quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Um deputado que entra em bola dividida

A ALESP aprovou nesta quarta-feira, 6, o projeto de lei de privatização da Sabesp, a cereja do bolo, promessa de campanha, do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.

No assunto privatização, a sociedade se divide. Os privatistas entendem que a gestão privada é mais eficiente do que a gestão estatal. Com uma administração, mais enxuta e menos política, é possível oferecer serviços melhores, aumentar os investimentos e gerar lucro. Já os defensores das estatizações preferem a presença do Estado sobre os setores estratégicos da economia no atendimento às necessidades das camadas mais desfavorecidas da sociedade, evitando crises resultantes da busca excessiva por lucros. Não é à toa que todas as iniciativas voltadas às privatizações são duramente combatidas com manifestações, nem sempre pacíficas, aqui, no Brasil, como no mundo.

O poder legislativo, sempre que possível, procura sinalizar distância dos projetos espinhosos, entre eles a privatização de uma estatal como a SABESP. Raros são aqueles que colocam a “cara à tapa” diante da possibilidade de perder votos. Em geral, os favoráveis se manifestam timidamente e os contrários fazem o maior barulho.

Foi nesse cenário apocalíptico que o projeto de privatização da SABESP chegou à ALESP. A escolha do relator precisava ser assertiva. No erro, a promessa de campanha do governador poderia naufragar. Precisava ser um deputado reconhecido pela sua articulação, com prestígio junto aos demais parlamentares, inclusive da oposição; reverenciado pelo conhecimento com que trata os assuntos pautados e, principalmente, destemido. A batalha se avizinhava árdua. A relatoria caiu no colo do deputado Barros Munhoz. O projeto foi aprovado por 62 votos favoráveis, apenas um contrário. Depois de sancionado pelo governador de São Paulo, a privatização da SABESP ainda deverá seguir um doloroso calvário. 

Mas a razão principal deste texto não é o de parabenizar o deputado de Itapira pelo trabalho feito, mas destacar a vocação que ele tem para assumir, de peito aberto, as tantas bolas divididas da sua vida pública. Aqueles assuntos que, mesmo correndo o risco de sair arranhado, ele encarou com a tarefa de fazer do limão uma limonada. Em alguns casos, pagou um alto preço.

Defender e enfrentar o que acredita ser o certo é uma a missão!  

terça-feira, 26 de setembro de 2023

O futuro de Itapira depende de nós!


O tempo voa. Daqui a um ano vamos escolher o prefeito que governará Itapira por mais quatro anos a partir de 2025. Será que essa escolha merece ser impensada, deixada para a véspera?

Há boatos sobre possíveis candidaturas. Como se vê, os políticos não dormem no ponto. Desde já eles planejam, querem ficar conhecidos, arregimentam correligionários e cabos eleitorais, trabalham as promessas, marcam presença nas festas públicas e redes sociais, fazem pequenas reuniões nos bairros e adotam as tradicionais posturas pessoais de candidatos, sempre rindo, sempre cumprimentando as pessoas etc. E nós eleitores, vamos deixar a onda nos levar até quando?

A palavra “idiota” nasceu na Grécia antiga e era usada para identificar as pessoas que se preocupavam apenas com o próprio umbigo, com a sua casa e família e deixavam as questões coletivas ao Deus dará. Para os gregos, quem não se importava com o bem comum colocava a si mesmo e os seus na escuridão do futuro. Todo mundo precisava participar da vida política. Aristóteles (384-322 a.C) cunhou a frase “O Homem é uma animal político”, por ser, o homem, um sujeito social que, por natureza, precisa pertencer a uma coletividade.

O tempo foi passando e a palavra idiota derivaria para falta de inteligência ou de bom senso; estúpido, imbecil, tolo... Há quem afirme que o sentido atual é um complemento do original!

Voltando às eleições do ano que vem. A escolha do próximo prefeito não é uma tarefa fácil, como aquelas que a gente decide num piscar de olhos. Não deve imperar, por exemplo, a amizade, a cara de bom moço, as palavras bonitas... Então, fiquemos de olho:

Na plataforma: como o candidato aborda questões fundamentais como saúde, educação, economia, meio ambiente e segurança. Ele demonstra habilidades de gestão e de administração nas operações municipais como serviços públicos, infraestrutura, planejamento urbano, orçamento, cultura. Ele tem ideias para atrair investimentos, para gerar empregos e promover o crescimento econômico da cidade?

