As eleições 2020 ofereceram uma
novidade à Câmara Municipal de Itapira. A partir de janeiro de 2021 teremos um
representante do PSOL para colocar a voz da esquerda no nosso parlamento. Ainda
é muito cedo para cravar se essa presença será bem ou mal avaliada em outubro
de 2024. Mas é possível dizer que Itapira deu mais um passo para o
aperfeiçoamento democrático, retomou a representação de um dos segmentos
faltantes da nossa população. A democracia só é plena quando todos os setores organizados
da sociedade se fazem presentes no campo legislativo.
A construção do Partido
Socialismo e Liberdade deu-se a partir da expulsão de quatro parlamentares
petistas que votaram contra a reforma da previdência em 2003, quando o Brasil
tinha como presidente o fundador do PT. O PSOL foi oficializado em 2004 e desde
então, um tormento para os partidos distantes dos ideais de esquerda e um incomodo
para o petismo. O PSOL buscou destaque nacional lançando candidatos à
presidência e governadores de alguns estados. Nas eleições municipais,
priorizou as grandes cidades.
Em Itapira, o PSOL existe desde
2007. Em 2011 se fortaleceu com novas adesões. Revigorado, passou a participar mais
ativamente da vida política da cidade, através dos movimentos sociais, nem
sempre prestigiados pelos itapirenses. Em 2012, sentindo-se desestruturado para
disputar uma eleição, com o argumento de que a ação política não se encerra no
processo eleitoral, deixou de apresentar candidatos. Em 2016, veio com chapa
pura: prefeito, vice e vereadores. Não fez feio, conquistou 11,48% dos votos
válidos. Em 2018 arriscou uma candidatura a deputado federal, mas também foi vítima
da onda anti-esquerdista.
Nesta eleição, espertamente pulou
fora da polarização política local e centrou todas as forças na chapa de
vereadores. Onze nomes disputaram isoladamente, usando, aparentemente, os
princípios básicos do mandato coletivo, que está rivalizando no Brasil: uma campanha
unificada, com emprego igualitário dos recursos disponíveis, com a mesma linguagem
e cada um buscando voto na sua área de ação.
Ao que tudo indica, estratégia que deverá prevalecer na atuação do
vereador pessolista eleito.
O PSOL conseguiu ocupar, nas
eleições deste ano, boa parte dos espaços petistas perdidos. Cresceu nacionalmente.
Na cidade de São Paulo - a cereja do bolo - foi de dois para seis vereadores e
levou seu candidato a prefeito para o segundo turno. Posto que era ocupado pelo
PT desde 1985, ininterruptamente. A direita brasileira que desabrochou nesta
década e se fortaleceu com a vitória do atual presidente, acreditava que a
esquerda era “sepulta eterna”. As eleições de 2020 mostraram que apesar de
moribunda, desanimada, desencantada e desesperançada a esquerda não virou
direita, buscou alternativas e parte, talvez, tenha caminhado para mais perto do
centro.
A vereança conquistada pelo PSOL
colocará um ingrediente novo em um plenário acostumado com dois blocos, um
situacionista, outro oposicionista, e, de vez em quando, independentes
claudicantes. Uma tradição que deverá ser quebrada com a inclusão de uma
cadeira com forte vínculo ideológico – coisa que nem todos os vereadores compreendem
muito bem o que é isso - e participação ativa do partido que garantiu o
coeficiente eleitoral. Seguramente, não se alinhará incondicionalmente com o
poder executivo, nem namorará firme com a base oposicionista. Será uma experiência
interessante para Itapira.
Não dá para dizer que todas as
bandeiras a serem levantadas pelo PSOL serão sempre os melhores caminhos para o
município, mas certamente enriquecerão as discussões políticas daquela casa.
Quiçá tenhamos outras novidades. Itapira merece ser muito bem representada.