Vejo muitas pessoas desencantadas
com a política. Pior do que isso é ver outras acreditando que alguém poderá aparecer
para salvar o nosso país das suas eternas amarguras, instantaneamente.
Entre os desencantados, 70% dos jovens
de 16 a 24 anos se mostraram, em uma pesquisa realizada no ano passado, não ter
nenhum interesse em participar da vida política, 85% mantém distância do movimento
estudantil, menos de 7% atuam em movimentos sociais, audiências públicas e
conselhos municipais. A quem pertence o futuro deste país?
É mais do que justificável o
crescimento do desencanto dos brasileiros pela política: nela não falta
desonestidade, nela sobra incompetência, nela há exagero na arte de mentir, nela
não há compromisso com o futuro da cidade e da nação, nela o gasto não se preocupa
com o dia seguinte e nela se contrata pessoal além da necessidade.
Não podemos nos desencantar com a
política, assim abandonamos o Brasil à sua própria sorte. Há 2350 anos, Platão,
filósofo grego, dizia: “o castigo dos bons que não fazem política é serem
governados pelos maus”. Há 250 anos Kant acreditava que a razão humana pode
definir o que é certo ou errado. Por isso, o melhor caminho é fazer o que é
certo.
Juntando os dois filósofos,
podemos até abandonar os políticos, mas jamais a política, caso contrário
estaremos contribuindo para um país cada vez pior, eternizando a pobreza, a
insegurança e a violência.
Se encantar com a política, se
envolver com a política, fazer política, não significa se apresentar como
candidato a qualquer cargo, significa estar ligado às ações políticas que
impactam a vida de todos nós, opinando, criticando, sugerindo, e, sobretudo, acompanhando
e cobrando os governantes e legisladores eleitos. É ser um povo que vive a
política além dos períodos eleitorais e, desse povo, certamente sairá, progressivamente,
políticos melhores.
Fazer política é aprender a
conversar e negociar, saber que ninguém tem a verdade absoluta do que é melhor
para todos. Saber que o importante é navegar entre os diversos interesses e
encontrar o desejo da maioria, tendo como objetivo os benefícios comuns e os recuos
necessários para o entendimento.
Devemos todos despertar para a
importância da política em nossas vidas e batalhar por melhorias coletivas, não
individuais, garimpando informações confiáveis para discutir com familiares, amigos
e conhecidos. Podemos ser melhorados participando das associações de bairro, das
organizações não governamentais, dos conselhos municipais, enfim, de qualquer entidade
que trabalhe em busca do bem comum.