sexta-feira, 29 de março de 2024

Política e religião: quem ganha, quem perde!

A relação entre política e religião é uma questão intricada, mas é importante questionar quem se beneficia nessa união. Abordar esse tema muitas vezes é complexo e nem sempre conduz a discussões racionais.

Estamos nos aproximando da Páscoa em um ano de eleições municipais, o que considero ser um momento oportuno para refletir. Segundo o relato bíblico, foi durante essa época que Pilatos, diante da pressão das autoridades judaicas para condenar Jesus à morte, lavou simbolicamente as mãos, fugindo assim da responsabilidade que lhe cabia como governador romano na Judéia, deixando a decisão nas mãos dos líderes religiosos e da multidão dividida presente. Esse gesto, do ponto de vista político, pode ser interpretado como uma separação entre Estado e Religião. O desfecho é conhecido, Jesus foi crucificado, atendendo à vontade daquela maioria. Repare, não foi uma decisão religiosa, mas política. A ideia era que Jesus saísse de circulação.

No Brasil, a Constituição do Império de 1824 estabeleceu o catolicismo como religião oficial e dominante. Durante o período colonial e imperial, a Igreja Católica exerceu controle político e social sobre o país, influenciando políticas públicas, educação e moralidade, muitas vezes interferindo nos assuntos de Estado. A oficialização da separação entre Igreja e Estado ocorreu em 1890, por decreto, e foi confirmada pela Constituição de 1891. Passamos a ser e somos até hoje uma nação laica.

Apesar do distanciamento constitucional, os poderes executivos, legislativos e judiciários continuaram a utilizar símbolos religiosos, como o crucifixo, e práticas como juramentos sobre a Bíblia persistiram. Isso levanta a questão: quem se beneficia com o uso de símbolos ou textos religiosos na esfera política e judiciária? Após mais de 130 anos dessas práticas, que impacto positivo teve na qualidade de nossa classe política e judiciária?

É difícil afirmar que os políticos agem sempre de acordo com os princípios cristãos, apesar de seus vínculos religiosos ou dos símbolos cristãos aparentes. Será que eles utilizam o relacionamento com as igrejas apenas para serem eleitos e, depois, para acobertarem seus eventuais erros? Será que os políticos não vinculados às igrejas usam os símbolos para chancelarem as consequências do que foi decidido? As decisões políticas tomadas diante de símbolos religiosos ou textos bíblicos consideram verdadeiramente a palavra de Deus? A persistência da desigualdade social, a fome e as injustiças contradizem a visão idealizada pelas religiões.

Pode-se especular que, se Jesus voltasse para verificar a situação atual do Brasil, ele teria uma atitude semelhante à que teve no Templo de Jerusalém. Depois de expurgar todo e qualquer vínculo, Ele certamente diria algo assim: "onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali eu estarei. Na maioria das decisões que vocês tomaram, eu estava presente? Vocês me ouviram? Pois bem, não quero me intrometer, tomem as decisões que bem entenderem de acordo com a consciência de vocês, mas não me coloquem nisso."

Pelo andar da carruagem, só a religião pode sair perdendo. Ou não?

segunda-feira, 25 de março de 2024

Robinho e Daniel: a cara do futebol brasileiro

Revelado pelo Santos e destacando-se, além da seleção canarinho, em times renomados como o Real Madrid, Manchester City e Milan, entre outros, Robinho alcançou fama e fortuna ao longo de sua carreira no futebol. Contudo, em 2013, ele e cinco amigos se envolveram em um terrível incidente: um estupro coletivo contra uma mulher albanesa em uma boate de Milão, na Itália. Embora tenha admitido ter mantido relações sexuais com a vítima, ele negou a violência sexual. No entanto, foi denunciado, processado e condenado em todas as instâncias pela justiça italiana a nove anos de prisão. Ao fugir para o Brasil, conseguiu evitar a prisão, mas a Itália solicitou à justiça que ele cumprisse a pena em solo brasileiro. Atendendo ao pedido italiano, a Corte Especial do STJ, por 9 votos a 2, validou a condenação de Robinho, que agora deverá cumprir sua sentença no Brasil, embora sua defesa esteja utilizando todos os recursos disponíveis para evitar, reduzir ou adiar o encarceramento.

