quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Mas é Carnaval...

Para quem tem mais de cinquenta anos, o carnaval de outrora, aquele que pulsava com vigor e autenticidade, parece ter perdido seu brilho, restando apenas um misto de saudosismo e esforços para reavivar memórias de tempos dourados.

O carnaval, com suas raízes que se entrelaçam entre práticas pagãs e a tradição cristã de celebração antes da quaresma, é uma das mais expressivas festas populares globais. Marcado por uma explosão de música, dança, cores vibrantes e uma sensação de liberdade irrestrita, ele ainda resplandece em muitas cidades brasileiras que preservaram a cultura e a história, como o Rio de Janeiro, Salvador, Recife e Olinda, além de outras localidades menores que mantêm vivas suas tradições.

Em 2025, estima-se que mais da metade da população brasileira, cerca de 120 milhões de pessoas, se envolverá nos festejos carnavalescos. Isso contrasta com os anos 70, por exemplo, quando o número não ultrapassava 30 milhões, refletindo uma população majoritariamente rural e com acesso limitado a tais celebrações.

A transformação do carnaval é um ponto de convergência para a minha geração: a percepção de que a festa perdeu qualidade. Contudo, é natural que os interesses culturais da sociedade evoluam com o tempo. Nos anos 70, o carnaval era um evento central, uma vez que as opções de entretenimento eram mais restritas. Atualmente, ele surge quase como uma surpresa inesperada. De repente!

Antigamente, o carnaval funcionava como uma válvula de escape, um momento em que as rigidezes familiares, as tensões sociais e políticas eram temporariamente suspensas, permitindo expressões e interações que rompiam com a monotonia do cotidiano. Era um período de reinicialização, um recarregar das energias para o ano que se seguiria. Hoje, com avanços nas relações familiares, maior abertura nos relacionamentos humanos e a vivência em um ambiente democrático, esses aspectos perderam relevância no contexto carnavalesco.

A música "Noite dos Mascarados" (1967), de Chico Buarque, encapsula com precisão a essência do carnaval de antigamente: "Mas é Carnaval. Não me diga mais quem é você. Amanhã tudo volta ao normal. Deixa a festa acabar. Deixa o barco correr."