tem oferecido centenas de pontos, dantes nunca navegados, onde a palavra liberdade é acionada o tempo todo. Liberdades para aglomerar; para não usar máscara; para se medicar com remédios questionados pela ciência; para elaborar teorias lastreadas no achismo fácil ou infantil... E por aí vai. Tudo bem! Muitos desses arroubos libertários são legítimos, eles se valem do direito sagrado da livre expressão: o de opinar sobre o que bem entender, respaldado ou não, em conformidade com a moral ou não. Mas alguns desses pensamentos entram num campo perigoso e podem prejudicar incautos, coincidentemente, outras pessoas. E como fica essa tal liberdade?

Caminhemos sobre a liberdade de abrir uma discussão desenfreada e ao destempo sobre a vacinação obrigatória (ou não) da Covid19. Vale lembrar que essa vacina ainda não existe, não pode ser aplicada fora dos testes programados e, portanto, trata-se de uma discussão sobre algo que não existe e que pode até não existir, apesar de todas as torcidas. Por isso não entrarei no mérito, usarei a dita cuja para entender como fica essa tal liberdade da obrigatoriedade ou não.

Imaginemos, tempos mais tarde, que estamos com a vacina pronta para ser aplicada e que nenhuma lei - federal, estadual ou municipal - estabeleceu a vacinação compulsória, em respeito à liberdade de não aceitar ser vacinado. Tudo resolvido? Discussão acabada? Liberdade garantida?

Como qualquer campanha de vacinação, etapas seriam estabelecidas: primeiro os profissionais da saúde e os grupos de riscos; depois os profissionais que trabalham com muitas pessoas ao mesmo tempo, como os professores e carcereiros; as crianças e os que sobraram. Tecnicamente, nem todo mundo precisa ser vacinado, a imunidade de rebanho pode ser atingida a partir de 2/3 de cobertura. O que vai acontecer com os não vacinados?

A produção, distribuição e aplicação, seguindo o cronograma, levará de 12 a 24 meses. Tempo suficiente para demostrar, por exemplo, o que aconteceu com quem se vacinou e quem se recusou. Caso os vacinados tenham melhor sorte, os não vacinados poderão chamar a liberdade para tomar outra decisão. Ou não?

Os governos tomam decisões políticas e tentam, na medida do possível, não desagradar a maioria. Mas nos setores não governamentais, a natureza é outra. A liberdade também será usada em nome da conveniência. As atividades que dependem de pessoas num mesmo espaço para funcionar, como: escolas, bares, teatros, cinemas, estádios, casas de shows, rodeios, circos etc. poderão estabelecer que seus frequentadores comprovem que foram vacinados. O mesmo poderá ocorrer com o sistema de transportes (aéreo, marítimo, fluvial, férreo ou rodoviário); com os empresários em relação aos seus trabalhadores e clientes; e com os profissionais liberais (médicos, dentistas, advogados etc.) que não estarão dispostos a correr riscos.  Ou não?

Platão, que foi discípulo de Sócrates e mestre de Aristóteles pode nos ajuda a entender melhor essa tal liberdade quando descreve que liberdade é o ser humano ter a preferência de sobreviver dentro da dignidade, mesmo que ele escolha viver em conformidade com a moral ou não.

Itapirar


Como é bom Itapirar!

Itapirar?

Diriam: esse verbo não existe!

Tanto os mais letrados

E os nem tanto, também.

Como não?

Eu itapiro

Tu itapiras

Ele Itapira

Nós itapiramos

Vós itapirais

Eles itapiram

Viram?

É até regular,

Mas tem uma exceção:

Só itapirense pode conjugar.

Por nascimento ou adoção.

Eu itapiro desde que nasci

Mais de 99% do meu tempo de vida

Se em pé ou sentado não fiquei

É nela que dormi.

Aqui me criei

E avizinhei

Aqui me alfabetizei

E me profissionalizei

Aqui fiz amigos

E me diverti

Aqui me casei

E gerei descendentes

Aqui meu pais nasceram

E viveram

Aqui meus pais sepultei.



Aqui, eternamente,

De um jeito ou de outro

Ficarei

Sempre itapirando.

sábado, 11 de abril de 2020

Celebremos a liberdade!


Sabe aquela dor de dente que faz tempo que não nos incomoda e resolve dar o ar da graça? Aquele dente que sempre esteve na nossa boca e cumpria sua função de forma ordeira e pacífica, era como se não existisse. Bastava doer para receber atenção prioritária.


A liberdade, essa que nos permite ir e vir; essa que nos garante a livre expressão; essa que nos dá o poder de decidir, de escolher; essa que nos leva a seguir ou a desrespeitar leis e regras; essa que nos estimula a fazer o bem ou o mal; é mais ou menos como aquele dente que não doía.

