segunda-feira, 31 de outubro de 2022

Viva a democracia! É hora de agradecer.

Agradeço aos amigos que votaram em Bolsonaro e que se dignaram a discutir política com seriedade durante todo o processo eleitoral. O resultado deste domingo nos garante que poderemos continuar divergindo. Isso é sensacional. Viva a democracia!

Agradeço aos amigos que votaram em Lula e se alinharam comigo a maior parte do tempo. Daqui em diante, devemos nos manter vigilantes. A vitória não pode e não deve nos cegar. Não cometamos os mesmos erros dos bolsonaristas. A reconstrução deste país será difícil, mas não será impossível, já vivemos momentos piores. Precisamos apoiar as boas iniciativas e criticar os eventuais deslizes. Viva a democracia!

Em 2018, logo após a declaração da vitória de Bolsonaro, mesmo não tendo votado nele, postei que a minha torcida era para que ele fizesse um bom governo. Mesmo contrariado no meu voto, como brasileiro, não poderia querer atirar no meu próprio pé. Agora, que as urnas revelaram um novo presidente, o desejo de todos, principalmente, os que se classificam como patriotas, deve ser a favor do Brasil. Ser a favor do Brasil não significa apoio inconteste, só não pode valer-se das Fake News e da falta de verificação.  

A eleição foi apertada, é verdade, mas é assim que funciona a democracia, ora uma diferença maior, ora uma diferença menor, aqui como em qualquer país democrático do mundo. Por isso, o conceito de maioria, que usamos para todas as decisões que tomamos, inclusive no dia a adia, 50% + 1, é respeitado.

A divisão do Brasil, tão propalada em função do resultado eleitoral, não deverá ser um problema para Lula, afinal, quem entra nessa disputa deve estar preparado para enfrentar todas as diversidades e não ficar culpando o último presidente, o tempo todo, como se não soubesse da situação quando decidiu se candidatar. Além disso, é preciso considerar que muitos votos contrários foram conquistados por conta de medidas populares tomadas, principalmente, no segundo semestre. Nos próximos dias, as pesquisas começarão a mostrar redução nessa divisão.  

Em toda disputa, ganhar ou perder, faz parte do jogo. Não aceitar a derrota é característica dos maus jogadores.

Lula é o primeiro brasileiro a presidir o Brasil três vezes através do voto e Bolsonaro é o primeiro presidente a não conseguir a reeleição. Isso, certamente, a história fará suas considerações, no futuro.

Vivemos um momento histórico. A nossa democracia se fortaleceu, não apenas em função do resultado, mas diante de todas as investidas que sofreu: a sociedade resistiu; a classe política, inclusive a aliada, resistiu; as Forças Armadas resistiram e o mundo se curvou: EUA, Europa, China, Rússia, América Latina e países emergentes já reconheceram os resultados.

Viva a democracia!   




quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Quanto valerá seu voto no dia 30?

Depende. Antes da apuração, valerá um. Depois, se vencedor, poderá valer muito, talvez o caminho entre a bem-aventurança e a tragédia; se perdedor, não produzirá nenhum efeito imediato.

Os votos eleitorais são como a morte: são todos iguais. Nem mais, nem menos. Pode ser homem ou mulher; rico ou pobre; preto ou branco; morador de cidade grande ou pequena, urbano ou rural; gostar ou não gostar do governante em exercício; letrado ou analfabeto; bonito ou feio; forte ou fraco; jovem ou velho. Todos iguais.

Algumas pessoas, talvez por ignorância ou arrogância, acreditam que o voto de uns é mais valioso do que o de outros. Houve um tempo em que esse pensamento fazia sentido: os coronéis manipulavam as eleições; os patrões exigiam que seus empregados votassem nos candidatos indicados por eles; o sistema eleitoral era falho e corrompido; as fraudes eram visíveis, provadas e comprovadas. Tempo de um Brasil que patinava, atraso total.

