terça-feira, 29 de julho de 2025

Lixo na rua, saúde ameaçada!


Após ler e reler o item principal da Nota Oficial sobre a coleta de lixo — publicada pela Prefeitura na semana passada —, fiquei perplexo. Como é possível?

Transcrevo o trecho em questão: "Dos quatro caminhões da empresa atualmente responsável pelo serviço, apenas dois estão em funcionamento. Os demais estão parados devido a problemas mecânicos, sem previsão de retorno pela contratada."

Será que a empresa contratada possui apenas quatro caminhões? Como foi aprovada em um contrato público nessas condições?

Ninguém exigiu um plano para situações de pane mecânica?

O que significa "sem previsão de retorno"? Não há oficinas em Itapira capazes de fornecer um prazo mínimo?

Por que a Prefeitura permite que a empresa trate o município com tamanho descaso, sem penalidades ou soluções ágeis?

Quem elaborou e aprovou esse contrato?

O pior! Essa mesma empresa — ou seus responsáveis sob outra razão social —  pode voltar a prestar serviços na cidade (ou em outras), com a conivência da administração municipal, repetindo os mesmos erros. O que está por trás disso?

Falhas constantes, caminhões quebrados, sem perspectiva de conserto, escancaram incompetências gritantes. Como evitar que novos contratos perpetuem esse ciclo? Quem poderá nos defender?

A coleta de lixo é um serviço essencial de saúde pública. Sua falha: atrai vetores de doenças (ratos, mosquitos); contamina solo, água e ar; coloca em risco a saúde dos coletores e deixa a cidade com aparência negligenciada — suja, malcheirosa e abandonada.

Até quando Itapira tratará o lixo como um problema qualquer?



segunda-feira, 2 de junho de 2025

Para muitos nonnos e nonnas: uma bela duma banana!


Entre 1870 e 1920, um êxodo silencioso marcou a história de dois países: 1,5 milhão de italianos cruzaram o Atlântico, desembarcando principalmente em São Paulo (60%), Rio Grande do Sul, Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná. Hoje, um terço dos brasileiros carrega DNA italiano. Em Itapira, estima-se, quase dois terços.

O governo italiano aprovou uma lei que restringe o acesso à cidadania “iure sanguinis” (direito de sangue), alegando "segurança nacional" e um suposto "fluxo descontrolado" de pedidos. A medida, sujeita a desafios judiciais, cortou o elo de milhões de descendentes com suas raízes.

É irônico: os mesmos italianos que fugiram da fome no século XIX agora têm seus netos e bisnetos barrados por burocracia. Seus sonhos de retorno – adiados pela pobreza, mas nunca abandonados – são hoje negados com um carimbo.

Até 1991, eu mal conhecia minha herança italiana. Foi a Festa dos 100 Anos da Família Marcati que desenterrou a saga de Bonifácio e Santa, seus filhos, suas lutas... Três anos mais tarde, com ajuda de um amigo italiano, reconectei os fios da memória.

Buscar a cidadania foi mais que um trâmite: foi reativar registros empoeirados, parados desde 1892 com a anotação "Emigrato in Brasile". Para nós, esse processo é a única forma de recolocar os avós, muitas vezes esquecidos, na linha do tempo.

Entende-se a necessidade de combater fraudes, mas alterar o princípio constitucional do ius sanguinis é cuspir na história. Quem já possui a cidadania italiana, nada muda. No entanto, para quem ainda não requereu, o caminho poderá ser muito espinhoso, com grande chance de ser negado. Os italianos que aqui chegaram não vieram por turismo – vieram para sobreviver. O Brasil os acolheu e prosperou com seu suor, mas seu coração sempre bateu em dois lugares.

Enfim, o governo italiano lhes oferece uma "bela duma banana" (como diria um nonno indignado). É um corte não só jurídico, mas afetivo.



quinta-feira, 8 de maio de 2025

Habemus Papam e haja confusão

 

Desde os últimos dias do pontificado de Francisco, tenho observado expectativas crescentes em relação ao novo Papa que o sucederá. A polarização política, característica de grupos minoritários tanto da direita quanto da esquerda, não reflete o espírito do mundo católico nem a maioria da população de seus respectivos países. Esses grupos parecem se sentir no direito de influenciar politicamente a escolha, como se a Igreja estivesse reatando laços da idade média ou do século XXII. Tal comportamento parece buscar um apoio divino, ou ao menos da Igreja Católica, para suas agendas políticas.

