Foi-se o segundo mês de maio seguido sem a nossa tradicional Festa de Maio. Foi-se, de novo, o Dia das Mães sem a comemoração do jeito que a gente gosta. Até o título de Mês das Noivas, maio perdeu, dada a drástica redução nos casamentos convencionais. Junho não passará impune. Será mais um mês tradicional sem as festas juninas que pipocavam por todos os cantos da cidade. Sem o Dia dos Namorados com suas pompas e circunstâncias. Sem os tradicionais tapetes coloridos nas ruas.
O desmaio de maio não é só uma rima.
Tem tudo a ver. É maio sem cor, que perdeu a viveza e abateu o nosso espírito. Estamos
saudosos dos maios sem pandemia. A nossa vivacidade não foi atingida apenas
pelas restrições impostas e adotadas pela maioria consciente e responsável, mas
também pelo sofrimento daqueles que desenvolveram algum agravamento da covid19
e daqueles que ainda sofrem com as sequelas; pelas mortes evitáveis e suas
consequências familiares; por todos os que perderam emprego ou renda e viram
suas vidas modificadas de uma hora para outra. Hoje, não há um único brasileiro
que não tenha parente, amigo ou conhecido vitimados por essa doença e correspondentes
descasos governamentais.
O rascunho de junho também não é
só uma rima. Antes da Covid19 quase não tínhamos tempo para nada, vivíamos para
o nosso umbigo e de repente... quase tudo parou. Nos olhávamos como se fossemos
únicos. Éramos senhores das nossas vidas e não dávamos importância à vida alheia.
Víamos o mundo, o país ou a nossa cidade como se todos estivessem à nossa
disposição, prontos para nos proporcionar conforto, inclusive, em concordância
com as nossas ideias. Raramente colocávamos o coletivo como prioridade,
pensávamos mais na nossa “turminha”. Talvez seja este o rascunho básico de muita
gente, até então.
Lembrei-me do ensinamento do
mestre Mario Quintana: “Não faças da tua vida um rascunho. Poderás não ter
tempo de passá-la a limpo. ” Até que
ponto estamos rascunhando a nossa vida ou parte dela, à espera do momento certo
para viver?
Viver! Talvez seja um absurdo
imaginar que essa pandemia, com tantas mortes expostas, possa dar algum sentido
à vida e que ela nos leve a abandonar o rascunho mal escrito. Somos humanos, sociais
por natureza, adoramos aglomerar. Desde o princípio dos tempos, nos
concentramos em pequenos territórios, vivemos em coletividade. Em tese: somos comunitários,
gregários, sociais e solidários. O avanço tecnológico, a luta pela vida, privilegiou
o nosso egoísmo. Agora, talvez estejamos começando a descobrir, a duras penas,
que não nos basta a família e os amigos estarem bem e protegidos, não basta construir
e preservar um mundo tão pequeno à nossa volta. De um jeito ou de outro somos
dependentes de todos que pisam o chão deste planeta. Todos precisam ser
cuidados, preservados e respeitados.
As grandes tragédias humanas – e
a Covid19 é uma delas – são pródigas em ensinamentos e, quem sabe, nos faça desenvolver
uma clara visão do como é viver com tranquilidade, humildade, solidariedade e
empatia.