domingo, 23 de outubro de 2022

Uma festa inesquecível: 50 anos de amizade

Não é novidade para ninguém o fato de que estamos vivenciando divergências com pessoas próximas motivadas pela polarização política, onde muitos colocam os candidatos acima dos amigos e parentes. Até bem pouco tempo, uma reunião para celebrar as amizades era um evento normal, nem virava notícia. Hoje, beira o surreal.   

É nesse contexto que a festa realizada na Chácara Andrea, no Bairro do Tanquinho, neste dia 8 de outubro, ganhou relevância ao reunir pessoas com a finalidade de celebrar meio século de amizade. 
A reunião começou no final da tarde sábado e se estendeu até a madrugada de domingo. Entre os amigos reunidos, muitos não se viam há tempos, como foi o caso do Paulo Pugina, radicado na capital paulista, há mais de 40 anos não mantinha contato com a turma. Durante o encontro, Pugina não se conteve, repetindo diversas vezes: “que maravilha essa festa, esse encontro, precisamos fazer isso sempre. Que tal pelo menos uma vez por mês?”.

O encontro foi organizado pelo chamado grupo raiz, formado em 1972, por Antonio Carlos Guerreio (Guega), Antonio Carlos Marcati (Carlinhos), Carlos Henrique Maciel (Surica), João Batista Bacchin,  Julio Cruz (Beba), José Humberto Marcati (Nino), José Luiz Bellini (Brito), Zoroastro Marcos Viola e Wilson Breda (ver Box) que se reunia para uma boa conversa nos bares da época, em especial, no Bar do Edifício (andar térreo do edifício da Praça Bernardino) e para curtir a boa música brasileira, nos locais onde era permitido. Na esteira do tempo, outros amigos foram agregados. O grupo foi batizado pelos próprios integrantes como “Os Paralelos do Ritmo” em alusão às paralelas que nunca se encontram, no caso, o ritmo.
“Até um bolo decorado com a frase 50 anos de amizade foi providenciado para o Parabéns a Você”, contou Bacchin.

A festa foi regada com muito chopp e comida de boteco do chef Tina. Teve música ao vivo, começando com o saxofonista Brito para recepcionar os participantes, depois o cantor Paraná, para animar a noite. Em dado momento, para relembrar as rodas de samba e as serenatas nos anos 70, os Paralelos do Rítmo se apresentaram: o cantor Wilson, com Brito na timba, Bacchin no pandeiro e Guega na caixa de fósforos.
"Essa amizade cinquentenária haverá de se projetar para a eternidade. Agradecemos a Deus." (Wilson)

O grupo raiz continuou se reunindo, nos últimos tempos passou a alimentar a ideia de ampliar os encontros, reunindo todos aqueles que participaram das cantorias nos anos 70.  Neste ano, o sonho começou a ser cristalizado no dia 4 de junho quando os primeiros passos foram alinhavados e no dia 28 de junho quando a festa foi configurada e os contatos iniciados para reunir a moçada.

O primeiro grande desafio foi levantar os nomes e os contatos, daqueles que participaram das nossas rodas de samba. Muitos buscaram outras cidades para morar e trabalhar, enquanto isso, o grupo de organização cuidava de detalhes como o serviço de buffet, contratação de música ao vivo, elaboração de um banner comemorativo para marcar a data, o grande encontro, disse Nino, um dos coordenadores.
“Emoção! Amizade é esperança, sequência de boas lembranças!” (Zoroastro)

Ao final da noite, unanimidade total. Alegria era a marca do encontro. Todos agradeceram e elogiaram a organização, pedindo que outros encontros sejam realizados para que aqueles que não puderam estar presente, possam participar do próximo. “Foi uma noite para lavar a alma. Estar ao lado de amigos, reviver os bons tempos, para mim, foi um momento abençoado.”, concluiu Carlinhos.

Nesta semana, na terça-feira, os organizadores se reuniram para avaliar a festa e marcar, atendendo pedidos, o próximo encontro para o dia 18 de fevereiro, para marcar outro grande momento desses amigos: o carnaval.

Como tudo começou?