Alguns ranços dos velhos tempos ainda dão as caras. Há quem aposte na figura do medo para vencer a consciência do eleitor. Há quem use temas desconexos de um programa de governo para ludibriar a escolha. Há quem use Deus indevidamente como cabo eleitoral. Ainda não se sabe até que ponto as estratégias, usadas na velha república, irão funcionar. É sabido que a eleição deste ano será uma verdadeira prova de fogo para a democracia e para o futuro do Brasil, qualquer que seja o resultado. Lições serão tiradas. Gostando ou não, é assim que uma sociedade evolui politicamente.  

O voto é como o átomo: é a unidade fundamental da matéria (democracia), cada qual com sua própria identidade; pode gerar reações; é minúsculo, eterno e indivisível; ora se combina, ora se desagrega; é movido por forças da natureza e pode determinar as características futuras.

Quanto valerá seu voto no dia 30?

domingo, 23 de outubro de 2022

Uma festa inesquecível: 50 anos de amizade

Não é novidade para ninguém o fato de que estamos vivenciando divergências com pessoas próximas motivadas pela polarização política, onde muitos colocam os candidatos acima dos amigos e parentes. Até bem pouco tempo, uma reunião para celebrar as amizades era um evento normal, nem virava notícia. Hoje, beira o surreal.   

É nesse contexto que a festa realizada na Chácara Andrea, no Bairro do Tanquinho, neste dia 8 de outubro, ganhou relevância ao reunir pessoas com a finalidade de celebrar meio século de amizade. 
A reunião começou no final da tarde sábado e se estendeu até a madrugada de domingo. Entre os amigos reunidos, muitos não se viam há tempos, como foi o caso do Paulo Pugina, radicado na capital paulista, há mais de 40 anos não mantinha contato com a turma. Durante o encontro, Pugina não se conteve, repetindo diversas vezes: “que maravilha essa festa, esse encontro, precisamos fazer isso sempre. Que tal pelo menos uma vez por mês?”.

O encontro foi organizado pelo chamado grupo raiz, formado em 1972, por Antonio Carlos Guerreio (Guega), Antonio Carlos Marcati (Carlinhos), Carlos Henrique Maciel (Surica), João Batista Bacchin,  Julio Cruz (Beba), José Humberto Marcati (Nino), José Luiz Bellini (Brito), Zoroastro Marcos Viola e Wilson Breda (ver Box) que se reunia para uma boa conversa nos bares da época, em especial, no Bar do Edifício (andar térreo do edifício da Praça Bernardino) e para curtir a boa música brasileira, nos locais onde era permitido. Na esteira do tempo, outros amigos foram agregados. O grupo foi batizado pelos próprios integrantes como “Os Paralelos do Ritmo” em alusão às paralelas que nunca se encontram, no caso, o ritmo.
“Até um bolo decorado com a frase 50 anos de amizade foi providenciado para o Parabéns a Você”, contou Bacchin.

A festa foi regada com muito chopp e comida de boteco do chef Tina. Teve música ao vivo, começando com o saxofonista Brito para recepcionar os participantes, depois o cantor Paraná, para animar a noite. Em dado momento, para relembrar as rodas de samba e as serenatas nos anos 70, os Paralelos do Rítmo se apresentaram: o cantor Wilson, com Brito na timba, Bacchin no pandeiro e Guega na caixa de fósforos.
"Essa amizade cinquentenária haverá de se projetar para a eternidade. Agradecemos a Deus." (Wilson)

O grupo raiz continuou se reunindo, nos últimos tempos passou a alimentar a ideia de ampliar os encontros, reunindo todos aqueles que participaram das cantorias nos anos 70.  Neste ano, o sonho começou a ser cristalizado no dia 4 de junho quando os primeiros passos foram alinhavados e no dia 28 de junho quando a festa foi configurada e os contatos iniciados para reunir a moçada.

