segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Amigo é coisa para se falar


Eu estava entretido com meu celular, esperava minha mulher que fazia compras, quando uma pessoa conhecida bateu na janela do meu carro. Compenetrado, levei um baita susto. Abri o vidro e ele me falou: “gosto de ler as coisas que você escreve, vou pedir para você escrever sobre os amigos e o quanto eles são importantes nas nossas vidas”. Pus-me a pensar!

Intempestivamente, mas o Dia do Amigo já passou. Pensei mais um pouco. Como não? É reconhecido que as datas comemorativas oficiais são importantes e provocam mais reflexões do que nos demais dias. Me questionei: é preciso ter um dia burocrático para refletirmos sobre o papel das mães, dos pais, dos amigos? Decididamente, não.

Eu construí amizades ao longo da vida. As principais somam quarenta, cinquenta anos. Nossos encontros aconteciam em restaurantes, churrascos, nas nossas casas, nas chácaras de recreio, nas viagens... O último deles aconteceu em uma pizzaria há 385 dias. Fomos separados pela pandemia. Nesse tempo, a gente se falava ao telefone ou por mensagens. Nos encontrávamos de vez em quando, guardando distância, cada um com sua máscara. Mas nada como estar juntos, discutindo assuntos sérios ou jogando conversa fora, trocando experiências na maior confiança, compartilhando alegrias e tristezas, comemorando as conquistas e não perdendo nenhuma oportunidade para zoar com a cara do outro.

Aos meus amigos, faço minhas as palavras de Vinicius de Moraes: “Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida”.   

Nessa pandemia muita gente perdeu parentes, amigos e conhecidos. Mais gente, ainda, teve parentes, amigos e conhecidos que sofreram ou ainda sofrem com essa doença. Tudo isso é muito triste. Assim como é triste saber que quase todo mundo ficou, de um jeito ou de outro, tanto tempo sem poder encontrar com seus amigos.

Felizmente, e assim quero crer, estamos na reta final dessa pandemia. Com a vacinação avançando, falta pouco para voltar os encontros presenciais com amigos. Andei fazendo umas contas, acho que levaremos uns três ou quatro anos para colocar a conversa em dia, festejar os aniversários não festejados, os churrascos não “churrascados”, as saideiras não tomadas. Partiremos felizes para esse sacrifício!