Ao longo de quase cinco mil anos, governos e religiosidade popular caminharam lado a lado. Contudo, essa união se desgastou diante da emergência de sociedades multiculturais, conflitos religiosos e fluxos migratórios. A neutralidade estatal tornou-se um valor cada vez mais importante. Avanços científicos, o desenvolvimento do pensamento crítico e as falhas históricas das teocracias — incluindo alianças com elites poderosas, perseguições e a prática da venda de indulgências — contribuíram significativamente para a redução da influência das igrejas no poder secular. Embora ainda existam exceções, a tendência global aponta para Estados neutros, que asseguram a liberdade religiosa. A história, em sua marcha inexorável, raramente retrocede.

Nenhuma instituição na Terra acumulou tantas experiências, viveu tantos momentos históricos, enfrentou tantos excessos e aprendeu com tantos erros quanto a Igreja Católica. Com um acervo documental vasto e sistematicamente estudado, é possível afirmar que a Santa Madre Igreja reúne um número impressionante de intelectuais dedicados, todos focados em seus propósitos e na missão de refletir sobre os rumos da fé e da humanidade.

No espectro interno da Igreja, os conservadores católicos se ancoram na tradição, comprometidos com a preservação dos ensinamentos e doutrinas centenários, orientados por uma missão espiritual e pastoral que enfatiza a caridade e a transmissão da fé, com base sólida na Bíblia e nos pronunciamentos papais e conciliares.

Por outro lado, os progressistas católicos encontram inspiração no Concílio Vaticano II e em documentos pontifícios recentes, como a Laudato Si', que aborda a ecologia social, e na defesa enfática dos pobres. Eles se engajam na promoção de políticas públicas redistributivas, são receptivos ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, e buscam reformas sociais que estejam em consonância com os valores evangélicos.

A Igreja Católica, com sua estrutura hierárquica e informativa, está atenta ao que ocorre em suas diversas dioceses ao redor do mundo. Essa capacidade de monitoramento é essencial, especialmente após ter enfrentado a perda de fiéis para denominações evangélicas e para o fenômeno dos desigrejados, o que a torna mais cautelosa em suas decisões.

Em conclusão, a eleição do Papa Leão XIV não se deu para satisfazer exclusivamente as alas progressistas ou conservadoras, mas sim para assegurar a continuidade e relevância da Igreja Católica na contemporaneidade. O desafio é conciliar as demandas de renovação com a preservação dos valores fundamentais, equilibrando-se entre a necessidade de mudança e a manutenção da identidade que define a Igreja ao longo dos séculos.

Os agostinianos, como o novo Papa, são conhecidos por buscar a verdade interior, unindo a razão e a fé, vivendo em comunhão fraterna e servindo aos outros com caridade tanto intelectual quanto prática.

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Setentar, uma dádiva.












Setentei, ô se tentei.
E na longa jornada, 
não descansei.


Cheguei! 
Com tantas histórias, 
tantos tropeços, 
tantas lições e
muitas vitórias.


Nas asas do tempo, voei, 
em tempestades, me firmei, 
ao destino que tracei. 
Grandes amigos conquistei,
com laços sinceros, os guardei.
Uma bela família, ganhei,
o porto seguro que ancorei.


Cheguei!
Na trilha que atravessei, 
em cada "não", um degrau, 
em cada "sim", um caminho, 
na certeza de que a persistência é a chave.


Setentei, ô se tentei, 
com a força de quem sonha, 
da qual nunca me apartei.
Cheguei, mas não parei.


O futuro? Oras direi...
Ali está, como sempre esteve.
Sempre como esperancei.
Logo, o futuro, 
serenamente, aguardarei

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Francisco, uma vida de respeito!

 


Diante do anúncio do falecimento, após 12 anos de um papado marcado por profundas transformações e gestos simbólicos, as homenagens prestadas a Jorge Mario Bergoglio refletem uma era de renovação na Igreja Católica.

As análises ao longo de seu pontificado, consistentemente destacam suas virtudes de simplicidade e humildade, características que o levaram a rejeitar ostentações, inclusive em relação às cerimônias fúnebres que poderiam glorificá-lo de maneira excessiva.

Como pastor — padre, bispo, cardeal ou papa —, Francisco sempre priorizou a proximidade com os fiéis. Sua interação direta e seu desejo de uma Igreja próxima, particularmente dos desfavorecidos e excluídos, deixaram um legado de compaixão e empatia.

Com a determinação em reformar a Cúria Romana visando uma gestão mais eficiente e transparente, Francisco enfrentou os desafios da corrupção, abordando escândalos financeiros e de abuso sexual com medidas concretas e uma postura de intolerância à má conduta. Ele defendeu vigorosamente uma Igreja inclusiva e misericordiosa, enfatizando o acolhimento sem julgamento, e estendeu essa visão a grupos frequentemente marginalizados, como divorciados e a comunidade LGBTQIA+.

