Desde os últimos dias do
pontificado de Francisco, tenho observado expectativas crescentes em relação ao
novo Papa que o sucederá. A polarização política, característica de grupos
minoritários tanto da direita quanto da esquerda, não reflete o espírito do
mundo católico nem a maioria da população de seus respectivos países. Esses
grupos parecem se sentir no direito de influenciar politicamente a escolha,
como se a Igreja estivesse reatando laços da idade média ou do século XXII. Tal
comportamento parece buscar um apoio divino, ou ao menos da Igreja Católica,
para suas agendas políticas.
Ao longo de quase cinco mil anos,
governos e religiosidade popular caminharam lado a lado. Contudo, essa união se
desgastou diante da emergência de sociedades multiculturais, conflitos
religiosos e fluxos migratórios. A neutralidade estatal tornou-se um valor cada
vez mais importante. Avanços científicos, o desenvolvimento do pensamento
crítico e as falhas históricas das teocracias — incluindo alianças com elites
poderosas, perseguições e a prática da venda de indulgências — contribuíram
significativamente para a redução da influência das igrejas no poder secular. Embora
ainda existam exceções, a tendência global aponta para Estados neutros, que
asseguram a liberdade religiosa. A história, em sua marcha inexorável,
raramente retrocede.
Nenhuma instituição na Terra
acumulou tantas experiências, viveu tantos momentos históricos, enfrentou
tantos excessos e aprendeu com tantos erros quanto a Igreja Católica. Com um
acervo documental vasto e sistematicamente estudado, é possível afirmar que a
Santa Madre Igreja reúne um número impressionante de intelectuais dedicados,
todos focados em seus propósitos e na missão de refletir sobre os rumos da fé e
da humanidade.
No espectro interno da Igreja, os conservadores católicos se
ancoram na tradição, comprometidos com a preservação dos ensinamentos e
doutrinas centenários, orientados por uma missão espiritual e pastoral que
enfatiza a caridade e a transmissão da fé, com base sólida na Bíblia e nos
pronunciamentos papais e conciliares.
Por outro lado, os progressistas católicos encontram
inspiração no Concílio Vaticano II e em documentos pontifícios recentes, como a
Laudato Si', que aborda a ecologia social, e na defesa enfática dos pobres.
Eles se engajam na promoção de políticas públicas redistributivas, são
receptivos ao ecumenismo e ao diálogo inter-religioso, e buscam reformas
sociais que estejam em consonância com os valores evangélicos.
A Igreja Católica, com sua estrutura hierárquica e
informativa, está atenta ao que ocorre em suas diversas dioceses ao redor do
mundo. Essa capacidade de monitoramento é essencial, especialmente após ter
enfrentado a perda de fiéis para denominações evangélicas e para o fenômeno dos
desigrejados, o que a torna mais cautelosa em suas decisões.
Em conclusão, a eleição do Papa Leão XIV não se deu para
satisfazer exclusivamente as alas progressistas ou conservadoras, mas sim para
assegurar a continuidade e relevância da Igreja Católica na contemporaneidade.
O desafio é conciliar as demandas de renovação com a preservação dos valores
fundamentais, equilibrando-se entre a necessidade de mudança e a manutenção da
identidade que define a Igreja ao longo dos séculos.
Os agostinianos, como o novo Papa, são conhecidos por buscar
a verdade interior, unindo a razão e a fé, vivendo em comunhão fraterna e
servindo aos outros com caridade tanto intelectual quanto prática.