Eu sei que o voto é secreto, que tem o sigilo garantido pela Constituição e é regulamentado pelo Código Eleitoral. É um direito, não uma obrigação. Há pelo menos vinte anos, abro publicamente o meu voto. Por que eu faço isso?
Lamentavelmente, a maioria dos eleitores brasileiros supervaloriza os cargos executivos em detrimento aos legislativos. Não há dúvida, esse é um grave erro para a evolução política de uma nação. Pesquisa recente destacou que mais de 60% dos eleitores dizem que não se lembram dos nomes votados para os cargos legislativos (Assembleia, Câmara e Senado) em 2018, mostrando que, passada as eleições, a maioria não se preocupa com o que acontece nas casas legislativas. É o chamado voto não comprometido ou equivocado. É claro que não tem o menor cabimento voltarmos nossos olhos, o tempo todo, para os nossos legisladores, mas não podemos deixá-los “a la vonté”, soltos como uma gazela, ou, para ser mais preciso, como vira-latas cuidando da nossa linguiça.
É através do poder legislativo que as leis que afetam o nosso dia a dia são construídas ou reparadas. É onde a fiscalização das ações do executivo, quando necessárias, podem ser mais rapidamente investigadas. Como se essas duas prerrogativas não bastassem, o legislador é responsável, por exemplo, pela aprovação dos nomes para os tribunais (Contas, TJ, STF etc.) e, diante de fortes evidências, aprovar o impedimento do governador ou presidente. Quero dizer, parafraseando um antigo comercial de TV: “não basta votar, tem que acompanhar”.
Ao declarar meu voto, não o faço para influenciar quem quer que seja, pois entendo que a escolha deve ser estritamente pessoal e consciente. Tento com este gesto mostrar que vale a pena estudar os possíveis escolhidos para que eles estejam mais próximos da nossa visão de mundo. Se eu quero que os candidatos que escolho me representem e se comportem de forma aproximada do meu comportamento cotidiano, não posso votar de qualquer jeito, como se a minha decisão não refletisse na vida da população em geral.
Só poderei me orgulhar (ou me arrepender) se os meus votos foram pensados e justificados para a minha consciência. É assim que exercemos a nossa cidadania com plenitude. Não existe ouro caminho para conquistarmos o Brasil dos nossos sonhos. Não esperemos pelos salvadores da pátria que de vez em quando aparecem. Depende de nós. Por isso:
Para deputado estadual votarei em Barros Munhoz pensando na minha cidade. A lista de candidatos ao cargo deve apresentar outros nomes merecedores, mas nenhum deles reunirá todos esses atributos: ser inquieto quando o assunto é Itapira; ser incansável quando trabalha para conquistar benefícios para o nosso município; ter prestígio e força política para alcançar os pleitos que nos interessam. Só Munhoz tem história por testemunha.
Para a Câmara Federal votarei em Marina Silva pensando no Meio Ambiente. É mais do que reconhecido que nos últimos anos o Brasil retrocedeu nos cuidados ambientais com desmatamento crescente, liberações impensadas de agrotóxicos prejudiciais à saúde e afrouxamento na legislação e fiscalização. Para recuperar o tempo perdido, entendo que o nome de Marina é muito forte, tem voz para ser ouvida pelos demais deputados federais, pelos brasileiros e pelo mundo afora.
Para o Senado votarei em Marcio França pensando na necessária experiência e capacidade de articulação legislativa. Marcio foi vereador, prefeito, deputado federal, vice-governador e governador de São Paulo e é reconhecidamente um exímio articulador político, além de uma consistente visão social. Ele saberá cumprir o cargo com maestria.
Para o executivo, parto do princípio que nenhum governo é 100% certo, nem 100% errado, deve sempre ser avaliado pelo conjunto da obra, desde que tenha visão social suficiente para melhorar as condições de vida da população, sem abrir mão do desenvolvimento econômico sustentável.
Para governador votarei em Haddad pensando na necessidade da alternância de poder no governo estadual. Vejo em Haddad todos os pré-requisitos necessários. Também não gostaria de contribuir para que se estabeleça em São Paulo a mesma linha divisionista com indiferença social implantada pelo atual presidente da república. Quero um governador disposto a governar para todos, principalmente para os mais pobres.
Para presidente votarei em Lula pensando no futuro do meu país. Lula é o único candidato capaz de derrotar o presidente Bolsonaro e suas tresloucadas atitudes e decisões. É preciso restabelecer a paz; o retorno saudável da discussão política; afastar o sentimento de ódio constante como ferramenta de persuasão; salvar as nossas florestas; extirpar o incentivo amalucado ao armamento doméstico e miliciano; retomar a imagem do Brasil junto às nações estrangeiras; entre tantos outros desacertos que não contam com a minha concordância.
Ao declarar o meu voto, dou transparência ao meu pensamento político, ou seja, me permite conversar com as pessoas, elas sabendo das minhas preferências. Para mim, a discussão saudável é sempre bem-vinda e promissora, não excluo e nunca excluirei ninguém que tenha preferências diferentes das minhas. É respeito à diversidade cognitiva da sociedade em que vivo.
Sou defensor ferrenho do Estado de Direito. Só a democracia pode resolver os problemas de um país de forma consistente. Por exemplo, com ela, a corrupção pode ser combatida com a imprensa cumprindo seu papel, com polícia investigando, com o ministério público denunciando e a com a justiça julgando e condenando. Num governo autocrático, a corrupção não é combatida: a imprensa é desqualificada ou silenciada, a polícia controlada, o ministério público amordaçado e a justiça não tem o que fazer.
Quaisquer que sejam as nossas escolhas eleitorais, elas serão sempre uma expectativa de futuro que poderão ou não ser confirmadas, é exercício cidadão, faz parte do aprendizado. Não posso predizer que todos os meus votos serão vitoriosos, mas posso dizer que eles foram muito bem pensados, logo, não serão esquecidos.