Por outro lado, Daniel Alves, revelado pelo Bahia e com passagens por clubes como Sevilla, Barcelona, Juventus e Paris Saint-Germain, também integrou a seleção brasileira em três copas do mundo. Em 2022, no entanto, seu nome foi manchado por um ato repugnante: o estupro de uma mulher em um banheiro de uma discoteca em Barcelona, na Espanha. Apesar de ter dado várias versões em sua defesa, nenhuma delas convenceu o Tribunal de Barcelona, que o condenou a quatro anos e seis meses de prisão. Após 14 meses preso, o tribunal concedeu à sua defesa a possibilidade de aguardar em liberdade a decisão final, mediante o pagamento de uma fiança de R$ 5,4 milhões.

Tanto Robinho quanto Daniel Alves têm recursos financeiros para buscar formas de evitar prisão prolongada, o que levanta questões sobre a igualdade no acesso à justiça. É lamentável que, para alguns, a liberdade possa ser comprada tão facilmente, enquanto para outros ela permanece inatingível. O caso desses jogadores também evidencia a necessidade de uma mudança cultural no mundo do futebol, onde a impunidade e a cultura do machismo são persistentes. Ainda há muito a ser feito para garantir que figuras públicas, como os jogadores de futebol, sejam responsabilizadas por seus atos e sirvam como exemplos positivos para a sociedade.

O futebol, segundo as palavras do venerável professor Barreto, parece ser um terreno fértil para a desonestidade e a falta de escrúpulos. Não é surpreendente? Nosso esporte nacional, nos proporciona inúmeros exemplos de violência; de deslealdade entre colegas; de simulações; de reclamações infundadas; de omissão diante das injustiças e uma série de outros comportamentos questionáveis. Quando a diretoria de um clube falha em cumprir suas obrigações financeiras, os jogadores muitas vezes acabam apresentando um desempenho abaixo do esperado, o que pode levar alguns torcedores a um sofrimento extremo, ao invés de procurarem soluções alternativas.

Os dois jogadores mencionados foram apenas afetados pelas mudanças que o mundo está passando. Comportamentos libidinosos, que muitos jogadores costumavam praticar em nome de uma suposta juventude, e a riqueza acumulada em suas contas bancárias, já não passam despercebidos como antes. As vítimas, frequentemente subjugadas, agora têm mais coragem para denunciar. As perdas financeiras e de imagem são astronômicas. Se o respeito ao próximo não é conquistado de forma natural, talvez o bolso se torne um grande orientador.

sábado, 16 de março de 2024

Em ano de eleição, todo cuidado é pouco

 

Estamos mais uma vez às vésperas de um novo ciclo eleitoral, com a chegada dos candidatos à prefeitura e à câmara municipal. Com eles, surgem os mesmos discursos de sempre. No entanto, não devemos nos surpreender, pois faz parte do jogo político.

Assim como de costume, os candidatos se apresentam com as melhores intenções, enquanto tentam desacreditar seus adversários, retratando-os como portadores de todos os defeitos imagináveis. Cabe a nós, eleitores, a difícil tarefa de fazer a escolha certa. Em quem podemos confiar?

Antigamente, os ataques entre candidatos eram feitos nos comícios, e o que não podia ser dito em público acabava se transformando em boatos espalhados pelos cabos eleitorais. Hoje em dia, esses ataques se modernizaram, utilizando-se da tecnologia, com ferramentas como as fakes news, combinadas com deepfakes e outras formas de desinformação.

As fakes news, ou notícias falsas, são informações fabricadas, distorcidas ou enganosas, apresentadas como verdadeiras, com o intuito de enganar, manipular ou influenciar o eleitorado. Elas exploram as emoções das pessoas, utilizando recursos que aumentam sua disseminação, como o medo, a raiva ou a afeição. Diferentemente de erros jornalísticos, as fakes news são produzidas de forma intencional, com pleno conhecimento de sua falsidade.

Um desafio ainda maior é representado pelos deepfakes, tecnologia que manipula vídeos, áudios e imagens, criando situações completamente falsas. Essa tecnologia pode comprometer seriamente a credibilidade da informação, levando muitas pessoas a acreditarem em conteúdos fraudulentos.