O primeiro grande desafio foi levantar os nomes e os contatos, daqueles que participaram das nossas rodas de samba. Muitos buscaram outras cidades para morar e trabalhar, enquanto isso, o grupo de organização cuidava de detalhes como o serviço de buffet, contratação de música ao vivo, elaboração de um banner comemorativo para marcar a data, o grande encontro, disse Nino, um dos coordenadores.
“Emoção! Amizade é esperança, sequência de boas lembranças!” (Zoroastro)

Ao final da noite, unanimidade total. Alegria era a marca do encontro. Todos agradeceram e elogiaram a organização, pedindo que outros encontros sejam realizados para que aqueles que não puderam estar presente, possam participar do próximo. “Foi uma noite para lavar a alma. Estar ao lado de amigos, reviver os bons tempos, para mim, foi um momento abençoado.”, concluiu Carlinhos.

Nesta semana, na terça-feira, os organizadores se reuniram para avaliar a festa e marcar, atendendo pedidos, o próximo encontro para o dia 18 de fevereiro, para marcar outro grande momento desses amigos: o carnaval.

Como tudo começou?

O grupo raiz formado por Bacchin, Brito, Carlinhos, Guega, Nino, Wilson e Zoroastro começou a tomar corpo em 1972. Eram alunos colegiais do IEEESO, período noturno. Os primeiros encontros aconteceram no pátio da Escola. Depois, na Praça Bernardino de Campos, no Bar do Edifício, no Sitio do Guega, na Pizzaria Sebastião Bar, na Churrascaria Rio-Guaçu e tantos outros lugares. Em junho/72, criaram o jornal impresso da Escola, o “JOJÔ”, que circulou até novembro/73 (1973 foi o último ano). O jornal foi um verdadeiro sucesso. Registrou a vida da maioria dos alunos, a releitura é obrigatória para quem estudou naquela época (brevemente todas as edições estarão disponíveis no site do grupo).

Em setembro/72, o grupo raiz decidiu apresentar uma chapa ao Centro Cívico do IEEESO (naquela época, os grêmios estudantis eram proibidos) composta por alunos do período noturno. No dia 8 de outubro de 1972, a chapa do grupo, a nº1, foi eleita com 563 votos, contra 294 dados à segunda colocada, a chapa nº 4. Para comemorar a vitória, os eleitos se reuniram no Sebastião Bar para saborear as deliciosas e inesquecíveis pizzas (esse bar ficava na Rua José Bonifácio/Centro). Não demorou para que a música começasse a rolar. De repente, surgiu o Surica, que morava nas proximidades, com seu violão. Juntaram a fome com a vontade de comer. Foi nesse momento inesquecível que eles combinaram o próximo encontro musical, dando vida às futuras rodas de samba, que passaria a ter frequência semanal, no final das noites de sábado ou nas vésperas de feriados, nos bares onde era permitido. O Bar do Coli (Avenida Saldanha Marinho/Santa Cruz), era o mais complacente, lá aconteceu a maioria dos eventos. Das rodas de samba às serenatas foi um pulo. Zoroastro, com sua kombi, era o transportador oficial da tropa. O Nino tinha a tarefa de conversar com os donos dos bares para que eles permitissem a roda de samba. No ano seguinte, o último integrante do grupo raiz, Beba integrou o grupo.    

Vale destacar que essa moçada, durante a gestão do Centro Cívico, revolucionou a Escola no quesito participação. Com recursos próprios, instalou um sistema de som no pátio para execução de músicas nos intervalos, adquiriu novos instrumentos para a fanfarra e um novo corpo de bandeiras, todos os estados brasileiros, que passou a ser utilizado nos desfiles, a partir do 7 de setembro de 1973. “Fizemos história no Centro Cívico do IEEESO. Até então, em Itapira como maioria das cidades, era uma entidade decorativa, com poucas ações, sem grandes iniciativas”, declarou Neto Coloço, então, presidente.

“A canção “Pela Madrugada”, letra e música do nosso cantor Wilson até hoje representa o espírito da nossa turma que tinha nas madrugadas dos dias de folga o refúgio alegre da semana cansada, estudada e trabalhada”, lembrou Nino.

O Brito, conta que a cada roda de samba, novos amigos se aproximavam e apreciavam a nossa música: “em algumas ocasiões, chegamos a reunir mais de 50 amigos nos bares ou nos churrascos que organizávamos. Modéstia no lixo, onde a nossa turma estava, virava uma grande festa!” 

