A tradição sugere que durante a Semana Santa, especialmente na Sexta-feira da Paixão, deve-se observar uma postura de abstinência, com um tom mais reflexivo, menos eufórico, favorecendo a oração, o silêncio e a introspecção. Em tempos passados, as famílias aderiam a um recolhimento doméstico, optando por uma dieta quase vegetariana ao evitar carne, e mantinham um ambiente de respeito e sobriedade, o que se refletia até mesmo na tranquilidade das ruas.
Essas práticas alimentares tinham um propósito além da
devoção: reduzir despesas para que os recursos economizados pudessem ser
destinados à caridade, auxiliando os menos afortunados. Era um momento de
solidariedade e de lembrar-se daqueles que vivem em condições precárias.
Contudo, a realidade contemporânea apresenta um cenário bem
distinto. Supermercados e bares estão repletos na Quinta-feira Santa, enquanto
a Sexta-feira é marcada por estradas congestionadas, tudo isso em busca de
entretenimento e prazer. O consumo de pescados caros no almoço substituiu a
antiga prática de economia para fins caritativos.
Essa transformação não é recente, pois tais mudanças já se
consolidaram há pelo menos trinta anos. Mais alarmante, porém, é a crescente
tendência de cristãos desconsiderarem um dos mandamentos centrais de Jesus
Cristo: "Amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei".
Infelizmente, observa-se uma contradição flagrante, com indivíduos que
professam o cristianismo proferindo discursos de ódio e justificando a pobreza
pela suposta falta de diligência dos pobres, em um equívoco que desvirtua o espírito
de compaixão e amor ao próximo.
Não é minha intenção julgar ou condenar quem escolhe
celebrar a Semana Santa com festividades gastronômicas ou viagens. Cada pessoa
é capaz de discernir o que melhor se aplica a si e aos seus entes queridos. O
que merece reflexão crítica, entretanto, é o comportamento daqueles que se
autodenominam cristãos, mas não incorporam os valores e ensinamentos que essa
fé representa. A verdadeira essência do cristianismo parece ser negligenciada
por muitos que se esquecem de que a prosperidade espiritual também depende do
respeito e da prática dos ensinamentos de Cristo.