segunda-feira, 31 de maio de 2021

Maio, desmaio. Junho, rascunho...

Foi-se o segundo mês de maio seguido sem a nossa tradicional Festa de Maio. Foi-se, de novo, o Dia das Mães sem a comemoração do jeito que a gente gosta. Até o título de Mês das Noivas, maio perdeu, dada a drástica redução nos casamentos convencionais. Junho não passará impune. Será mais um mês tradicional sem as festas juninas que pipocavam por todos os cantos da cidade. Sem o Dia dos Namorados com suas pompas e circunstâncias. Sem os tradicionais tapetes coloridos nas ruas.    

O desmaio de maio não é só uma rima. Tem tudo a ver. É maio sem cor, que perdeu a viveza e abateu o nosso espírito. Estamos saudosos dos maios sem pandemia. A nossa vivacidade não foi atingida apenas pelas restrições impostas e adotadas pela maioria consciente e responsável, mas também pelo sofrimento daqueles que desenvolveram algum agravamento da covid19 e daqueles que ainda sofrem com as sequelas; pelas mortes evitáveis e suas consequências familiares; por todos os que perderam emprego ou renda e viram suas vidas modificadas de uma hora para outra. Hoje, não há um único brasileiro que não tenha parente, amigo ou conhecido vitimados por essa doença e correspondentes descasos governamentais.

O rascunho de junho também não é só uma rima. Antes da Covid19 quase não tínhamos tempo para nada, vivíamos para o nosso umbigo e de repente... quase tudo parou. Nos olhávamos como se fossemos únicos. Éramos senhores das nossas vidas e não dávamos importância à vida alheia. Víamos o mundo, o país ou a nossa cidade como se todos estivessem à nossa disposição, prontos para nos proporcionar conforto, inclusive, em concordância com as nossas ideias. Raramente colocávamos o coletivo como prioridade, pensávamos mais na nossa “turminha”. Talvez seja este o rascunho básico de muita gente, até então.

Lembrei-me do ensinamento do mestre Mario Quintana: “Não faças da tua vida um rascunho. Poderás não ter tempo de passá-la a limpo. ”  Até que ponto estamos rascunhando a nossa vida ou parte dela, à espera do momento certo para viver?

Viver! Talvez seja um absurdo imaginar que essa pandemia, com tantas mortes expostas, possa dar algum sentido à vida e que ela nos leve a abandonar o rascunho mal escrito. Somos humanos, sociais por natureza, adoramos aglomerar. Desde o princípio dos tempos, nos concentramos em pequenos territórios, vivemos em coletividade. Em tese: somos comunitários, gregários, sociais e solidários. O avanço tecnológico, a luta pela vida, privilegiou o nosso egoísmo. Agora, talvez estejamos começando a descobrir, a duras penas, que não nos basta a família e os amigos estarem bem e protegidos, não basta construir e preservar um mundo tão pequeno à nossa volta. De um jeito ou de outro somos dependentes de todos que pisam o chão deste planeta. Todos precisam ser cuidados, preservados e respeitados.   

As grandes tragédias humanas – e a Covid19 é uma delas – são pródigas em ensinamentos e, quem sabe, nos faça desenvolver uma clara visão do como é viver com tranquilidade, humildade, solidariedade e empatia.

E que julho seja o começo do nosso maior orgulho: o de valorizar a nossa vida e a vida de todos.

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Saudades das minhas festas de maios...

Estamos no segundo ano seguido sem a secular Festa de Maio. Desde que me conheço por gente, ela nunca deixou de se apresentar. Consequência desta triste e perigosa epidemia que além de tolher vidas itapirenses e milhares de brasileiros, tolhe as nossas liberdades e as nossas alegrias festeiras.

É cedo dizer se dessa pandemia extrairemos, no futuro, alguma coisa boa. Algo que venha melhorar a nossa condição humana, como as provocadas por outros grandes males que atingiram a humanidade e contribuíram para a nossa evolução.

Eu arriscaria dizer que essa pandemia poderá valorizar o lado bom de um dos nossos principais sentimentos intrínsecos: a saudade. Estamos saudosos da nossa vida normal, daquela que a gente levava de forma quase automática; dos encontros com parentes e amigos; dos abraços; dos passeios; dos churrascos; dos bares e restaurantes; das conversas... Saudades do fazer o que dava na telha... A gente confirma o que já era sabido, a ausência e a distância do que gostamos aguça as nossas saudades.

Depois de dois anos sem Festa de Maio, descobri que sinto saudades conexas. Saudades do meu tempo de criança, onde a festa se resumia às voltas nos “tomovinhos”. Saudades da minha adolescência, dos primeiros ranços de liberdade, a festa com os amigos, sem meu pai ou minha mãe apertando forte a minha mão, por medo de me perder na multidão. Saudades da minha juventude, dos brinquedos maiores e das barracas da moçada. Saudades do tempo dos meus filhos pequenos nos brinquedos, como se eu estivesse começando um novo ciclo. Saudades das festas mais recentes, dos encontros com amigos, agora todos casados, alimentando a tradição.

Saudade é um sentimento precioso. Tem o condão de nos manter ligados ao passado. Mantem os entes queridos que já partiram, vivos nos nossos pensamentos. Nos leva aos lugares, aos eventos, aos momentos que não fazemos nenhuma questão de esquecê-los. A saudade referenda a nossa história e alimenta a nossa vida. Ou como diria Mario Quintana: “O tempo não para! A saudade é que faz as coisas pararem no tempo...”    

PS.: Esse texto foi inspirado nas inúmeras imagens publicadas nas redes sociais retratando a nossa tradicional festa de maio, em especial, aos cliques do mestre fotográfico André Santiago que com sua arte mostra além dos nossos olhos. Obrigado a todos.