quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Mas chegou o Carnaval...

Mas chegou o Carnaval...

Cá estamos às portas de mais um carnaval. Pergunto, pois, que raios de carnaval é esse que está chegando?

Outras perguntas poderiam ser feitas. O quanto a gente se divertirá nesse carnaval? Vamos viajar para alguma cidade que apresente bons desfiles das Escolas de Samba ou que concentre grandes multidões nas ruas ou para as que organizam grandes blocos temáticos? Vamos fugir para cidades turísticas ou para as chácaras de recreio, com ou sem barulho? Ou vamos ficar em casa vendo o carnaval pela TV ou totalmente distante da folia de Momo?

É bem verdade que carnaval nunca foi uma unanimidade. Sempre teve quem gostasse e quem detestasse. Raros eram os indiferentes. Hoje, ao que me consta, a indiferença é dominante.

Convenhamos, carnaval é folia, é extravagância, é liberdade, é provocação, é irreverência, é recomposição, é alegria, é democrático. Óbvio, só para quem mergulha.

O tempo passou e o carnaval sofreu adaptações, continua com as características principais, mas perdeu a condição de democrático. Nem todo mundo que gostaria poderá cair nos braços de Momo. Não tenho números, mas imagino que poucas são as cidades que oferecerão aos seus cidadãos a oportunidade de viverem esses dias com a intensidade que a festa requer. Em nossa cidade, Itapira, por exemplo, apesar de alguns poucos esforços, para a maioria o carnaval participativo é coisa do passado.

Graças às redes sociais, esses dias que antecedem ao carnaval, muitas postagens relembram os períodos de glória do carnaval itapirense, as fantasias, os blocos, as orquestras, os clubes... Mas os comentários tendem mostrar quase todos se esquivando da responsabilidade que lhes competem. Algo como, se dependesse de mim, o carnaval nunca acabaria. Realmente, se dependesse de todo mundo, o nosso carnaval estaria aí firme e forte. Mas não foi isso que aconteceu. Logo, somos todos responsáveis. Apedrejamos a nossa cultura.

Permitimos que a praça principal da cidade deixasse de ser o nosso ponto de encontro, desmantelamos os bares e restaurantes do quadrado, permitimos a deterioração dos clubes e dos cinemas e desertificamos o nosso centro de convivência nos finais de semana. É certo, que esses acasos fazem parte do processo evolutivo da nossa cidade. A nossa responsabilidade talvez possa ser apontada para o não buscar alternativas de aperfeiçoamento às mudanças inexoráveis, deixando tal tarefa para alguém, quem sabe. Não foi premeditado, liberamos a vida para seguir seu rumo. Poderíamos ter acompanhado os passos de tantas outras cidades que hoje exibem um carnaval exuberante e participativo. Faltou-nos competência ou faltou acreditar nas possibilidades?    

Nas cidades onde o carnaval é uma grande festa, milhares de pessoas, nativas ou não, participam, essência mantida. Justiça seja feita, as administrações públicas e alguns carnavalescos buscaram e buscam a repaginação, mas nem sempre em consonância com os resilientes amantes da farra. Falta conexão. Lembro a expressão popularizada numa marchinha, nos anos 30, “uma andorinha não faz verão”, mas um monte...   

É uma pena, gostando ou não, o Carnaval é uma festa que faz parte da identidade cultural brasileira, guarda as peculiaridades e características de cada cidade ou região. Nele celebramos a vida, a diversidade e a cultura popular, refletimos e enfrentamos os problemas sociais que afetam a nossa sociedade. Carnaval não é só alegria e descontração. Quem sabe, um dia, a gente encontre o nosso rumo. Eu vislumbro essa possibilidade. É coisa de pele!