Eu estava entretido com meu
celular, esperava minha mulher que fazia compras, quando uma pessoa conhecida
bateu na janela do meu carro. Compenetrado, levei um baita susto. Abri o vidro
e ele me falou: “gosto de ler as coisas que você escreve, vou pedir para você
escrever sobre os amigos e o quanto eles são importantes nas nossas vidas”. Pus-me
a pensar!
Intempestivamente, mas o Dia do
Amigo já passou. Pensei mais um pouco. Como não? É reconhecido que as datas
comemorativas oficiais são importantes e provocam mais reflexões do que nos
demais dias. Me questionei: é preciso ter um dia burocrático para refletirmos sobre
o papel das mães, dos pais, dos amigos? Decididamente, não.
Eu construí amizades ao longo da
vida. As principais somam quarenta, cinquenta anos. Nossos encontros aconteciam
em restaurantes, churrascos, nas nossas casas, nas chácaras de recreio, nas viagens...
O último deles aconteceu em uma pizzaria há 385 dias. Fomos separados pela pandemia.
Nesse tempo, a gente se falava ao telefone ou por mensagens. Nos encontrávamos de
vez em quando, guardando distância, cada um com sua máscara. Mas nada como
estar juntos, discutindo assuntos sérios ou jogando conversa fora, trocando
experiências na maior confiança, compartilhando alegrias e tristezas, comemorando
as conquistas e não perdendo nenhuma oportunidade para zoar com a cara do
outro.
Aos meus amigos, faço minhas as
palavras de Vinicius de Moraes: “Muitos deles estão lendo esta crônica e não
sabem que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos. Mas é delicioso
que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure. E às
vezes, quando os procuro, noto que eles não têm noção de como me são necessários,
de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital, porque eles fazem parte do
mundo que eu, tremulamente construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela
vida”.
Nessa pandemia muita gente perdeu
parentes, amigos e conhecidos. Mais gente, ainda, teve parentes, amigos e
conhecidos que sofreram ou ainda sofrem com essa doença. Tudo isso é muito
triste. Assim como é triste saber que quase todo mundo ficou, de um jeito ou de
outro, tanto tempo sem poder encontrar com seus amigos.