domingo, 25 de fevereiro de 2024

Celular: Aliado ou Vilão?

Ao observar a diversidade da população global, considero que existem basicamente três grupos sociais distintos em relação aos telefones celulares: aqueles que não possuem recursos financeiros para adquirir ou manter o aparelho; os que residem em áreas remotas desprovidas de cobertura; e os que evitam o celular como se fosse algo a ser temido. Na minha perspectiva, nos dois primeiros grupos, uma vez superadas as barreiras, a adesão será instantânea. Quanto aos resistentes, a missão de dissuadi-los é uma questão de tempo.

Os celulares penetraram rapidamente em nossas vidas e ocuparam prontamente um lugar central. Com eles, capturamos fotos, gravamos vídeos, definimos alarmes, jogamos, trocamos mensagens, agendamos compromissos, exploramos redes sociais, navegamos na internet, consultamos mapas de qualquer região do mundo, confiamos em orientações de trânsito, participamos de aulas, realizamos reuniões profissionais ou familiares, e até iluminamos ambientes escuros com suas lanternas. A lista é interminável, sem mencionar os inúmeros aplicativos disponíveis para todos os gostos. Ah, quase esqueci, também é utilizado como telefone.

Curiosamente, apesar das inúmeras comodidades oferecidas, a tecnologia celular não escapa às críticas. Desde as mais leves, como a disponibilidade constante, até as mais graves, como o uso abusivo associado a transtornos de ansiedade, depressão e nomofobia (medo de ficar sem o celular), o dispositivo enfrenta críticas. Além disso, golpes virtuais, invasões de privacidade, disseminação de notícias falsas, cyberbullying afetando a saúde mental dos adolescentes, fofocas cibernéticas prejudicando a reputação e até mesmo a vida das pessoas, somam-se à lista negra dos celulares. Será que o celular é amigo ou inimigo?

De fato, esse pequeno dispositivo, repleto de ferramentas úteis para o nosso cotidiano, gera simultaneamente alegrias e tristezas. Pode-se afirmar que as alegrias superam as tristezas, não é mesmo? Para a humanidade, desafios desse tipo não são novidade. Desde as inovações iniciais, como a domesticação do fogo para cozinhar alimentos e se proteger do frio, até a invenção da imprensa, que abriu as portas para o conhecimento, e os computadores, que revolucionaram o mundo, a adaptação da humanidade sempre demandou tempo. O celular é ainda uma inovação em fase de ajustes.

Recentemente, em um supermercado da cidade, enquanto eu estava no estacionamento dentro do meu carro, observei uma pessoa sentada sozinha à mesa, segurando o celular. Ao iniciar uma conversa, deixou de estar sozinha, e seu rosto expressava claramente satisfação. Perguntei a mim mesmo: estaria ela contente com o aparelho ou por estar interagindo com alguém querido? Trocaria ela aquela conversa virtual por um encontro presencial? Refleti que, se as interações virtuais fossem suficientes, não sentiria a necessidade de trocar o conforto de casa por uma mesa com quatro cadeiras, três delas vazias.


Apesar de a tecnologia oferecer um vasto leque de opções, o relacionamento humano permanece atemporal. Nada substitui uma conversa olho no olho. O sabor é único. Nada substitui um encontro entre amigos. A alegria é incomparável. Nada substitui um jantar em família. A conexão é especial. O celular não é um vilão; somos nós que muitas vezes o valorizamos excessivamente como uma máquina. Contudo, isso também passará!

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2024

De eleição em eleição, o eleitor muda o papo!

Em 6 de outubro, teremos a responsabilidade de eleger o próximo prefeito para governar Itapira e formar a câmara municipal que legislará de 2025 a 2028. As circunstâncias indicam uma campanha que exigirá dos candidatos o entendimento do novo perfil do eleitor em desenvolvimento. Optar por estratégias antigas ou pela mesmice poderá não ser uma decisão sábia.

É sabido que o eleitor aprimora suas escolhas ao longo do tempo, progredindo a cada eleição. A evolução não acontece instantaneamente. Ao compararmos o tempo de experiência democrática contínua, observamos que a Inglaterra respira esse ar há 335 anos; os Estados Unidos, 237; a França, 235; a Alemanha, 75; e o Brasil, modestos 35 anos. A falta de prática talvez explique nossas eventuais más escolhas.

