Mas chegou o Carnaval...
Cá estamos às portas de mais um
carnaval. Pergunto, pois, que raios de carnaval é esse que está chegando?
Outras perguntas poderiam ser
feitas. O quanto a gente se divertirá nesse carnaval? Vamos viajar para alguma
cidade que apresente bons desfiles das Escolas de Samba ou que concentre grandes
multidões nas ruas ou para as que organizam grandes blocos temáticos? Vamos fugir
para cidades turísticas ou para as chácaras de recreio, com ou sem barulho? Ou
vamos ficar em casa vendo o carnaval pela TV ou totalmente distante da folia de
Momo?
É bem verdade que carnaval nunca
foi uma unanimidade. Sempre teve quem gostasse e quem detestasse. Raros eram os
indiferentes. Hoje, ao que me consta, a indiferença é dominante.
Convenhamos, carnaval é folia, é
extravagância, é liberdade, é provocação, é irreverência, é recomposição, é
alegria, é democrático. Óbvio, só para quem mergulha.
O tempo passou e o carnaval sofreu
adaptações, continua com as características principais, mas perdeu a condição
de democrático. Nem todo mundo que gostaria poderá cair nos braços de Momo. Não
tenho números, mas imagino que poucas são as cidades que oferecerão aos seus
cidadãos a oportunidade de viverem esses dias com a intensidade que a festa
requer. Em nossa cidade, Itapira, por exemplo, apesar de alguns poucos esforços,
para a maioria o carnaval participativo é coisa do passado.
Graças às redes sociais, esses
dias que antecedem ao carnaval, muitas postagens relembram os períodos de
glória do carnaval itapirense, as fantasias, os blocos, as orquestras, os
clubes... Mas os comentários tendem mostrar quase todos se esquivando da responsabilidade
que lhes competem. Algo como, se dependesse de mim, o carnaval nunca acabaria. Realmente,
se dependesse de todo mundo, o nosso carnaval estaria aí firme e forte. Mas não
foi isso que aconteceu. Logo, somos todos responsáveis. Apedrejamos a nossa
cultura.
Permitimos que a praça principal
da cidade deixasse de ser o nosso ponto de encontro, desmantelamos os bares e
restaurantes do quadrado, permitimos a deterioração dos clubes e dos cinemas e
desertificamos o nosso centro de convivência nos finais de semana. É certo, que
esses acasos fazem parte do processo evolutivo da nossa cidade. A nossa
responsabilidade talvez possa ser apontada para o não buscar alternativas de
aperfeiçoamento às mudanças inexoráveis, deixando tal tarefa para alguém, quem
sabe. Não foi premeditado, liberamos a vida para seguir seu rumo. Poderíamos
ter acompanhado os passos de tantas outras cidades que hoje exibem um carnaval
exuberante e participativo. Faltou-nos competência ou faltou acreditar nas
possibilidades?
Nas cidades onde o carnaval é uma
grande festa, milhares de pessoas, nativas ou não, participam, essência mantida.
Justiça seja feita, as administrações públicas e alguns carnavalescos buscaram
e buscam a repaginação, mas nem sempre em consonância com os resilientes amantes
da farra. Falta conexão. Lembro a expressão popularizada numa marchinha, nos
anos 30, “uma andorinha não faz verão”, mas um monte...
É uma pena, gostando ou não, o Carnaval é uma festa que faz parte da identidade cultural brasileira, guarda as peculiaridades e características de cada cidade ou região. Nele celebramos a vida, a diversidade e a cultura popular, refletimos e enfrentamos os problemas sociais que afetam a nossa sociedade. Carnaval não é só alegria e descontração. Quem sabe, um dia, a gente encontre o nosso rumo. Eu vislumbro essa possibilidade. É coisa de pele!