O grupo raiz formado por Bacchin, Brito, Carlinhos, Guega, Nino, Wilson e Zoroastro começou a tomar corpo em 1972. Eram alunos colegiais do IEEESO, período noturno. Os primeiros encontros aconteceram no pátio da Escola. Depois, na Praça Bernardino de Campos, no Bar do Edifício, no Sitio do Guega, na Pizzaria Sebastião Bar, na Churrascaria Rio-Guaçu e tantos outros lugares. Em junho/72, criaram o jornal impresso da Escola, o “JOJÔ”, que circulou até novembro/73 (1973 foi o último ano). O jornal foi um verdadeiro sucesso. Registrou a vida da maioria dos alunos, a releitura é obrigatória para quem estudou naquela época (brevemente todas as edições estarão disponíveis no site do grupo).

Em setembro/72, o grupo raiz decidiu apresentar uma chapa ao Centro Cívico do IEEESO (naquela época, os grêmios estudantis eram proibidos) composta por alunos do período noturno. No dia 8 de outubro de 1972, a chapa do grupo, a nº1, foi eleita com 563 votos, contra 294 dados à segunda colocada, a chapa nº 4. Para comemorar a vitória, os eleitos se reuniram no Sebastião Bar para saborear as deliciosas e inesquecíveis pizzas (esse bar ficava na Rua José Bonifácio/Centro). Não demorou para que a música começasse a rolar. De repente, surgiu o Surica, que morava nas proximidades, com seu violão. Juntaram a fome com a vontade de comer. Foi nesse momento inesquecível que eles combinaram o próximo encontro musical, dando vida às futuras rodas de samba, que passaria a ter frequência semanal, no final das noites de sábado ou nas vésperas de feriados, nos bares onde era permitido. O Bar do Coli (Avenida Saldanha Marinho/Santa Cruz), era o mais complacente, lá aconteceu a maioria dos eventos. Das rodas de samba às serenatas foi um pulo. Zoroastro, com sua kombi, era o transportador oficial da tropa. O Nino tinha a tarefa de conversar com os donos dos bares para que eles permitissem a roda de samba. No ano seguinte, o último integrante do grupo raiz, Beba integrou o grupo.    

Vale destacar que essa moçada, durante a gestão do Centro Cívico, revolucionou a Escola no quesito participação. Com recursos próprios, instalou um sistema de som no pátio para execução de músicas nos intervalos, adquiriu novos instrumentos para a fanfarra e um novo corpo de bandeiras, todos os estados brasileiros, que passou a ser utilizado nos desfiles, a partir do 7 de setembro de 1973. “Fizemos história no Centro Cívico do IEEESO. Até então, em Itapira como maioria das cidades, era uma entidade decorativa, com poucas ações, sem grandes iniciativas”, declarou Neto Coloço, então, presidente.

“A canção “Pela Madrugada”, letra e música do nosso cantor Wilson até hoje representa o espírito da nossa turma que tinha nas madrugadas dos dias de folga o refúgio alegre da semana cansada, estudada e trabalhada”, lembrou Nino.

O Brito, conta que a cada roda de samba, novos amigos se aproximavam e apreciavam a nossa música: “em algumas ocasiões, chegamos a reunir mais de 50 amigos nos bares ou nos churrascos que organizávamos. Modéstia no lixo, onde a nossa turma estava, virava uma grande festa!” 

O Guega concluiu com chave de ouro: “o nosso grupo não se declara nostálgico, mas sim como exemplo de quem soube, como poucos, atravessar a adolescência construindo e mantendo uma amizade que vara meio século e assim vai continuar”.

Os nove integrantes do Grupo Raiz: Bacchin, Surica, Guega, Nino, Carlinhos, Brito, Wilson, Beba e Zoroastro 

 

O bolo em comemoração aos 50 anos de amizade

 

Foto oficial do encontro: Brito, Violeta, Guega, Wilson, Tião, Pugina, Genésio, Francisca, Val, Nino, Neuza, Thié, Silvia, Sirlei, Zoraia, Marisa, Claudete, Lena, Sonia, Adriana, Carlinhos, Graciela, Edna, Magali, Bacchin, Katia, Bras e Sonia. 

 

Os Paralelos do Ritmo

Abraçando o Zoroastro

Muita conversa, grandes recordações

Saudade de fazer bagunça