Na época de meu pai, a composição
da banda era totalmente diferente da atual. A maioria dos músicos ultrapassava
os sessenta anos, e seu repertório refletia as melodias típicas das décadas
passadas. As apresentações dominicais na praça central eram momentos de
destaque, mas ao longo do tempo, o público dessas tradições foi diminuindo,
restando apenas alguns casais que levavam seus filhos para apreciar a música.
Entre esses espectadores estavam eu, minha esposa e meus filhos, encantados ao
ver o Vô Geraldo entregando-se ao saxofone. A última apresentação no coreto foi
uma despedida melancólica, selando o fim da nossa praça central como o centro
de encontros e agitações de gerações passadas. No entanto, isso não significou
o fim da nossa Banda Lira.
À beira do final do século
passado, Mauricio Perina assumiu como maestro, enfrentando o desafio monumental
de revitalizar nossa tradicional banda de música. Com competência e paciência,
ele conseguiu manter, transformar e rejuvenescer a banda. Claro, houve momentos
difíceis, e por pouco não vimos o poder público municipal abandonar nossa
tradição. Mas também testemunhamos o povo de Itapira se levantando em apoio,
demonstrando solidariedade de todas as formas até que a razão e a emoção
prevalecessem.
Naquela noite, meu pai, não sei
se por falta de permissão ou por ter ficado tão embasbacado, nem tentou
conversar comigo. Mas consigo imaginar o que ele sentiu ao ouvir duas horas de
música envolvente. Embora não fosse o seu repertório habitual, o rock não fazia
parte dos seus gostos e costumes, ele certamente se rendeu à qualidade da
apresentação. Certamente, ao retornar ao seu canto, ele compartilhou as
novidades com seus amigos e antigos colegas da banda.