sábado, 11 de abril de 2020

Celebremos a liberdade!


Sabe aquela dor de dente que faz tempo que não nos incomoda e resolve dar o ar da graça? Aquele dente que sempre esteve na nossa boca e cumpria sua função de forma ordeira e pacífica, era como se não existisse. Bastava doer para receber atenção prioritária.


A liberdade, essa que nos permite ir e vir; essa que nos garante a livre expressão; essa que nos dá o poder de decidir, de escolher; essa que nos leva a seguir ou a desrespeitar leis e regras; essa que nos estimula a fazer o bem ou o mal; é mais ou menos como aquele dente que não doía.

Vivemos em um país democrático. Plenamente, não! Mas não podemos nos queixar. Nos últimos trinta anos, a liberdade nos abraça ao ponto de nem percebermos a sua extensão. Ela é quase imperceptível, sempre presente, só incomoda os transgressores quando são pegos com a boca na botija ao desrespeitarem as leis e as regras. O que eu quero dizer é que a liberdade no Brasil está tão encarnada nas nossas vidas, que nem percebemos a sua amplitude. Viver com liberdade passou a ser normal.

Desde meados do mês de março deste ano estamos com a nossa liberdade machucada. Deixamos de fazer o que sempre fizemos quando tínhamos vontade (saúde, tempo e dinheiro); muitos estão confinados em suas próprias casas; outros estão circulando exclusivamente para trabalhar ou para suprir suas necessidades básicas; uns proibidos de vender seus produtos ou serviços; todos impedidos de frequentar bares, restaurantes, shoppings etc.; com orientação sanitária para que evitemos os apertos de mãos, os abraços e os beijos. A maior punição para quem transgredir? Contagiar ou ser contagiado com o novo coronavírus.

Aquela liberdade ampla, geral e irrestrita deixou de ser ampla, geral e irrestrita. Estamos descobrindo, às duras penas, o quanto é importante gozar a liberdade que estávamos acostumados. Voltando à metáfora do dente que passou a doer, vale a pena registrar que acabar rapidamente com uma dor de dente basta tomar um analgésico e procurar um dentista, decisão depende exclusivamente pessoal. Reconquistar a liberdade é mais difícil, depende de todos e pode demorar meses ou décadas.

A Páscoa é a celebração da liberdade. Feliz Páscoa!


domingo, 5 de abril de 2020

Existe algo de bom depois do fim da pandemia?

O mundo não queria passar novamente por uma pandemia. Mas eis que um novo vírus, da família Coronaviridae, chegou abelhudo, intrometido e desconsentido para tirar a nossa vida do prumo; para mexer na nossa zona de conforto; para comprometer a economia individual, familiar, nacional e mundial; para adoecer e matar muita gente. Será que esse novo coronavírus deixará apenas destruição e tragédia? Eu acho que não!

Não será a primeira vez e nem a última que a humanidade, entre ricos e pobres, enfrenta com a vida um único inimigo. Noutras vezes, passada a tempestade, a casa foi colocada em ordem, providências foram tomadas para amenizar ataques similares futuros, o comportamento social foi mudado e evoluímos. 

Alguns pontos desse momento que poderão impactar o futuro da humanidade:

As cidades mais populosas do mundo estão respirando melhor com a redução significativa da poluição do ar. Os moradores apresentam menos problemas respiratórios. O aquecimento global deu uma trégua. Será que essa experiencia não nos levará a valorizar os cuidados para com o meio ambiente? Eu acho que sim!

Os acidentes de trânsito diminuíram sensivelmente. Sofrimentos e vidas foram poupados. Será que essa experiencia não nos fará respeitar mais as leis que regulam a circulação de veículos? Eu acho que sim!

Quem fica em casa, na prática não foge do próprio contagio, evita transmitir o vírus para os mais vulneráveis. É um passo coletivo de preocupação com o outro. Será que essa experiência não nos fará entender que a nossa vida com saúde depende da vida com saúde das outras pessoas também? Eu acho que sim!

Quem se mobiliza para afastar a fome e outras necessidades alheias desperta, com intensidade, aquele sentimento solidário que nem sempre dá as caras. Será que essa experiência não nos fará acreditar que a desigualdade social é um mal que precisa ser combatido? Eu acho que sim!

Ao priorizar os conhecimentos da ciência, em detrimento a qualquer discurso político ou de achismo irresponsável, atestamos aos estudos científicos, aos professores e à educação desde a mais tenra idade o título de prioridade máxima. Será que essa experiência não nos fará entender que ciência, política e religião não se misturam e nem precisam ser misturadas? Eu acho que sim!

Ao se informar através dos meios tradicionais, lastreados em jornalismo competente e responsável, aprendemos que nenhum país pode prescindir da imprensa livre. Será que essa experiência não nos fará ser mais seletivos na hora de buscar as informações que tanto precisamos? Eu acho que sim!

Ao perceber que na hora do aperto o que vale é a união de todos, percebemos que não devemos dar crédito aos que miram a divisão, descobrimos que apoiar ou não um governo é sempre uma posição particular e entendemos que uma cidade ou um país jamais superará seus problemas com a falta de conjunção de todos. Será que essa experiência não nos fará entender de uma vez por todas que ninguém está o tempo todo 100% certo, nem 100% errado? Eu acho que sim! 

Esse novo coronavírus nos trará muitas tristezas, diretas e indiretas, mas começo a acreditar que quando essa tempestade passar, a humanidade entrará em mais uma fase. Como nas outras vezes, para um mundo melhor. Apostar no quanto pior melhor, é um blefe que pode dar certo.