quinta-feira, 8 de maio de 2025

Habemus Papam e haja confusão

 

Desde os últimos dias do pontificado de Francisco, tenho observado expectativas crescentes em relação ao novo Papa que o sucederá. A polarização política, característica de grupos minoritários tanto da direita quanto da esquerda, não reflete o espírito do mundo católico nem a maioria da população de seus respectivos países. Esses grupos parecem se sentir no direito de influenciar politicamente a escolha, como se a Igreja estivesse reatando laços da idade média ou do século XXII. Tal comportamento parece buscar um apoio divino, ou ao menos da Igreja Católica, para suas agendas políticas.

Ao longo de quase cinco mil anos, governos e religiosidade popular caminharam lado a lado. Contudo, essa união se desgastou diante da emergência de sociedades multiculturais, conflitos religiosos e fluxos migratórios. A neutralidade estatal tornou-se um valor cada vez mais importante. Avanços científicos, o desenvolvimento do pensamento crítico e as falhas históricas das teocracias — incluindo alianças com elites poderosas, perseguições e a prática da venda de indulgências — contribuíram significativamente para a redução da influência das igrejas no poder secular. Embora ainda existam exceções, a tendência global aponta para Estados neutros, que asseguram a liberdade religiosa. A história, em sua marcha inexorável, raramente retrocede.

Nenhuma instituição na Terra acumulou tantas experiências, viveu tantos momentos históricos, enfrentou tantos excessos e aprendeu com tantos erros quanto a Igreja Católica. Com um acervo documental vasto e sistematicamente estudado, é possível afirmar que a Santa Madre Igreja reúne um número impressionante de intelectuais dedicados, todos focados em seus propósitos e na missão de refletir sobre os rumos da fé e da humanidade.

No espectro interno da Igreja, os conservadores católicos se ancoram na tradição, comprometidos com a preservação dos ensinamentos e doutrinas centenários, orientados por uma missão espiritual e pastoral que enfatiza a caridade e a transmissão da fé, com base sólida na Bíblia e nos pronunciamentos papais e conciliares.

Por outro lado, os progressistas católicos encontram inspiração no Concílio Vaticano II e em documentos pontifícios recentes, como a Laudato Si', que aborda a ecologia social, e na defesa enfática dos pobres. Eles se engajam na promoção de políticas públicas redistributivas, são receptivos ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, e buscam reformas sociais que estejam em consonância com os valores evangélicos.

A Igreja Católica, com sua estrutura hierárquica e informativa, está atenta ao que ocorre em suas diversas dioceses ao redor do mundo. Essa capacidade de monitoramento é essencial, especialmente após ter enfrentado a perda de fiéis para denominações evangélicas e para o fenômeno dos desigrejados, o que a torna mais cautelosa em suas decisões.

Em conclusão, a eleição do Papa Leão XIV não se deu para satisfazer exclusivamente as alas progressistas ou conservadoras, mas sim para assegurar a continuidade e relevância da Igreja Católica na contemporaneidade. O desafio é conciliar as demandas de renovação com a preservação dos valores fundamentais, equilibrando-se entre a necessidade de mudança e a manutenção da identidade que define a Igreja ao longo dos séculos.

Os agostinianos, como o novo Papa, são conhecidos por buscar a verdade interior, unindo a razão e a fé, vivendo em comunhão fraterna e servindo aos outros com caridade tanto intelectual quanto prática.