O Guega concluiu com chave de ouro: “o nosso grupo não se declara nostálgico, mas sim como exemplo de quem soube, como poucos, atravessar a adolescência construindo e mantendo uma amizade que vara meio século e assim vai continuar”.

Os nove integrantes do Grupo Raiz: Bacchin, Surica, Guega, Nino, Carlinhos, Brito, Wilson, Beba e Zoroastro 

 

O bolo em comemoração aos 50 anos de amizade

 

Foto oficial do encontro: Brito, Violeta, Guega, Wilson, Tião, Pugina, Genésio, Francisca, Val, Nino, Neuza, Thié, Silvia, Sirlei, Zoraia, Marisa, Claudete, Lena, Sonia, Adriana, Carlinhos, Graciela, Edna, Magali, Bacchin, Katia, Bras e Sonia. 

 

Os Paralelos do Ritmo

Abraçando o Zoroastro

Muita conversa, grandes recordações

Saudade de fazer bagunça




quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Quem sou eu para condenar o voto de alguém?

Decididamente, ao que parece, muita gente ainda não consegue entender a natureza do voto: a escolha deste ou daquele candidato. Eu tenho uma teoria que diz que quando não entendemos as escolhas dos outros, provavelmente, enfrentamos dificuldades para entender as nossas próprias escolhas. Por consequência, tendemos a colecionar más escolhas, não necessária e somente as eleitorais.

Tenho observado os torcedores dos dois candidatos que disputarão o segundo turno deste ano tecendo críticas desrespeitosas aos que dedicaram votos discordantes, como se estes tivessem a chave do voto perfeito ditada pelos tais críticos. Essa atitude ultrapassa o limite da torcida, que deve ser finalizada no encerramento da votação, considerando os preceitos de civilidade e de cidadania.

O máximo que podemos esperar é que a urna mostre o chamado voto consciente. Aquele que foi pensado, estudado, pesquisado e definido. Podemos esperar, também, que feita a escolha, o eleitor se disponha a acompanhar os nomes escolhidos ou aqueles que foram beneficiados com os votos dados. Como se sabe, nas eleições proporcionais, os deputados eleitos dependeram da soma dos votos dados aos candidatos do partido ou à legenda. Podemos esperar, ainda, que aqueles que votaram nos nomes majoritários não vitoriosos reconheçam o desejo da vontade popular, e, ponto final. Além dessa esperança, não podemos exigir nada mais além. Cada um vota como bem entende. Detalhe: não é esse desrespeito que fará o eleitor contrário a mudar o voto seguinte, na prática, acaba reforçando os princípios da escolha feita. A base do voto é o conjunto da obra, princípios e tarefas.  

Quando torcemos o nariz para determinados candidatos, podemos até fazer campanha contraria na tentativa de convencer as outras pessoas, mas não podemos esperar ou exigir que as escolhas alheias não fujam daquilo que entendemos ser o melhor caminho.

Quando pregamos o voto consciente, não podemos imaginar que a consciência alheia é semelhante à nossa. O máximo que podemos afirmar é que o voto inconsciente é o voto não pensado do ponto de vista coletivo, normalmente, com baixa intensidade. A maioria vota de acordo com a consciência, escolhendo candidatos que tenham visões de mundo semelhantes. Aquele que vota em candidato envolvido em corrupção, por exemplo, pode não ter acreditado nesse envolvimento ou, simplesmente, não colocar a corrupção como um problema para a vida dele; aquele que vota em candidato contrário à preservação do meio ambiente, certamente, não coloca esse tema como preocupação principal; aquele que vota em nome da religião, acredita que o religioso é seu melhor representante; aquele que vota em candidato avesso às políticas sociais, aposta que os pobres conseguem superar suas dificuldades desde que tenham força de vontade, descartando a interferência governamental como fundamental. Enfim, tantos outros exemplos poderiam ser elencados, o fato é que o voto é individual, uma vez dado, só ganha força quando a maioria seguir o mesmo caminho. Senão, é voto perdedor, que deve ser respeitado, assim como o voto vencedor. A vitória eleitoral não é individualista, é coletiva.

