quinta-feira, 19 de novembro de 2020

PSOL, uma novidade solitária na Câmara?

 


As eleições 2020 ofereceram uma novidade à Câmara Municipal de Itapira. A partir de janeiro de 2021 teremos um representante do PSOL para colocar a voz da esquerda no nosso parlamento. Ainda é muito cedo para cravar se essa presença será bem ou mal avaliada em outubro de 2024. Mas é possível dizer que Itapira deu mais um passo para o aperfeiçoamento democrático, retomou a representação de um dos segmentos faltantes da nossa população. A democracia só é plena quando todos os setores organizados da sociedade se fazem presentes no campo legislativo. 

A construção do Partido Socialismo e Liberdade deu-se a partir da expulsão de quatro parlamentares petistas que votaram contra a reforma da previdência em 2003, quando o Brasil tinha como presidente o fundador do PT. O PSOL foi oficializado em 2004 e desde então, um tormento para os partidos distantes dos ideais de esquerda e um incomodo para o petismo. O PSOL buscou destaque nacional lançando candidatos à presidência e governadores de alguns estados. Nas eleições municipais, priorizou as grandes cidades.

Em Itapira, o PSOL existe desde 2007. Em 2011 se fortaleceu com novas adesões. Revigorado, passou a participar mais ativamente da vida política da cidade, através dos movimentos sociais, nem sempre prestigiados pelos itapirenses. Em 2012, sentindo-se desestruturado para disputar uma eleição, com o argumento de que a ação política não se encerra no processo eleitoral, deixou de apresentar candidatos. Em 2016, veio com chapa pura: prefeito, vice e vereadores. Não fez feio, conquistou 11,48% dos votos válidos. Em 2018 arriscou uma candidatura a deputado federal, mas também foi vítima da onda anti-esquerdista.

Nesta eleição, espertamente pulou fora da polarização política local e centrou todas as forças na chapa de vereadores. Onze nomes disputaram isoladamente, usando, aparentemente, os princípios básicos do mandato coletivo, que está rivalizando no Brasil: uma campanha unificada, com emprego igualitário dos recursos disponíveis, com a mesma linguagem e cada um buscando voto na sua área de ação.  Ao que tudo indica, estratégia que deverá prevalecer na atuação do vereador pessolista eleito.

O PSOL conseguiu ocupar, nas eleições deste ano, boa parte dos espaços petistas perdidos. Cresceu nacionalmente. Na cidade de São Paulo - a cereja do bolo - foi de dois para seis vereadores e levou seu candidato a prefeito para o segundo turno. Posto que era ocupado pelo PT desde 1985, ininterruptamente. A direita brasileira que desabrochou nesta década e se fortaleceu com a vitória do atual presidente, acreditava que a esquerda era “sepulta eterna”. As eleições de 2020 mostraram que apesar de moribunda, desanimada, desencantada e desesperançada a esquerda não virou direita, buscou alternativas e parte, talvez, tenha caminhado para mais perto do centro.

A vereança conquistada pelo PSOL colocará um ingrediente novo em um plenário acostumado com dois blocos, um situacionista, outro oposicionista, e, de vez em quando, independentes claudicantes. Uma tradição que deverá ser quebrada com a inclusão de uma cadeira com forte vínculo ideológico – coisa que nem todos os vereadores compreendem muito bem o que é isso - e participação ativa do partido que garantiu o coeficiente eleitoral. Seguramente, não se alinhará incondicionalmente com o poder executivo, nem namorará firme com a base oposicionista. Será uma experiência interessante para Itapira.

Não dá para dizer que todas as bandeiras a serem levantadas pelo PSOL serão sempre os melhores caminhos para o município, mas certamente enriquecerão as discussões políticas daquela casa. Quiçá tenhamos outras novidades. Itapira merece ser muito bem representada.