Na resiliência: o candidato apresenta competência e habilidades para lidar com crises repentinas, diante dos tantos possíveis desafios inesperados?

No compromisso social: o candidato compartilha sensibilidade para entender os problemas urgentes da população para melhorar a qualidade de vida, para investir em habitação acessível, parques e áreas verdes, segurança, transporte público e serviços de saúde?

Na liderança: O candidato se mostra com liderança forte e habilidade para as tomadas de decisões?

No prestígio: como sabemos que o sistema federativo brasileiro coloca os municípios na dependência de recursos externos, o candidato tem caminhos para chegar aos altos escalões das esferas estadual e federal?

Obviamente, essa escolha, não é uma tarefa fácil. Nem poderia ser. Dela depende o futuro da nossa cidade, o futuro das próximas gerações. Não se preocupar com ela é um gesto egoísta, um tiro no pé. Começar a pensar no assunto, o quanto antes, ajuda bastante.

O voto sempre foi e sempre será muito importante, não se resume ao dia da votação. São três momentos distintos: o antes (a escolha), o durante (o dia da eleição) e o depois (o acompanhamento e a cobrança).

É comum ouvirmos elogios à qualidade de vida oferecida pelos chamados países desenvolvidos em comparação ao Brasil. Não custa lembrar: os benefícios que hoje eles oferecem são resultantes das boas escolhas e acompanhamentos dos seus respectivos povos. Não existe governo bom, com povo ruim. Nem governo ruim, com povo bom. E não se engane, tudo começa no município!

segunda-feira, 14 de agosto de 2023

Uma rodovia para falar que é nossa!


Não sou dado a participar das inaugurações públicas. Conto nos dedos as que me fizeram estar presente. Mas a inauguração da nova rodovia, neste sábado, dia 12 de agosto, não poderia contar com a minha ausência. Não foi uma inauguração importante qualquer. Era o desfecho de uma história vivida e acompanhada.

A partir de 1987, por motivos empresariais, passei a realizar deslocamentos constantes, muitas vezes diários, até Mogi Guaçu, passando por Mogi Mirim. Naquela altura, havia notícias sobre a vicinal Itapira/Mogi Guaçu. Numa certa manhã de sábado, eu e mais três companheiros caminhamos de Mogi Guaçu até Itapira pelo suposto traçado da futura estrada. Queríamos sentir o cheiro de cada quilometro desta importante iniciativa.

No início dos anos 90, a vicinal totalmente pavimentada passou a ser o caminho da “roça”. Considerando todos os deslocamentos, do nosso pessoal, o tempo economizado, ao longo do ano, passou a fazer uma tremenda diferença. Mas o que era bom para nós, passou a ser bom, também, para todo mundo. Com tráfego crescendo progressivamente, nos anos 2010 a média era de 5 mil veículos por dia, de mais de 20 cidades, fluxo para o qual a singela estrada não suportava. Consequência: insegurança e aumento dos acidentes.  

Para oferecer padrão de qualidade e garantir mais segurança, conforme noticiário, a solução era a estadualização. Os dois municípios, Itapira e Mogi Guaçu, não dispunham de recursos nem para a manutenção adequada, quiçá melhorias. Em 2014 nasceu a SP 177/342. Começava, então, outra batalha: a transformação da vicinal em rodovia, envolvendo investimentos estaduais estimados em 100 milhões de reais. As obras começaram oito anos depois.  

A estrada sonhada há quase meio século, com qualidade, está à disposição de todos. Convenhamos, apesar de atender inúmeros municípios, Itapira é de longe a cidade mais beneficiada, proporcionalmente usamos mais e com frequência maior.  Não foi à toa a escolha da denominação: Rodovia “Carmen Ruete de Oliveira”, mulher símbolo do nosso município, entranhada na nossa história.

Finalmente, garanto que ninguém consegue pensar nessa estrada sem associá-la a Barros Munhoz. Ele abriu a luta há 45 anos quando prefeito e seguiu nela como deputado estadual. Analisando todo o histórico é possível afirmar que sem o forte empenho dele, seguramente, essa rodovia nunca existiria. Não se trata de um pedido atendido por um governador amigo. Foram necessários inúmeros pedidos, incansáveis cobranças, muita saliva e acordos com todos os governadores paulistas de Paulo Egídio, em 1978, a Tarcísio, em 2023. Haja determinação!