A crítica contundente à desigualdade econômica e à pobreza foi uma constante em sua vida clerical, e como papa, ele ampliou essa luta para incluir a defesa ativa contra a mudança climática. Francisco sublinhou a responsabilidade moral da humanidade em preservar o meio ambiente e proteger os mais vulneráveis, reafirmando que cuidar da Terra é um dever intrínseco à fé. Da mesma forma, ele se posicionou firmemente em favor dos direitos dos imigrantes e refugiados, apelando para a abertura de fronteiras e para um tratamento digno e compassivo aos que buscam uma nova vida.

Embora tenha enfrentado resistência significativa dentro da hierarquia eclesiástica, especialmente de setores conservadores, o Papa Francisco buscou sempre a relevância e a atuação da Igreja nos complexos desafios do nosso tempo. Ao despedir-se desta vida, deixa um exemplo de liderança que transcende dogmas e se concentra na essência do evangelho: o amor ao próximo e a busca pela justiça social.


sexta-feira, 18 de abril de 2025

Não se formam mais cristãos como antigamente

 A tradição sugere que durante a Semana Santa, especialmente na Sexta-feira da Paixão, deve-se observar uma postura de abstinência, com um tom mais reflexivo, menos eufórico, favorecendo a oração, o silêncio e a introspecção. Em tempos passados, as famílias aderiam a um recolhimento doméstico, optando por uma dieta quase vegetariana ao evitar carne, e mantinham um ambiente de respeito e sobriedade, o que se refletia até mesmo na tranquilidade das ruas.

Essas práticas alimentares tinham um propósito além da devoção: reduzir despesas para que os recursos economizados pudessem ser destinados à caridade, auxiliando os menos afortunados. Era um momento de solidariedade e de lembrar-se daqueles que vivem em condições precárias.

Contudo, a realidade contemporânea apresenta um cenário bem distinto. Supermercados e bares estão repletos na Quinta-feira Santa, enquanto a Sexta-feira é marcada por estradas congestionadas, tudo isso em busca de entretenimento e prazer. O consumo de pescados caros no almoço substituiu a antiga prática de economia para fins caritativos.

Essa transformação não é recente, pois tais mudanças já se consolidaram há pelo menos trinta anos. Mais alarmante, porém, é a crescente tendência de cristãos desconsiderarem um dos mandamentos centrais de Jesus Cristo: "Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei". Infelizmente, observa-se uma contradição flagrante, com indivíduos que professam o cristianismo proferindo discursos de ódio e justificando a pobreza pela suposta falta de diligência dos pobres, em um equívoco que desvirtua o espírito de compaixão e amor ao próximo.

Não é minha intenção julgar ou condenar quem escolhe celebrar a Semana Santa com festividades gastronômicas ou viagens. Cada pessoa é capaz de discernir o que melhor se aplica a si e aos seus entes queridos. O que merece reflexão crítica, entretanto, é o comportamento daqueles que se autodenominam cristãos, mas não incorporam os valores e ensinamentos que essa fé representa. A verdadeira essência do cristianismo parece ser negligenciada por muitos que se esquecem de que a prosperidade espiritual também depende do respeito e da prática dos ensinamentos de Cristo.

sexta-feira, 14 de março de 2025

Coleta de Lixo: vamos trocar seis por meia dúzia?

A prefeitura de Itapira anunciou, no mês passado, uma nova licitação para substituir a empresa responsável pela coleta de lixo, devido a falhas constantes. Dado o histórico, podemos esperar sucesso da nova contratada?

Antes dos anos 90, a terceirização de serviços essenciais era rara nos municípios brasileiros. Com a onda privatista, que prometia melhor qualidade e custos reduzidos, muitos prefeitos aderiram à prática em setores-chave.

A alta demanda atraiu empresários desonestos, gerando uma máfia que corrompe servidores e prefeitos. O crime organizado e políticos corruptos logo viram nisso uma oportunidade para lavagem de dinheiro. Embora não se deva generalizar, a honestidade nessas áreas tornou-se rara, e muitas empresas estão sob investigação do Ministério Público e da Polícia Federal.

Os serviços terceirizados têm sido criticados pela população por sua baixa qualidade, como ocorre com a coleta de lixo em nossa cidade. Esperar que a próxima empresa vencedora cumpra o contrato com a prometida eficiência parece otimista.

Com a insatisfação popular, aumentam os pedidos nas redes sociais para a municipalização dos serviços de coleta de lixo. Talvez a solução esteja no equilíbrio.

Um departamento pequeno, com um coordenador especializado, poderia terceirizar a mão de obra e alugar equipamentos, mantendo a prefeitura responsável pela qualidade. Essa ideia poderia reduzir custos e melhorar a eficiência.

A redução do lixo e o aumento da reciclagem são essenciais. Contudo, as empresas terceirizadas lucram com o volume coletado. Para elas, mais lixo significa mais lucro, o que nos coloca em um dilema.