Nos últimos dez anos, o Brasil passou por experiências peculiares: as manifestações de 2013 que marcaram o início das mudanças políticas, lava jato, impeachment, petrolão, ascensão da direita radical, eleição e governo Bolsonaro. Lula foi condenado, preso, solto, recuperou seus direitos políticos e foi eleito pela terceira vez, intensificando a polarização e culminando no fenômeno chamado de calcificação*.

A política tornou-se o foco principal das conversas, causando divisões. Diferentemente do passado, as rixas persistiram fora do período eleitoral, elevando o nosso nível de politização. Não somos mais os mesmos eleitores de 2018, 2020, nem de 2022.

No âmbito municipal, especialmente em municípios com menos de 100 mil habitantes, a preocupação com o cuidado da cidade e dos moradores continua prevalente, mas neste pleito, espera-se um nível de exigência ainda maior. Além das prioridades como saúde, segurança, educação, limpeza pública, habitação e transporte coletivo, o meio ambiente ganhará destaque devido às recentes ondas de calor, sendo necessário, por exemplo, aumentar a quantidade de árvores na cidade. Temas relacionados a costumes, crenças, valores familiares e sociais poderão integrar as preocupações do eleitorado. Ou seja, o candidato a prefeito não ditará mais a pauta da eleição como sempre acontecia e precisará estar preparado para qualquer desafio. Com a rapidez e abrangência das redes sociais, as preocupações do candidato aumentarão, pois uma palavra mal colocada, um gesto inadequado ou uma fake News poderão prejudicar significativamente uma candidatura bem-posicionada.

Os indícios indicam que estamos pertos do ponto de inflexão do ciclo democrático. Os desígnios da elite política perderão espaço para as reais aspirações da maioria da população. É possível que vislumbremos mudanças paulatinas já a partir do próximo ano em relação aos eleitos, como o de deixar de ser meros expectadores/torcedores para assumir a cidadania de fato e de direito. Que assim seja! A democracia é o único regime que nos permite esperançar. A esperança de um país e de uma cidade cada vez melhor.


* A calcificação transcende a mera polarização, manifestando-se no endurecimento das posturas políticas, na diminuição da tolerância à divergência e na dificuldade de diálogo entre diferentes grupos políticos. Esse fenômeno é impulsionado pela fragmentação do espectro político, pela radicalização das elites e pelo emprego das redes sociais para disseminar informações falsas e desinformação.


sábado, 3 de fevereiro de 2024

Entender o mundo. Questão de inteligência?

 



Atualmente, observamos manifestações de atitudes preconceituosas, racistas, homofóbicas e discursos de ódio nas ruas e, especialmente, nas redes sociais. Essas posturas também refletem confusões entre escolhas políticas e relações familiares e de amizade, remetendo-nos de volta há pelo menos seis séculos.

Nada ocorre por acaso neste mundo, e as ações humanas, cedo ou tarde, serão esclarecidas. Dois estudos, um iniciado há doze anos pela Universidade de Ontario, no Canadá (publicado na revista Psychological Science), e o outro, conduzido em 2018 pela Universidade de Queensland, na Austrália (publicado na revista Intelligence), convergiram ao apontar que adultos com baixo QI ou dificuldades cognitivas tendem a adotar atitudes conservadoras e preconceituosas. Os dados indicaram que indivíduos com menor inteligência são atraídos por ideologias conservadoras, pois estas demandam menos esforço intelectual, proporcionando estruturas ordenadas que conferem maior conforto.

A conclusão é logicamente fria. Quanto menor o nível de inteligência de uma pessoa, maior a dificuldade que ela enfrenta para compreender aqueles que pensam ou agem de maneira diferente, assim como para entender as mudanças no mundo e aceitar as vicissitudes da vida. Esses comportamentos podem levar a um sofrimento quase constante, o que justifica a importância de expressar solidariedade a essas pessoas, mesmo que não concordemos necessariamente com suas visões.

É crucial notar que, nos estudos que relacionam inteligência, não se deve confundir com falta ou deficiência de escolaridade, tampouco com o sucesso profissional. Uma pessoa pode ter doutorado em qualquer área, ser um profissional exemplar ou um empresário de sucesso, sem necessariamente possuir a inteligência necessária para compreender plenamente o mundo ao seu redor.

Apesar das conclusões, é essencial evitar generalizações. O resultado não implica que todos os liberais sejam brilhantes e que todos os conservadores sejam estúpidos. A pesquisa se baseia em estudos de médias de grandes grupos, e os cientistas ressaltam que a tendência ocorre independentemente da educação e da condição econômica dos participantes.