Gosto de política. Quem me
conhece sabe que não é de hoje. Mas tem uma parte dela que nunca me apeteceu,
aquela que se vale das estratégias desqualificantes dos concorrentes.
Mecanismos onde quase todos os lados fazem uso para atacar ou contra-atacar, um
processo que cresce às vias das barbaridades, principalmente, durante a
campanha eleitoral. Sem essa mancha, o processo eleitoral é um momento raro na
vida cidadã, principalmente, o dia da eleição e da apuração dos votos.
Neste domingo, dia da votação, eu
estava a caminho dela quando percebi uma Itapira diferente. Uma cidade menos movimentada
para um domingo normal naquele percurso e horário costumeiro. Pensei: “Itapira deve
estar refletindo sobre o quanto esse dia é importante”. No Antonio Caio, as
ruas estavam menos emporcalhadas em contraste com os anos anteriores. Dentro da
escola, havia organização, seriedade e obediência às orientações sanitárias.
Terminada a apuração, ao
contrário das projeções oficiais e das campanhas nas redes sociais que
incentivavam o não comparecimento por conta da Covid19, a taxa de abstenção
subiu, mas nada muito além da tendência dos últimos anos. Os votos brancos e
nulos, aqueles que rejeitam todos os candidatos, mantiveram-se nos mesmos
patamares. Os eleitores deram um show: compareceram, se protegeram e cravaram
as suas escolhas.
O candidato Toninho Bellini foi
eleito e faz história, se torna o segundo itapirense a ocupar a cadeira de
prefeito pela terceira vez. Foi uma vitória incontestável, com 54,34% dos votos
válidos e conseguiu formar maioria na Câmara Municipal com 6 vereadores da base
partidária, o que lhe garantirá tramitação tranquila dos projetos de sua autoria.
O Dr. Newton ficou com 40,23% dos votos. Coronel Marques, 4,43% e Ferrarini,
1%.
Eleição e morte parecem se
comportar da mesma maneira diante da hora fatídica. Busca-se respostas como se
elas pudessem reverter o trágico acontecimento. Na eleição, os derrotados e,
principalmente, os vencedores buscam eleger os culpados, os responsáveis para o
tal fracasso. Confesso que acho muito esquisita a tentativa de apresentar pessoas
ou fatores específicos que influenciaram os eleitores a derrotarem um
concorrente com potencial de disputa. Esse não é e nunca será o melhor caminho.
Trata-se de uma tentativa equivocada de desqualificar a escolha do eleitor. Por
que duvidar que o eleitor deixou de escolher um, por causa de alguém ou de
algum fato, quando ele pode ter feito sua escolha, simplesmente, por considerá-la
como a melhor opção? Será que o eleitor brasileiro, em sua maioria, é do tipo
“Maria vai com as outras”? Acho que está na hora de reconhecer que estamos evoluindo
eleitoralmente. A maioria erra? Claro que erra, aqui como em qualquer parte do
mundo. Na democracia o voto da maioria é sempre um acerto no dia da eleição, o
concerto, quando é preciso, acontece na eleição seguinte.
Se Toninho Bellini foi o
agraciado com a vontade popular, é porque a maioria acredita que ele fará um governo
melhor do que os candidatos que se apresentaram. É um olhar do futuro, não do
passado. Essa é a lógica do voto. Oras, à medida que a maioria tenha acertado
na escolha, quem serão os beneficiados? Estamos todos no mesmo barco!
Quem nasce ou adota e finca
raízes numa cidade se compromete a amá-la e a respeitá-la na alegria e na
tristeza enquanto o amor por ela perdurar. É natural que o resultado de uma eleição pode
alegrar ou entristecer, momentaneamente, as torcidas. É normal a comemoração assim como o choro, mas
são comportamentos com prazo de validade. A derrota não abala as esperanças
daqueles que acreditam no poder de decisão da maioria.
A torcida do grupo liderado por
Totonho Munhoz, de 1976 a 2020 nas onze eleições municipais, festejou oito
vezes. A torcida do grupo Toninho Bellini, três. E é muito bom comemorar uma
vitória.
Nas eleições deste ano, Lula, que
ainda é considerado por muitos um grande líder, não conseguiu levar o seu PT ao
segundo turno na cidade de São Paulo pela primeira vez desde 1988 e nem ajudou a
fazer o prefeito da cidade em que mora e é berço do PT. Em Minas Gerais, o
governador Zema não conseguiu eleger um único prefeito no estado inteiro e seu
partido só elegeu quatro vereadores. Bolsonaro, como Presidente do Brasil,
apoiou explicitamente 59 candidatos em todo o país, 45 não foram eleitos, dois
ainda dependem do segundo turno. O que essa constatação pode significar?
A força da transferência de votos
das lideranças patrocinadoras pode estar enfraquecendo. Tudo leva a crer que
esse processo não tem mais o mesmo impacto de tempos atrás. Com essa tendência
confirmada, estaremos diante da formação de uma nova geração de eleitores e de
políticos que, independentemente do vínculo com seus líderes, saberão
direcionar as suas decisões e as suas escolhas. Podemos estar às portas de uma
nova era. A sociedade evolui em passos lentos, com sempre foi, desde que a
humanidade começou a ser organizar politicamente.
O meu gosto pela política
gostaria de ver, um dia, o fim da polarização que tanto mal faz à nação como
para Itapira. Ficarei feliz quando as disputas eleitorais não saírem das
discussões de ideias e de projetos, onde caberá ao eleitor não só a tarefa de
analisar as propostas, mas de avaliar por sua conta e risco a idoneidade dos
candidatos. E que os políticos, cada qual na sua área de ação, possam trabalhar
para o bem de todos os itapirenses.
Na democracia, todos devem se
sentir vitoriosos. Quando o povo não ganha, não existe vencedor. Todos perdem!