Devemos reconhecer. Conquistas dessa magnitude dignificam a carreira de um político, pois oferecem benefícios a todos, sem olhar a quem, inclusive aos que debateram contrariamente e aos que tentaram inviabilizá-la. Itapira venceu: temos uma estrada bonita e segura para batermos no peito e dizer: ela é nossa!

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

Mas chegou o Carnaval...

Mas chegou o Carnaval...

Cá estamos às portas de mais um carnaval. Pergunto, pois, que raios de carnaval é esse que está chegando?

Outras perguntas poderiam ser feitas. O quanto a gente se divertirá nesse carnaval? Vamos viajar para alguma cidade que apresente bons desfiles das Escolas de Samba ou que concentre grandes multidões nas ruas ou para as que organizam grandes blocos temáticos? Vamos fugir para cidades turísticas ou para as chácaras de recreio, com ou sem barulho? Ou vamos ficar em casa vendo o carnaval pela TV ou totalmente distante da folia de Momo?

É bem verdade que carnaval nunca foi uma unanimidade. Sempre teve quem gostasse e quem detestasse. Raros eram os indiferentes. Hoje, ao que me consta, a indiferença é dominante.

Convenhamos, carnaval é folia, é extravagância, é liberdade, é provocação, é irreverência, é recomposição, é alegria, é democrático. Óbvio, só para quem mergulha.

O tempo passou e o carnaval sofreu adaptações, continua com as características principais, mas perdeu a condição de democrático. Nem todo mundo que gostaria poderá cair nos braços de Momo. Não tenho números, mas imagino que poucas são as cidades que oferecerão aos seus cidadãos a oportunidade de viverem esses dias com a intensidade que a festa requer. Em nossa cidade, Itapira, por exemplo, apesar de alguns poucos esforços, para a maioria o carnaval participativo é coisa do passado.

Graças às redes sociais, esses dias que antecedem ao carnaval, muitas postagens relembram os períodos de glória do carnaval itapirense, as fantasias, os blocos, as orquestras, os clubes... Mas os comentários tendem mostrar quase todos se esquivando da responsabilidade que lhes competem. Algo como, se dependesse de mim, o carnaval nunca acabaria. Realmente, se dependesse de todo mundo, o nosso carnaval estaria aí firme e forte. Mas não foi isso que aconteceu. Logo, somos todos responsáveis. Apedrejamos a nossa cultura.

Permitimos que a praça principal da cidade deixasse de ser o nosso ponto de encontro, desmantelamos os bares e restaurantes do quadrado, permitimos a deterioração dos clubes e dos cinemas e desertificamos o nosso centro de convivência nos finais de semana. É certo, que esses acasos fazem parte do processo evolutivo da nossa cidade. A nossa responsabilidade talvez possa ser apontada para o não buscar alternativas de aperfeiçoamento às mudanças inexoráveis, deixando tal tarefa para alguém, quem sabe. Não foi premeditado, liberamos a vida para seguir seu rumo. Poderíamos ter acompanhado os passos de tantas outras cidades que hoje exibem um carnaval exuberante e participativo. Faltou-nos competência ou faltou acreditar nas possibilidades?    

Nas cidades onde o carnaval é uma grande festa, milhares de pessoas, nativas ou não, participam, essência mantida. Justiça seja feita, as administrações públicas e alguns carnavalescos buscaram e buscam a repaginação, mas nem sempre em consonância com os resilientes amantes da farra. Falta conexão. Lembro a expressão popularizada numa marchinha, nos anos 30, “uma andorinha não faz verão”, mas um monte...   

É uma pena, gostando ou não, o Carnaval é uma festa que faz parte da identidade cultural brasileira, guarda as peculiaridades e características de cada cidade ou região. Nele celebramos a vida, a diversidade e a cultura popular, refletimos e enfrentamos os problemas sociais que afetam a nossa sociedade. Carnaval não é só alegria e descontração. Quem sabe, um dia, a gente encontre o nosso rumo. Eu vislumbro essa possibilidade. É coisa de pele!    