Vários países têm agido para conter os danos das fakes news. No Brasil, foram estabelecidas regras para tentar minimizar o impacto da inteligência artificial nas eleições, incluindo a proibição do uso de chatbots e deepfakes, além da obrigação das redes sociais e aplicativos de mensagens de remover conteúdos que promovam ações antidemocráticas ou discurso de ódio.

Estudos têm mostrado que as fakes news influenciaram os resultados das últimas eleições, não apenas no Brasil, mas em vários países do mundo. Por isso, medidas estão sendo tomadas para garantir que os eleitores não sejam enganados. É importante ressaltar que combater as fakes news não significa violar a liberdade de expressão, mas sim proteger a integridade do processo democrático.

Não devemos nos desesperar. Com o tempo, as pessoas estão cada vez mais atentas e desconfiadas em relação às fakes news, e muitas já não as levam a sério. A identificação dos produtores e compartilhadores dessas informações falsas, associada a determinados políticos, pode prejudicar lhes a credibilidade e, quem sabe, revelar suas intenções inconfessáveis.

Um olhar atento, sensibilidade aguçada, experiência pregressa e, acima de tudo, o compromisso de proporcionar o melhor para a cidade são elementos cruciais que, entre os candidatos, podem prevenir quatro anos de queixas e assegurar um futuro mais digno e promissor. Eleição não é competição de egos. A escolha mais acertada é aquela que beneficia a todos.

sábado, 9 de março de 2024

O moço do disco voador

Sempre que me afastava da cidade e me deparava com um céu estrelado, dedicava longos momentos à contemplação da beleza do Universo, esperando ansiosamente por algum sinal, uma luz incomum, que pudesse indicar a presença de algo distante observando nosso planeta. Contudo, tal evento nunca se concretizou.

Recentes estudos no âmbito do Universo observável sugerem a existência de pelo menos 2 trilhões de galáxias. Considerando que a nossa Via Láctea abriga cerca de 100 bilhões de planetas, podemos imaginar a existência de mais de 100 sextilhões de planetas em nosso vasto universo. Essa magnitude alimenta a crença de que ao longo do tempo, outros planetas podem ter desenvolvido condições propícias à evolução de seres vivos.

Apesar da busca incessante por evidências científicas conclusivas sobre a existência de vida extraterrestre, até o momento não as temos, não por falta de empenho e investimentos. As investigações envolvem a análise de exoplanetas em zonas habitáveis, indicando a possibilidade de existência de água líquida. Missões espaciais exploram luas em nosso próprio sistema solar, com oceanos subsuperficiais que podem abrigar formas de vida microbiana.

A busca pela descoberta de vida extraterrestre é motivada pela convicção de que, uma vez comprovada, será um marco sem precedentes, alterando completamente nossa compreensão do universo.

A procura por vida inteligente fora da Terra remonta a milênios, mas era no olhômetro. Há aproximadamente 50 anos, iniciamos investigações científicas usando radiotelescópios para procurar sinais do espaço, avançando com telescópios avançados e algoritmos sofisticados. Recentemente, a respeitada revista científica Astronomical Journal publicou um novo método chamado Elipsoide SETI, destinado a rastrear possíveis assinaturas tecnológicas de vida extraterrestre. A ideia é baseada na premissa de que civilizações avançadas poderiam usar eventos astronômicos, como explosões estelares, como atalhos para enviar mensagens.

Em resumo, a supernova SN 1987A, que ocorreu há cerca de 200.000 anos na Grande Nuvem de Magalhães, galáxia vizinha à Via Láctea, é o ponto focal do projeto Elipsoide SETI. Ao fixar a localização da Terra e da SN 1987A, os cientistas traçaram uma área em forma de ovo, na esperança de que civilizações mais avançadas pudessem utilizar a luz gerada pela explosão para enviar sinais. Essa técnica permitiria que uma eventual mensagem intergaláctica viajasse à velocidade da luz.

Apesar da complexidade dessa abordagem, a humanidade nunca teve tantos recursos científicos à disposição para procurar vida extraterrestre. Com esse projeto, agora temos um espaço delimitado para essa missão. Quem sabe, talvez tenhamos mais sorte!