Ao tentar entender como é o processo de escolha do voto, reforçamos os critérios das nossas escolhas. O respeito, em qualquer situação, é essencial nos relacionamentos humanos. O desrespeitoso, mais cedo ou mais tarde, um dia entra no grupo dos não confiáveis e faltará com respeito até para os mais próximos.

Para concluir, valho-me do pensamento do filósofo Blaise Pascal: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”. Então, volto a perguntar: “quem sou eu para condenar o coração de alguém? ”

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

A pílula do dia seguinte à eleição

O dia da eleição sempre foi e sempre será, para mim, um dia de festa. Festa da democracia. É prazeroso ver as pessoas, os eleitores, caminhando em direção aos locais de votação e se colocando em fila à espera do momento de votar, quase todos com semblante revelando seriedade no voto que dará. Em cada cabeça uma sentença à espera de que a cada escolha se revele como a escolha da maioria, acreditando ser ela o melhor para o país. A festa se consagra quando ela transcorre em clima de paz, com participação e ordem, relegando à torcida o prazo final no encerramento da votação para dar aos resultados o respeito que eles merecem. Afinal, eles revelam o desejo da maioria. Isso é democracia!

Sobre as pesquisas eleitorais cabem algumas considerações sobre as divergências entre as tendências e a apuração. Primeiramente, a de considerar que nenhuma pesquisa séria se apresenta como uma bola de cristal, antecipando a vontade popular, se assim fosse, eleições seriam totalmente desnecessárias. Mas vamos lá: as principais pesquisas registradas, por exemplo, giraram entre 48% e 50% para Lula; e, entre 36% e 40% para Bolsonaro. Considerando a margem de erro, dentro da faixa, Lula poderia ter entre 46% e 52%, teve 48,43%. Bolsonaro poderia ter entre 34% e 42%, teve 43,20%. Os institutos levantaram que entre 12% e 15% dos eleitores poderiam mudar o voto diante da urna.  Os indecisos costumam distribuir os votos de acordo com as tendências já levantadas, quem tem maior probabilidade de vencer, tende a receber o maior número de votos. Nessa eleição, os números indicam, que essa migração não ocorreu conforme a tradição. Quais seriam os motivos para essa guinada?

As pesquisas não influenciam de forma significativa o resultado, se assim fosse, nunca assistiríamos às mudanças. Elas revelam a fotografia do momento e indicam a tendência. É verdade que alguns eleitores votam naqueles que estão em primeiro, mas também é verdade que outros eleitores votam no segundo colocado para impedir que os primeiros ganhem. Os institutos não conseguem capturar as migrações das intenções que ocorrem do sábado para o domingo, assim como não podem detectar com precisão os votos brancos e nulos (este ano, 4,41%; em 2018, 8,8%) e a taxa de abstenção, este ano maior em comparação a 2018, 20,95% contra 20,3%, fatores que podem alterar os prognósticos. Mesmo considerando as divergências com significância, é preciso ressaltar que elas indicaram as tendências, apontando os dois primeiros lugares no país e nos estados, entre tantos candidatos, na maioria dos casos a partir de uma amostra que variava de dois a seis mil entrevistados num universo de mais de 156 milhões.

Aliás, nenhum candidato forte deixou de contratar institutos de pesquisa para estabelecer as estratégias de campanha como: temas a serem abordados, cidades a serem visitadas, participar ou não dos debates, quais grupos sociais devem ser atacados com prioridade etc. Portanto, candidato forte não só acredita, como usa as pesquisas para tentar ganhar a eleição.

Agora vamos para o segundo turno. Será uma nova eleição. Tanto Bolsonaro como Lula não poderão repedir as mesmas estratégias do primeiro turno, precisarão se apresentar palatáveis aos que destinaram seus votos para os outros candidatos, já que um tirar voto do outro será uma tarefa mais difícil. De onde eles tirarão os subsídios? Das pesquisas que eles contratarem.

