terça-feira, 17 de novembro de 2020

Na festa da democracia, todos devem comemorar!


Gosto de política. Quem me conhece sabe que não é de hoje. Mas tem uma parte dela que nunca me apeteceu, aquela que se vale das estratégias desqualificantes dos concorrentes. Mecanismos onde quase todos os lados fazem uso para atacar ou contra-atacar, um processo que cresce às vias das barbaridades, principalmente, durante a campanha eleitoral. Sem essa mancha, o processo eleitoral é um momento raro na vida cidadã, principalmente, o dia da eleição e da apuração dos votos.

Neste domingo, dia da votação, eu estava a caminho dela quando percebi uma Itapira diferente. Uma cidade menos movimentada para um domingo normal naquele percurso e horário costumeiro. Pensei: “Itapira deve estar refletindo sobre o quanto esse dia é importante”. No Antonio Caio, as ruas estavam menos emporcalhadas em contraste com os anos anteriores. Dentro da escola, havia organização, seriedade e obediência às orientações sanitárias.

Terminada a apuração, ao contrário das projeções oficiais e das campanhas nas redes sociais que incentivavam o não comparecimento por conta da Covid19, a taxa de abstenção subiu, mas nada muito além da tendência dos últimos anos. Os votos brancos e nulos, aqueles que rejeitam todos os candidatos, mantiveram-se nos mesmos patamares. Os eleitores deram um show: compareceram, se protegeram e cravaram as suas escolhas.

O candidato Toninho Bellini foi eleito e faz história, se torna o segundo itapirense a ocupar a cadeira de prefeito pela terceira vez. Foi uma vitória incontestável, com 54,34% dos votos válidos e conseguiu formar maioria na Câmara Municipal com 6 vereadores da base partidária, o que lhe garantirá tramitação tranquila dos projetos de sua autoria. O Dr. Newton ficou com 40,23% dos votos. Coronel Marques, 4,43% e Ferrarini, 1%.

Eleição e morte parecem se comportar da mesma maneira diante da hora fatídica. Busca-se respostas como se elas pudessem reverter o trágico acontecimento. Na eleição, os derrotados e, principalmente, os vencedores buscam eleger os culpados, os responsáveis para o tal fracasso. Confesso que acho muito esquisita a tentativa de apresentar pessoas ou fatores específicos que influenciaram os eleitores a derrotarem um concorrente com potencial de disputa. Esse não é e nunca será o melhor caminho. Trata-se de uma tentativa equivocada de desqualificar a escolha do eleitor. Por que duvidar que o eleitor deixou de escolher um, por causa de alguém ou de algum fato, quando ele pode ter feito sua escolha, simplesmente, por considerá-la como a melhor opção? Será que o eleitor brasileiro, em sua maioria, é do tipo “Maria vai com as outras”? Acho que está na hora de reconhecer que estamos evoluindo eleitoralmente. A maioria erra? Claro que erra, aqui como em qualquer parte do mundo. Na democracia o voto da maioria é sempre um acerto no dia da eleição, o concerto, quando é preciso, acontece na eleição seguinte.

Se Toninho Bellini foi o agraciado com a vontade popular, é porque a maioria acredita que ele fará um governo melhor do que os candidatos que se apresentaram. É um olhar do futuro, não do passado. Essa é a lógica do voto. Oras, à medida que a maioria tenha acertado na escolha, quem serão os beneficiados? Estamos todos no mesmo barco!

Quem nasce ou adota e finca raízes numa cidade se compromete a amá-la e a respeitá-la na alegria e na tristeza enquanto o amor por ela perdurar.  É natural que o resultado de uma eleição pode alegrar ou entristecer, momentaneamente, as torcidas.  É normal a comemoração assim como o choro, mas são comportamentos com prazo de validade. A derrota não abala as esperanças daqueles que acreditam no poder de decisão da maioria.

A torcida do grupo liderado por Totonho Munhoz, de 1976 a 2020 nas onze eleições municipais, festejou oito vezes. A torcida do grupo Toninho Bellini, três. E é muito bom comemorar uma vitória.

Nas eleições deste ano, Lula, que ainda é considerado por muitos um grande líder, não conseguiu levar o seu PT ao segundo turno na cidade de São Paulo pela primeira vez desde 1988 e nem ajudou a fazer o prefeito da cidade em que mora e é berço do PT. Em Minas Gerais, o governador Zema não conseguiu eleger um único prefeito no estado inteiro e seu partido só elegeu quatro vereadores. Bolsonaro, como Presidente do Brasil, apoiou explicitamente 59 candidatos em todo o país, 45 não foram eleitos, dois ainda dependem do segundo turno. O que essa constatação pode significar?

A força da transferência de votos das lideranças patrocinadoras pode estar enfraquecendo. Tudo leva a crer que esse processo não tem mais o mesmo impacto de tempos atrás. Com essa tendência confirmada, estaremos diante da formação de uma nova geração de eleitores e de políticos que, independentemente do vínculo com seus líderes, saberão direcionar as suas decisões e as suas escolhas. Podemos estar às portas de uma nova era. A sociedade evolui em passos lentos, com sempre foi, desde que a humanidade começou a ser organizar politicamente.

O meu gosto pela política gostaria de ver, um dia, o fim da polarização que tanto mal faz à nação como para Itapira. Ficarei feliz quando as disputas eleitorais não saírem das discussões de ideias e de projetos, onde caberá ao eleitor não só a tarefa de analisar as propostas, mas de avaliar por sua conta e risco a idoneidade dos candidatos. E que os políticos, cada qual na sua área de ação, possam trabalhar para o bem de todos os itapirenses.

Na democracia, todos devem se sentir vitoriosos. Quando o povo não ganha, não existe vencedor. Todos perdem!