Nas próximas vezes em que eu estiver deitado em um gramado, contemplando uma noite estrelada e presenciar algo extraordinário, talvez eu possa entoar a música de Raul Seixas que diz: "Oh! Oh! Seu moço!/Do Disco Voador/Me leve com você/Pra onde você for/Oh! Oh! Seu moço!/Mas não me deixe aqui/Enquanto eu sei que tem/Tanta estrela por aí."

sábado, 2 de março de 2024

A nossa casa é um canto sagrado


Nossa residência é um local sagrado, de acordo com os preceitos bíblicos, que enaltece a família como uma instituição divina, fundamental no plano de Deus. Portanto, é crucial que ela seja estabelecida em um ambiente repleto de amor, recebendo cuidados e proteção adequados. Este ambiente propício se manifesta na habitação, princípios esses adotados por muitas nações que consideram a moradia como um preceito essencial. Desde 1948, a ONU reconhece este direito, e desde 1988, a Constituição Brasileira assegura a competência comum da União, estados e municípios para fomentar a construção de residências, melhorar as condições habitacionais e garantir o saneamento básico.

Entretanto, a realização dessa tarefa complexa no curto prazo é desafiadora. Logo, é responsabilidade do líder político priorizar essa obrigação, visando a redução do déficit habitacional e a minimização de habitações precárias. O déficit habitacional, originado de transformações sociais como o êxodo rural e a evolução do perfil familiar, requer atenção especial.

Nas décadas de 70 e 80, observamos uma migração sem precedentes. Em Itapira, por exemplo, o censo de 1970 indicava que um terço dos habitantes residia na zona rural. Em pouco tempo, essa proporção mudou drasticamente para 91% na cidade e 9% no campo. O anseio por uma moradia própria acelerou a construção de habitações precárias, em muitas cidades brasileiras, refletindo no ditado popular "quem casa, quer casa". Prefeitos, preocupados com o bem-estar da população, agiram para facilitar o acesso a casas e terrenos populares, evitando a favelização e suas consequências sociais, como o aumento da criminalidade.

Curiosamente, em Itapira, alguns grupos políticos contrários à obrigação constitucional, passaram a disseminar a ideia de que as casas populares eram responsáveis pelo crescimento desordenado da cidade, alegando que a maioria das unidades beneficiava pessoas de outros municípios. Isso, no entanto, era uma falsa afirmação. Comparando os censos de 1970 e 2022, a população itapirense cresceu 185%, enquanto a população brasileira, paulista e cidades vizinhas apresentaram aumentos mais expressivos*. As habitações populares, longe de causarem danos, proporcionam qualidade de vida e impedem a proliferação de moradias precárias.

Os atentos observadores podem confirmar que ao longo das últimas quatro décadas, Itapira verdadeiramente atraiu residentes de outras localidades, pessoas que tiveram a opção de selecionar esta cidade como seu lar para trabalhar, morar ou desfrutar da aposentadoria, devido à qualidade de vida proporcionada. Diversos indivíduos optaram por se aposentar aqui e escolheram permanecer.

No entanto, nos últimos anos, as opções populares de moradias foram drasticamente reduzidas, aumentando a previsão de um considerável aumento no déficit habitacional em nossa cidade. Estratégias políticas mal-intencionadas, assim como as "fake news", têm contribuído para prejudicar a população no médio e longo prazo. Portanto, é crucial que o próximo prefeito de Itapira reflita sobre a implementação de programas habitacionais, casas e terrenos populares.

A moradia transcende a individualidade, abriga histórias e representa um local sempre disponível para acolher seus moradores. Não é um simples espaço; merece, sobretudo, respeito. E quem se beneficia disso é a cidade como um todo.

*COMPARAÇÃO CRESCIMENTO DA POLULAÇÃO ENTRE 1970 E 2022

CENSO 1970

CENSO 2022

CRESCIMENTO

BRASIL

93.000.000

220.000.000

237%

ESTADO DE SÃO PAULO

18.000.000

44.000.000

244%

MOGI GUAÇU

37.000

153.000

414%

MOGI MIRIM

32.000

92.000

288%

AMPARO

32.000

68.000

213%

ITAPIRA

39.000

72.000

185%