 


terça-feira, 3 de janeiro de 2023

Pelé, o exagerado



Quando eu gravitava em torno dos meus seis anos de idade, meu pai me presenteou com uma camisa do São Paulo Futebol Clube. Nunca entendi direito a intenção dele. Meu pai, além de desinteressado por futebol, quando era perguntado, respondia “parmera”, com certeza, em honra à italianidade e ao meu “nonno”, este sim palmeirense da gema.  Eu gostava muito daquela camisa. Usei até o escudo tricolor ficar quase invisível. Tenho essa imagem até hoje guardada na memória. Mas a camisa não me fez são-paulino.

Naquela época, eram poucas as casas com aparelho de televisão. Na minha rua, só tinha na casa do meu amigo João Carlos de Lima. Os jogos não eram transmitidos ao vivo. Eram mostrados em videoteipe, depois das 22h pela TV Tupi. Sempre que tinha jogo do Santos, João, santista antes de mim, me convidava. Como não assistíamos aos jogos pelo rádio, tampouco sabíamos qual tinha sido o resultado, para nós, era como se o jogo fosse ao vivo. Era emocionante. Divertíamos muito. Não havia a menor chance de eu não ser santista, também. Aliás, tenho cá com os meus botões: os meus contemporâneos, filhos de pais palmeirenses, são-paulinos e corintianos provavelmente eram proibidos de ouvir ou assistir aos jogos do Santos, caso contrário, hoje, a maioria seria peixe desde criancinha. Santos tinha um grande time e tinha Pelé!   

Vi algumas pessoas criticando o exagero dedicado pela imprensa ao Pelé, depois da morte de Edson Arantes do Nascimento. Concordo, tudo que se refere ao Pelé, o exagero é constante. Nem preciso falar das realizações dentro de campo, quase todo mundo conhece o tanto que ele exagerava. Vou pela lateral.

Pelé jogava bola até dormindo, seus amigos contam que era comum ele se levantar à noite, ficar em pé, sonâmbulo, gritar “gol” e se deitar novamente.

O time do Santos era convidado, o tempo todo, a se exibir nos estádios do mundo, desde que Pelé estivesse em campo. Em dois desses jogos, um na Nigéria, outro no antigo Congo, os dois países estavam em guerra, a paz foi restabelecida para que todos pudessem ver o Rei jogar. Depois, a guerra continuou.   

Os Beatles também foram e ainda são fenômenos mundiais. Na Copa de 1966, na Inglaterra, John, Paul, George e Ringo queriam conhecer o camisa 10. Foram ao hotel da seleção brasileira, mas foram barrados. Pelé só ficou sabendo dessa história, quando morava em Nova York, através de John Lennon. Ambos frequentavam a mesma escola de idiomas, Pelé aprendia inglês, Lennon, japonês.  Resumindo, Pelé esnobou uma das maiores bandas de todos os tempos, que segundo ele, veto da CBF.

No jogo em Trinidade e Tobago, país caribenho envolto em manifestações civis e exército nas ruas, depois de Pelé fazer um gol no final da partida, o público invadiu o campo, colocou Pelé nos ombros, sem a concordância dele ou do Santos, saiu em desfile pelas ruas da cidade, como um troféu. Deu um trabalhão danado para resgatar Pelé. Felizmente, o susto só atrasou o voo.

Pelé participou de vários filmes. Um deles, “Fuga pela Vitória”, que conta a história de um jogo fictício entre um time nazista e uma equipe de prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial. Para os alemães, o jogo era uma propaganda nazista. Para os aliados, uma oportunidade de fuga programada para ocorrer no intervalo. A Alemanha venceu o primeiro tempo. Na hora de fugir, Pelé, inconformado, fala: "Se fugirmos agora perderemos mais que um jogo”. Voltaram e venceram com gol de Pelé, de bicicleta. O detalhe desse jogo era a participação de Sylvester Stallone, que atuou como goleiro e teve um dedo quebrado ao tentar defender um chute de Pelé. Stallone, no ano seguinte, ganharia as telas como o poderoso Rambo.

Poucas personalidades mundiais são tão conhecidas, amadas e endeusadas como Pelé, por isso, o exagero da mídia talvez ainda seja pequeno diante da magnitude dele. Pelé, eterno! Um exagero merecido.