Vivemos em um país democrático. Plenamente, não! Mas não podemos nos queixar. Nos últimos trinta anos, a liberdade nos abraça ao ponto de nem percebermos a sua extensão. Ela é quase imperceptível, sempre presente, só incomoda os transgressores quando são pegos com a boca na botija ao desrespeitarem as leis e as regras. O que eu quero dizer é que a liberdade no Brasil está tão encarnada nas nossas vidas, que nem percebemos a sua amplitude. Viver com liberdade passou a ser normal.

Desde meados do mês de março deste ano estamos com a nossa liberdade machucada. Deixamos de fazer o que sempre fizemos quando tínhamos vontade (saúde, tempo e dinheiro); muitos estão confinados em suas próprias casas; outros estão circulando exclusivamente para trabalhar ou para suprir suas necessidades básicas; uns proibidos de vender seus produtos ou serviços; todos impedidos de frequentar bares, restaurantes, shoppings etc.; com orientação sanitária para que evitemos os apertos de mãos, os abraços e os beijos. A maior punição para quem transgredir? Contagiar ou ser contagiado com o novo coronavírus.

Aquela liberdade ampla, geral e irrestrita deixou de ser ampla, geral e irrestrita. Estamos descobrindo, às duras penas, o quanto é importante gozar a liberdade que estávamos acostumados. Voltando à metáfora do dente que passou a doer, vale a pena registrar que acabar rapidamente com uma dor de dente basta tomar um analgésico e procurar um dentista, decisão depende exclusivamente pessoal. Reconquistar a liberdade é mais difícil, depende de todos e pode demorar meses ou décadas.

A Páscoa é a celebração da liberdade. Feliz Páscoa!


domingo, 5 de abril de 2020

Existe algo de bom depois do fim da pandemia?

O mundo não queria passar novamente por uma pandemia. Mas eis que um novo vírus, da família Coronaviridae, chegou abelhudo, intrometido e desconsentido para tirar a nossa vida do prumo; para mexer na nossa zona de conforto; para comprometer a economia individual, familiar, nacional e mundial; para adoecer e matar muita gente. Será que esse novo coronavírus deixará apenas destruição e tragédia? Eu acho que não!

Não será a primeira vez e nem a última que a humanidade, entre ricos e pobres, enfrenta com a vida um único inimigo. Noutras vezes, passada a tempestade, a casa foi colocada em ordem, providências foram tomadas para amenizar ataques similares futuros, o comportamento social foi mudado e evoluímos. 

Alguns pontos desse momento que poderão impactar o futuro da humanidade:

As cidades mais populosas do mundo estão respirando melhor com a redução significativa da poluição do ar. Os moradores apresentam menos problemas respiratórios. O aquecimento global deu uma trégua. Será que essa experiencia não nos levará a valorizar os cuidados para com o meio ambiente? Eu acho que sim!

Os acidentes de trânsito diminuíram sensivelmente. Sofrimentos e vidas foram poupados. Será que essa experiencia não nos fará respeitar mais as leis que regulam a circulação de veículos? Eu acho que sim!

Quem fica em casa, na prática não foge do próprio contagio, evita transmitir o vírus para os mais vulneráveis. É um passo coletivo de preocupação com o outro. Será que essa experiência não nos fará entender que a nossa vida com saúde depende da vida com saúde das outras pessoas também? Eu acho que sim!

Quem se mobiliza para afastar a fome e outras necessidades alheias desperta, com intensidade, aquele sentimento solidário que nem sempre dá as caras. Será que essa experiência não nos fará acreditar que a desigualdade social é um mal que precisa ser combatido? Eu acho que sim!

Ao priorizar os conhecimentos da ciência, em detrimento a qualquer discurso político ou de achismo irresponsável, atestamos aos estudos científicos, aos professores e à educação desde a mais tenra idade o título de prioridade máxima. Será que essa experiência não nos fará entender que ciência, política e religião não se misturam e nem precisam ser misturadas? Eu acho que sim!

Ao se informar através dos meios tradicionais, lastreados em jornalismo competente e responsável, aprendemos que nenhum país pode prescindir da imprensa livre. Será que essa experiência não nos fará ser mais seletivos na hora de buscar as informações que tanto precisamos? Eu acho que sim!

Ao perceber que na hora do aperto o que vale é a união de todos, percebemos que não devemos dar crédito aos que miram a divisão, descobrimos que apoiar ou não um governo é sempre uma posição particular e entendemos que uma cidade ou um país jamais superará seus problemas com a falta de conjunção de todos. Será que essa experiência não nos fará entender de uma vez por todas que ninguém está o tempo todo 100% certo, nem 100% errado? Eu acho que sim! 

Esse novo coronavírus nos trará muitas tristezas, diretas e indiretas, mas começo a acreditar que quando essa tempestade passar, a humanidade entrará em mais uma fase. Como nas outras vezes, para um mundo melhor. Apostar no quanto pior melhor, é um blefe que pode dar certo.