Em suma, teremos quatro semanas de emoções fortes. Aguenta coração!               

domingo, 2 de outubro de 2022

Haverá Fake News depois das eleições?

Nas eleições deste ano não estarão em jogo apenas o futuro do Brasil, mas, provavelmente, o futuro das Fake News tal qual as conhecemos. Não morrerão, mas não serão mais as mesmas.

As Fake News ganharam relevância ao adotarem temas políticos, usadas, sem parcimônia, por todos os espectros, da extrema direita à extrema esquerda, mas nenhum assunto fica fora dos seus radares. Elas não são fenômenos da modernidade, da tecnologia. Antes, eram conhecidas como: fofoca, mexerico, boato, babado, bisbilhotice, disse me disse, falatório, futrica, fuxico... A vida alheia e os assuntos polêmicos sempre estiveram na boca do povo, uns partindo de algum rastilho de verdade enveredando para o exagero ou para a mentira, outros, na total maledicência, com a finalidade de prejudicar uns e beneficiar outros. A diferença básica, nesse caminhar do tempo, é que hoje, com o auxílio das redes sociais e seus algoritmos, elas atingem mais pessoas interessadas de forma rápida e num curtíssimo espaço de tempo. Em qualquer época, paradoxalmente, as notícias falsas, por algum tempo, são mais acreditadas do que as verdadeiras. Processo explicado pela busca por informações que vão ao encontro das crenças, de qualquer natureza, das pessoas que descartam toda e qualquer ideia que as contrariem. Para esses, o importante não é necessariamente a verdade, mas a sincronização com as suas visões de mundo, nem sempre ética e muito menos recheadas de informações fundamentadas.

As Fake News versam de tudo: das receitas caseiras, às teorias da conspiração; das montagens criminosas, às informações desencontradas; da vida das celebridades às inspirações negacionistas; enfim, tudo que poderá provocar interesse e adesão. Antigamente, os boateiros eram considerados como gente que não tinha mais nada o que fazer na vida. Hoje, os principais agentes de Fake News são: os criadores de conteúdo que ganham muito dinheiro nas redes sociais e sites, às custas da incredulidade ou da falta de conhecimento; os defensores de causas políticas por convicção ou contratados para tais finalidades; os humoristas que usam a mentira e a sátira como profissão ou sobrevivência; e, também, aqueles que não tem outra coisa para fazer na vida. Em suma, a maioria dos fofoqueiros da atualidade fizeram da mentira um meio para ganhar dinheiro ou para levar a obscuridade aos incautos. Depois da enorme visibilidade proporcionada pela internet, além de prejudicar pessoas comuns atingidas, as de cunho político passaram a influenciar o futuro de diversas nações, assim como ocorreu na Itália, Reino Unido, EUA e Brasil. Será que elas manterão esse mesmo status?

As Fake News, segundo estudos, continuarão gozando de audiência com redução gradativa da influência que exercem. A prática está fazendo com que o público aprenda a lidar com elas, estabelecendo os limites de veracidade e de influência. À medida que o tempo passa, a mentira sucumbe e a verdade se revela, tal qual as famosas fofocas que caíram na vala do descrédito para a maioria.

Das Fake News que assolaram o país nos últimos tempos, muitas já caíram em desgraça: as que diziam que a Terra era plana; as que afirmavam que a pandemia da Covid seria debelada rápida e naturalmente, sem qualquer perigo para as pessoas; as campanhas negacionistas em geral. Outras estão no caminho do esquecimento, como as que indicam que as urnas poderão fraudar os resultados ou as que colocam pesquisas falseadas ou inventadas, tão logo as urnas mostrarem os resultados reais dentro das tendências apontadas pelos principais institutos.

A produção de fatos mentirosos ou modificados para atender interesses escusos, os boatos, faz parte da história da humanidade e assim continuarão, como divertimento. A boa notícia é que a cada dia as Fake News terão reduzidas as suas capacidades de influenciar as pessoas. Como tudo nessa vida, a evolução da inteligência e a busca pela informação confiável fazem parte do processo natural.